Por conta própria

Sem assistência pública, pessoas tratam animais infectados

Além de grupos de ajuda mantidos por voluntários, “anjos da guarda” se solidarizam com a saúde veterinária, resgatam os animais e cuidam deles

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30
Cachorra teve ferida no focinho que não cicatrizava e foi diagnosticada com calazar em São Luís
Cachorra teve ferida no focinho que não cicatrizava e foi diagnosticada com calazar em São Luís

SÃO LUÍS - A falta de assistência aos animais, no caso da leishmaniose canina, o popular calazar, por parte do poder público, obriga voluntários e pessoas que amam os cães e gatos a bancar do próprio bolso o tratamento aos infectados. Além de grupos de ajuda mantidos por voluntários, “anjos da guarda” se solidarizam com a saúde veterinária, resgatam os animais e cuidam deles como se fossem os seus filhos.

O exemplo desse amor e afeto é a protetora independente Leilane Pacheco, que há alguns anos concilia as atividades de trabalho com os cuidados com cães com sintomas do calazar. Ela conta com orgulho que, em julho de 2015, resgatou Tupico, um belo cão que estava condenado à doença. Com amor, carinho e, principalmente, tratamento à base de medicações, segundo ela, como Milteforan e Alopurinol (cujos valores superam a casa dos R$ 300 cada), o animal ganhou uma nova vida.

“Existem pessoas que, sabendo que o animal é positivo, dão fim à vida dele. O Tupico é o exemplo de que se pode lutar pela saúde pelo animal e não sair por aí matando. Tendo cuidados, o animal vive com calazar por muitos anos”, disse.

Ela conta que toda a ajuda dada a ela vem de amigos que a acompanham nas redes sociais. “Sempre que resgato, luto pela vida. Além das medicações, coloco coleiras de proteção contra os mosquitos e viabilizo, acompanhada por um veterinário, exames de seis em seis meses para saber o estado dos órgãos afetados pela doença”, frisou.

Outro caso
O contabilista Marcelo Carneiro também é um caso de cidadão que precisou recorrer a fontes pessoais para tratar o seu animal com diagnóstico confirmado de leishmaniose, uma pitbull de apenas 10 meses.

Em Pandora, apareceu uma ferida no focinho que não cicatrizava. Ele buscou atendimento veterinário, fez o teste rápido e veio o diagnóstico: calazar. Para confirmação, ele buscou a unidade de zoonose e fez o exame de sangue. Carneiro afirmou que a doença foi pego de surpresa pela doença, diante dos cuidados que tem com sua cadela.

“É muito triste essa situação. Ainda mais quando a gente tem todos o cuidados com o nosso animal, dando todas as vacinas e uma alimentação saudável. Esse é um problema que deve ser combatido com urgência porque, se não houver essa preocupação, só tende a aumentar. Pior é que pode se proliferar em humanos”,a firmou ele.

Abrindo o jogo - Renan Morais, veterinário e presidente da Anclivepa

Renan Nascimento Morais, médico veterinário e presidente da Anclivepa
Renan Nascimento Morais, médico veterinário e presidente da Anclivepa

“Precisamos mudar com urgência esta realidade ”

Para entender mais sobre o quadro da leishmaniose na capital maranhense e em determinados municípios no Maranhão, O Estado conversou com Renan Morais, médico veterinário e presidente da Associação de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa). Para ele, daqui a cinco anos, 90% do território da Ilha, por exemplo, estarão contaminados pela doença. Ele também repudia a prática da eutanásia dos animais infectados.

Por quais razões o senhor considera que a leishmaniose (calazar) se espalhará na cidade em um prazo de cinco anos?
Devido à falta de condições sociais da maior parte da população ludovicense, que vive por exemplo, em áreas sem as mínimas condições de saneamento básico. É de conhecimento até mesmo popular que os locais considerados mais sujos são propícios ao aparecimento da doen­ça. Portanto, com o cenário atual da cidade e tendo como base os últimos levantamentos dos órgãos epidemiológicos, faço essa estimativa.

Existem áreas consideradas na cidade mais “favoráveis” ao aparecimento da leishmaniose (calazar)?
Sim, sem dúvida. Posso elencar as áreas do Maracanã e Araçagi, além dos municípios de São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. Em outras cidades, as que mais preocupam neste aspecto são Ti­mon, Caxias e Bacabal.

Sobre a eutanásia, ainda vista como solução para o controle epidemiológico, por quais razões o senhor é contrário à medida?
Simplesmente pelo fato de que, tomar essa medida, é literalmente jogar a poeira debaixo do tapete, ou seja, ignorar completamente o problema. Não vejo sinceramente co­mo solução, pelo contrário. Até porque, nestes casos e dependendo da condição do animal, na maioria dos casos, a doença é reversível e o animal pode ter o protozoário controlado dentro de seu organismo.


Os sintomas da doença em seres humanos se diferenciam daqueles observados nos animais?
Não, neste caso costumam ser semelhantes. Ou seja, emagrecimento e despigmentação, além de lesões em especial no baço e no fígado.

Qual a sua opinião acerca do suporte dado pelo poder público aos animais infectados na cidade e no estado?
Não há qualquer ajuda, não há sequer uma contrapartida do Estado para as organizações que cuidam dos animais. Precisamos mu­dar com urgência esta realidade e contar com o apoio dos órgãos municipais e estaduais.

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