POLUIÇÃO

Mau cheiro na ETE Vinhais gera reclamações no bairro

Odor tem interferido na qualidade de vida dos moradores; resíduos tratados na estação são os mesmos despejados nas praias; ETE-Vinhais funciona abaixo da capacidade

IGOR LINHARES / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

Moradores da área do Vinhais Velho, residentes no entorno da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) instalada na região, reclamam de mau cheiro proveniente dos resíduos que são recolhidos ao centro especializado no tratamento e destinação final correta destes no meio ambiente. Eles alegam que o tratamento não está sendo feito de forma correta, a considerar o odor com que é despejado no Rio Anil – que desemboca na orla da Ilha - e a química utilizada, que extinguiu espécies de crustáceos e moluscos que enriqueciam a área de manguezal e contribuíam para a sobrevivência econômica de quem retirava daquele ambiente o sustento da família.

Degradação ambiental e prejuízos à qualidade da vida humana. É o que denunciam os moradores e constatou O Estado ao visitar, na manhã de ontem (28), a área do Vinhais Velho, às margens da Via Expressa, logradouro onde está localizada uma das ETEs distribuídas pela Grande São Luís e que foram criadas tão somente para garantir o mínimo ou nenhuma poluição da água, do ar, ou qualquer outra, mas que, de forma discrepante, não correspondem à realidade de quem tem tido que respirar o pior dos ares e teve que se virar para ganhar a vida de outra forma que não catando caranguejos ou sururu – como foi em um passado nem tão distante.

“O odor é insuportável. Eu e os outros moradores pensamos até em pôr à venda as nossas casas, mas quem compraria uma casa com um odor desse aqui? Ninguém iria querer”, alegou a diarista Sandra da Silva, que disse, entretanto, que os moradores fizeram um abaixo-assinado para solucionar o problema, mas não foi suficiente.

“Os moradores se juntaram e fizeram um abaixo-assinado, e eu fui uma das que assinou. Eles [os funcionários da ETE – Vinhais] fizeram uma plantação de eucalipto [ao entorno] para evitar, de alguma forma, o mau cheiro, mas não resolveu. O maior prejudicado foi o mangue. O pessoal pegava caranguejo e sururu, mas acabou tudo”, disse ela.

Descaso
No depoimento da diarista Sandra da Silva, se apoiam todos os outros moradores que enfrentam o mesmo problema e se veem – e se sentem – de mãos e pés atados, sem ter o que fazer e nem para onde correr, pois a problemática em si já não é o suficiente para que o poder público estadual se sensibilize e se sinta obrigado a intervir diante da situação, que não é só de quem reside ao bairro, mas de quem mora na capital e tem evitado, nos últimos anos, frequentar as praias da cidade pela balneabilidade que mostra, periodicamente, o agravamento da situação, que reflete a incapacidade de fazer um tratamento adequado dos esgotos e o consequente despejo de volta à natureza, que, segundo os moradores e quem mais sofre com a situação, tem sido de forma in natura.

Pesadelo
“Eles, da ETE, dizem que o despejo aqui não tem sido prejudicial para ninguém e nem para a natureza, mas se tem mau cheiro é porque não está sendo tratado como deveria”, disse a dona de casa Alice Lima da Costa, de 46 anos, que reside na localidade desde que não havia ainda a estação de tratamento no local.

“Quando eu mudei para cá, pensei que ia viver tranquila. A natureza era próxima, eu via a água da maré limpa, e os outros moradores até tomavam banho, mas agora a realidade é essa, ambiente com mau cheiro, pela manhã, principalmente”, finalizou a dona de casa. “Eu não tenho coragem de ir em uma praia dessas, como a Ponta d’Areia, São Marcos e Calhau, porque eu vejo aqui e sei como que é feito o despejo do esgoto que dizem estar tratado”.

Impacto ambiental
Os laudos de balneabilidade das praias divulgados mensalmente pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) apontam, cada vez mais, a impropriedade de determinados pontos onde são colhidas amostras para análise – laudos estes que são variantes. O último relatório divulgado no dia 23 deste mês, apresentou todos os pontos das praias da Ponta d’Areia e Calhau impróprios para banho, e, na Praia de São Marcos, apenas um estava impróprio – situação positiva se comparada ao mesmo período do mês de junho, quando apenas um estava próprio e, portanto, todos os outros quatro estavam impróprios – no total, cinco pontos, na Praia de São Marcos, são analisados.

Como dito, são resultados que variam periodicamente, e que não demonstram, em suma, um resultado que satisfaça a população de São Luís e demonstre que, assim como anos atrás, o problema está controlado e que o Estado está quites com o ecossistema.

O manguezal
Na perspectiva real de que toda ação gera uma reação, assim se mostra a agressão sofrida, diariamente, pela área de mangue onde desembocam os resíduos do esgoto tratado pela ETE – Vinhais, que extinguiu espécies e destruiu a atividade pesqueira que se desenvolvia no local.

O acúmulo de uma espuma, que a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) reiterou que trata-se de resíduos provenientes do uso doméstico de detergentes, não representando contaminação por microorganismos, toma conta das raízes das mangueiras e outras espécies frutíferas. Jazem, também, os peixes, os caranguejos, sururus, jacarés e até os pássaros, pois não há perspectiva de vida para um ambiente corriqueiramente degradado por quem devia lutar por sua conservação.

O outro lado
Por meio de nota, a Caema informou que a estação de tratamento “está funcionando com sua capacidade operacional reduzida a 160 litros por segundo”, quando, na data de entrega da ETE – Vinhais, o Governo do Maranhão informou que sua capacidade de tratamento seria de 1.200 litros por segundo, tendo afirmado, à época, em agosto de 2016, que, em sua fase inicial, operaria com capacidade para tratar 700 litros por segundo, o que parece ainda não ter sido viável, embora tivesse frisado que com a inauguração da ETE – Vinhais seria elevado de 4% para 40% o índice de tratamento de esgoto da capital maranhense, uma realidade que foge a qualquer intenção que se tenha tido há dois anos, quando foi entregue à população.

Sobre isso, informou que se deve ao fato de que “diversos bairros ainda estão em obras de interligação de rede de esgoto com a Estação de Tratamento”. Sobre o mau cheiro denunciado pelos prejudicados, ainda em nota a Caema disse que tem adotado todos os procedimentos necessários para, apontados no projeto, para controlar e diminuir os efeitos normais do odor de esgoto, ocasionados pela queima o gás gerado durante o processo de tratamento. Além de ter informado que os procedimentos são acompanhados por equipe técnica que está à disposição, como já ocorrido em outras oportunidades, para ouvir a população, buscando de forma conjunta discutir melhorias para a questão e disse que todo o volume recebido é tratado.

SAIBA MAIS

Água poluída

As bactérias coliformes são os principais indicativos de contaminação das praias. A ingestão da água poluída pode provocar diversas infecções, principalmente do trato digestivo, chamadas gastrenterites. A gastrenterite pode ser causada por bactérias, protozoários, como as amebas, ou vírus, como o rotavírus e o norovírus. Esses micro-organismos entram no corpo quando a pessoa ingere água contaminada, ainda que em pequenas quantidades, ou alimentos que tiveram contato com ela. De maneira geral, os sintomas são vômito e diarreia, mas também pode haver cólicas, febre e sangue nas fezes. Outra doença que pode ser contraída é a hepatite A.

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