Coluna Vida Ciência

Outubro: mês do Nobel e da Semana de Ciência e Tecnologia

Nesta edição, a coluna Vida Ciência aborda o reconhecimento ao trabalho de cientistas de todo o mundo e o evento que movimenta todo o Brasil

Antonio José Silva Oliveira, doutor em Física Atômica e Molecular e professor da UFMA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35
Medalha do Premio Nobel
Medalha do Premio Nobel

SÃO LUÍS - Todos os anos, no mês de outubro, a imprensa nacional e internacional pauta em seus principais noticiários os ganhadores do Prêmio Nobel. É um conjunto de prêmios internacionais anuais, concedidos em várias categorias por comitês suecos e noruegueses em reconhecimento aos avanços culturais e/ou científicos. O prêmio veio da vontade do inventor sueco Alfred Nobel, descobridor da Dinamite, que os estabeleceu em 1895.

Os prêmios de Física, Química, Fisiologia ou Medicina, Literatura e Paz foram concedidos pela primeira vez em 1901. O de Ciências Econômicas, em Memória de Alfred Nobel, foi criado em 1968, financiado pelo Banco Central da Suécia. Entre 1901 e 2012, os prêmios Nobel foram laureados 555 vezes a 856 pessoas e organizações. O Prêmio Nobel é considerado como o mais prestigioso disponível nos campos da literatura, medicina, física, química e paz.

Este ano, houve bastante expectativa no anúncio, em especial o de Física, pelo fato de que, em fevereiro de 2016, o Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser (Laser Interferometer Gravitational - Wave Observatory - Ligo) ter registrado emissões detectáveis de ondas gravitacionais esperadas de sistemas binários (colisões de estrelas de nêutrons ou de buracos negros), supernovas de estrelas massivas, rotação de estrelas de nêutrons deformadas e remanescentes da radiação gravitacional criada no começo do Universo.

O Ligo é formado por dois interferômetros gigantes a laser, que permitem medições extremamente precisas das interferências de ondas que medem cerca de quatro quilômetros de comprimento e são separados por 3.000 quilômetros. Para localizar as ondas gravitacionais, esses aparatos utilizam as propriedades físicas da luz e do espaço. Um grupo internacional de 900 cientistas de cerca de 40 instituições trabalha analisando os dados do ligo.

Os cientistas Barry Barish, Kip Thorne, ambos professores do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), EUA, e Rainer Weiss do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), EUA, receberam o prêmio Nobel de Física de 2017 por contribuições decisivas na observação de ondas gravitacionais.

Laureados com o Nobel de Física de 2017
Laureados com o Nobel de Física de 2017

Na edição de 18 de maio deste ano, no artigo sobre Ondas Gravitacionais, a página Vida Ciência chamava atenção do público sobre a importância de sua detecção por meio do Ligo e o quanto este fato será importante para o desenvolvimento de algo extremamente novo e diferente, revelando uma nova Física de mundos invisíveis e uma riqueza de descobertas para aqueles que analisam e interpretam o conteúdo das ondas. Como exemplo de surgimento de ondas gravitacionais foi dado no artigo a simulação da evolução temporal de dois buracos negros de Schawarzchild em colisão e o contorno do espaço tempo no plano.

Simulação da evolução temporal de dois buracos de Schawarzchild em colisão
Simulação da evolução temporal de dois buracos de Schawarzchild em colisão
Contorno do espaço-tempo da evolução temporal de dois buracos de Schawarzchild em colisão
Contorno do espaço-tempo da evolução temporal de dois buracos de Schawarzchild em colisão

O Prêmio Nobel de Química foi para os cientistas Jacques Dubochet, Joachim Frank e Richard Henderson, por desenvolver a “criomicroscopia eletrônica para a determinação estrutural de alta resolução de biomoléculas em soluções”. O americano Richard H. Thaler foi laureado com o Prêmio Nobel de Economia, por suas pesquisas a respeito da economia comportamental. O Nobel de literatura foi para o escritor nipo-britânico Kazuo Ishiguro. É o autor do romance “Os vestígios do dia”. E por último a “Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares” (Ican, na sigla em inglês) ganhou o Prêmio Nobel da Paz 2017.

