Coluna do Sarney

A Casa das Tulhas

José Sarney

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

Já afirmei algumas vezes que, durante a Colônia e o Império, coube à classe comerciária do Maranhão, depois reunida na Associação Comercial, pensar nos problemas estruturais do Estado. Tivemos grandes homens, de sólida formação, educados na Europa, que, aqui chegando, se dedicaram à atividade mercantil. Para destacar o primeiro deles, cito João Gualberto da Costa, que idealizou a Comissão da Praça, matriz da Associação Comercial, fundou a Companhia Confiança Maranhense e construiu a Casa das Tulhas.

Ali era um terreno alagado, com vários casebres paupérrimos onde eram vendidos os gêneros chegados dos barcos que atracavam na praia vindos do interior. Eram cereais, frutas, aves, peixes secos, cachaça, tiquira, cofos, chapéus e tudo. O nome de Casas das Tulhas não era o único, pois Mestre Jerônimo Viveiros diz que aquele lugar também era conhecido como Curro e Terreiro Público.

O certo é que a atual e bela Praia Grande, hoje com seus deslumbrantes sobradões de azulejos, ficava cercada por uma orla de praia, onde, desordenadamente, eram construídos barracos para receber os gêneros que chegavam de barco. Era uma bagunça danada, com grande dificuldade de desembarque das mercadorias nas costas de escravos e catraieiros. Então, em 1799, um governador, dom Diogo de Sousa, teria dito, segundo Cezar Marques, “não haver cidade alguma mais necessitada de um terreiro público, para a guarda e venda dos gêneros que os lavradores colhiam, como São Luís”. E assim se resolveu organizar o lugar e construir local apropriado. Mas só em 1820 finalmente se ergueu o terreiro, com planta vinda de Lisboa e venda dos terrenos com obrigação dos compradores de edificar depósitos para os gêneros. A primeira referência a esse local de casebres está na Poranduba Maranhense, de Frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres; já no Dicionário Histórico, de Cezar Marques, aparecem como tulhas para armazenagem. Alguns anos depois essas casas foram abandonadas.

Em 1855, nova construção, a Casa da Praça, iniciativa da Comissão da Praça, foi autorizada a funcionar por decreto municipal. Até hoje está no portão principal o monograma da Companhia Confiança Maranhense, C M, e a data, 1861. É, assim, uma relíquia de São Luís. Ficou no lugar do antigo Terreiro ou Feira da Praia Grande.

Tudo isso para dizer que li que a Casa das Tulhas está pedindo socorro, em total abandono e ameaçada de destruição. Liguei para Kátia Bogéa, diretora do IPHAN, que está fazendo uma obra notável no Instituto, falando da notícia lida. Ela, que já vem restaurando São Luís - são trabalhos seus as obras de recuperação da Praça Deodoro, da Rua Grande, do Engenho Central, da Estação de Rosário, do Altar Mor da Sé, do Museu de Arte Sacra, entre outros (com recursos exclusivamente federais, sem Prefeitura, nem Governo do Estado) -, tem sido uma grande benfeitora da nossa cidade, que lhe deve uma contribuição inestimável. Kátia é uma referência nacional de gestora pública, destaque para a recuperação da maravilha da Sé-Catedral de Salvador, Bahia, onde Vieira teve o “estalo”, da Basílica de Congonhas do Campo, em Minas Gerais, do Forte Orange, no Recife, entre tantas outras obras no Brasil inteiro.

Como sabe tudo da cidade de São Luís, sabia tudo da Casa das Tulhas e prometeu socorrê-la. É o que a Praia Grande precisa e merece.

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