História esquecida

148 anos de história no chão: antiga estação de bondes foi destruída

Prédio, que sediou o Hortomercado do Monte Castelo por mais de 30 anos, e em 1871 a Estação da Companhia Ferro-Carril, onde ficavam os bondes que eram movidos por tração animal, hoje dá espaço ao lixo e à falta de segurança

Emmanuel Menezes / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

[e-s001]Mais de 148 anos de história se transformaram em um terreno vazio e perigoso. Na Avenida Getúlio Vargas, esquina com a Rua Sílvio Romero, no Monte Castelo, o espaço em que era edificado o antigo prédio da Cobal (Hortomercado), demolido há mais de um ano, se mantém esquecido pelas autoridades.

Quem transita pelas imediações reclama da falta de infraestrutura do terreno. Muito matagal e lixo são encontrados no local, impossibilitando a passagem de pedestres em parte do calçamento da Rua Sílvio Romero. São mais de 4 mil m² de área sem uso, tornando o ambiente propício para a ação de assaltantes.

Segundo Carlos Albino, que é vendedor ambulante e tem uma barraca montada próximo à parada de ônibus que fica na calçada do terreno, todos os dias acontecem assaltos naquela região. “O horário de meio dia é o pico. Digo que, pelo menos, uma vez por dia alguém é roubado aqui nessa área, e a falta de ocupação nesse local facilita a saída dos assaltantes”, diz.

Quem é obrigado a passar pelo local todos os dias reforça a apreensão sentida ao passar pelo terreno. Marta dos Santos, estudante que mora nas proximidades da antiga Cobal, conta que nenhuma ação policial é vista no local há anos. “É de conhecimento público que essa região é perigosa e que todos os dias pessoas são assaltadas aqui, nessa parada. Mas nunca vi uma viatura parada aqui fazendo algum tipo de prevenção”, expõe.

Questionada a respeito dos trabalhos realizados no local, a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA), em nota, afirma que, por meio da Polícia Militar, viaturas realizam no local o policiamento com rondas. Além disso, motocicletas das equipes Raio e Tornado completam a segurança na região, efetuando rondas rotineiras. Diante das denúncias, a PM informa que vai intensificar as abordagens na localidade.

Impasse
O antigo prédio da Cobal (Hortomercado) foi demolido em 2017. Desde então, moradores da região se sentem enganados por não saberem qual será o verdadeiro aproveitamento dado ao espaço. Vale lembrar que antes da demolição do prédio seu estado era de deterioração, pela ação do tempo e de vândalos, além da invasão de usuários de drogas e moradores em situação de rua.

Eloi Bispo é dono de uma oficina mecânica localizada na Rua Iracema, que fica aos fundos do terreno.
Segundo o senhor, em seus 30 anos trabalhando no local, a região nunca foi tão mal aproveitada. “A Cobal mantinha essa região viva e movimentada. Apesar de ser periférica, o perigo aqui não era tão iminente. Hoje, todos os dias as autoridades contam que vão fazer algo diferente nesse espaço, mas a realidade é apenas o esquecimento”, desabafa.

[e-s001]Eloi diz que, logo antes do prédio ser demolido, o Governo falou que o espaço abrigaria uma nova Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Depois, foi informado à população que uma escola seria construída no local.
Questionamos a Secretaria de Estado de Cidades e Desenvolvimento Urbano (Secid) sobre possíveis obras no local. Segundo o órgão, por determinação do governador Flávio Dino, o governo construirá uma praça no local do antigo prédio do Hortomercado Cobal, que deve contar com arborização, academia ao ar livre, playground, iluminação, e adaptação para acessibilidade. A Secid informa, ainda, que no momento aguarda a abertura do orçamento de 2019 para alocação de dotação orçamentária e realização da licitação das obras.

PRÉDIO HISTÓRICO

O terreno não incorporava um simples prédio. Segundo pesquisas, em 1871 foi construído ali o prédio da Estação da Companhia Ferro-Carril, onde ficavam os bondes que eram movidos por tração animal. Eles partiam do Largo do Palácio ao Cutim, passando pela Rua da Estrela, pela Estação, por Remédios e pelo lugar chamado Francisco Abrantes. Hoje, pode-se afirmar que o percurso dos bondes ia da Praia Grande até o bairro do Anil.

Entretanto, depois de algum tempo, os serviços prestados pela empresa não foram suficientes para a população, que ficou insatisfeita, especialmente no que se tratava à pontualidade e regularidade dos veículos. A demanda estava cada dia maior e o número de bondes disponíveis não era suficiente. Apenas na década de 1920 os bondes elétricos começaram a funcionar, providos, majoritariamente, pela empresa estadunidense Ullen Company.

Esses também foram motivo de reclamações, graças à defasagem de lugares disponíveis na linha, em relação ao tamanho da população de São Luís. Em 1946, por meio do decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra, as operações da Ulen no Brasil foram encerradas, dando lugar, em 1947, ao Saeltpa (Serviços de Água, Esgoto, Luz, Tração e Prensa de Algodão), que manteve os bondes elétricos até o fim da década de 50. Vale ressaltar que o bairro do Monte Castelo era chamado de Areal até o ano de 1949 e teve sua denominação alterada em homenagem aos soldados brasileiros que lutaram na Itália durante a Segunda Guerra Mundial (Batalha de Monte Castello).

Na década de 1960, durante o governo de José Sarney, a empresa Fontec, contratada para organizar o trânsito da cidade, declarou que os bondes causavam transtornos no tráfego. A empresa proibiu o trânsito de bondes em boa parte da cidade, e logo todas as linhas foram desativadas. O último circulou em São Luís em 1966.
Antes de funcionar como Cobal, o prédio já foi usado como supermercado e depósito do Governo. Em sua inauguração, no ano de 1983, o prédio contava com 70 boxes para uso dos feirantes.

Na cidade do Rio de Janeiro, o prédio remanescente da Estação da Companhia Ferro-Carril hoje está tombado. Localizado na esquina da rua 2 de Dezembro com o Beco do Pinheiro, o prédio pode ser alugado para eventos. Ele foi projetado pelo arquiteto Francisco de Azevedo Monteiro Caminhoá, e encontrava-se em péssimo estado de conservação em 1987, quando foi reformado para abrigar a sede do Instituto de Arquitetos do Brasil.

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