Semana

Não poderia deixar de falar nesta página sobre a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), que foi aberta no dia 23 e segue até o dia 29 deste mês em todo o país. Neste ano, o evento homenageia Joaquim Gomes de Souza, maranhense natural da cidade de Itapecuru, distante 80 km de São Luís, que desenvolveu estudos matemáticos que se tornaram referência no ensino e na pesquisa científica da área. A homenagem foi realizada pela Lei 13.358/2016, sancionada e publicada no Diário Oficial da União de 8 de novembro de 2016, instituindo o Biênio da Matemática Gomes de Souza. No âmbito estadual, o Biênio foi instituído pelo Decreto Lei 32.535, de 15 de dezembro de 2016.

O maranhense Joaquim Gomes de Souza nasceu em 15 de fevereiro de 1829 e era conhecido como “Souzinha”. Foi o primeiro doutor em Ciências Físicas e Matemáticas a conseguir título no Brasil, através da Escola Militar da Corte.

Gomes de Souza viajou para a Europa em 1854, residindo em Londres e mudando no ano seguinte para Paris, onde apresentou à Academia de Ciências três memórias originais: uma sobre a determinação de funções incógnitas sob o sinal de integral definida, a segunda sobre um teorema de cálculo integral e uma terceira sobre a teoria da propagação do som. Nesse mesmo ano, matriculou-se na Faculdade de Medicina de Paris, obtendo o grau de doutor em 1856. Antes de sua viagem, também foi parlamentar, tornando-se deputado imperial pelo Maranhão em 1850.

A sua tese mostra que ele conhecia a ciência de seu tempo, pois a descoberta de Netuno por Adams e Le Verrier, que após observar por alguns anos a órbita de Urano notaram que a mesma levava em consideração a influência gravitacional dos outros planetas, pois não seguia o previsto pela teoria da gravitação universal. Desta forma os dois cientistas por meio de cálculos de perturbações na órbita de Urano, utilizando métodos de equações lineares de ordem “n” proposta por Gomes de Souza e a Lei de Gravitação Universal, determinaram a posição de novo planeta denominado de Netuno. Abaixo, o conjunto de equações lineares proposto por Gomes de Souza

No Maranhão, as atividades da SNCT/2017 pela UFMA estão sendo coordenadas, em parte, pelo Laboratório de Divulgação Científica Ilha da Ciência, do Departamento de Física da Universidade Federal do Maranhão. O Laboratório vem realizando ações de popularização da ciência, com ênfase no reconhecimento dos estudos de Joaquim Gomes de Souza.

Podemos dizer que Gomes de Souza é um ícone dos estudos matemáticos. Não poderíamos realizar uma Semana pautando matemática sem citá-lo ou destacar a importância das suas contribuições para a Física e Matemática. Em tempos de hoje, o nosso Souzinha, com certeza seria um cientista de grande prestigio internacional, digno dos ganhadores de Prêmio Nobel de Ciência e/ou da Medalha Fields – esta última, oficialmente conhecida como Medalha Internacional de Descobrimentos Proeminentes em Matemática.

O Laboratório de Divulgação Científica Ilha da Ciência desenvolverá ações em torno do reconhecimento do Gomes de Souza como protagonista da pesquisa matemática. O planejamento das ações para a SNCT 2017 envolve o desenvolvimento de métodos e equipamentos para uma melhor compreensão e importância da matemática pela população, em especial aos jovens. Disponibilizará uma exposição de experimentos, distribuição de jogos matemáticos, sessões de vídeos sobre o sistema solar em um planetário e utilizando óculos rift, observação de astros, entre outras ações. O auge da SNCT 2017 acontece na cidade de Timon, tendo sido iniciado ontem, 25, e prosseguindo até o sábado, 28.

Semana Nacional de Ciência e Tecnologia - A matemática está em tudo
Semana Nacional de Ciência e Tecnologia - A matemática está em tudo

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.