Preocupante

Azulejos desaparecem com a falta de conservação de casarões em SL

Segundo o Iphan, alguns proprietários não fazem a devida manutenção do casario, e peças estão sumindo do revestimento de prédios históricos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35
Detalhe de fachada de casarão em que faltam azulejos no centro de SL
Detalhe de fachada de casarão em que faltam azulejos no centro de SL

SÃO LUÍS - O título de Cidade dos Azulejos, ostentado por São Luís, pode estar comprometido. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a falta de manutenção de muitos casarões pelos proprietários faz com que essas peças históricas estejam desaparecendo. Somado ao problema do descaso, há também o roubo do revestimento por pessoas que comercializam as peças como souvenirs.

De acordo com Rafael Pestana, coordenador técnico da Superintendência Regional do Iphan, o desaparecimento dos azulejos acontece, na maioria das vezes, devido à falta de conservação dos imóveis por seus donos. “Se os proprietários desses imóveis fizessem a manutenção constante, o que não é tão oneroso, esse tipo de problema seria muito menor em São Luís”, disse.

Hoje, são poucos os prédios que ainda mantêm em suas fachadas o revestimento completo da azulejaria portuguesa. Um passeio rápido pelo Centro Histórico comprova que essas peças estão sumindo das paredes. Imóveis localizados nas ruas Grande, de Santana, do Sol, dos Afogados, das Hortas, do Passeio, do Giz, do Egito, entre outras vias, que eram revestidos pelo conjunto de azulejos, hoje têm falhas na cobertura ou já estão com as fachadas totalmente nuas.

Rafael Pestana afirma que há fiscalização desses espaços por parte do Iphan. “Uma equipe faz constantemente visitas a esses prédios que são tombados pelo Governo Federal. Quando recebemos denúncias de mau uso ou de roubo de azulejos, encaminhamos para a Polícia Federal, que é responsável pela investigação desse tipo de crime”, relatou.

Preocupação
A situação é preocupante porque foram o casario e as fachadas que fizeram de São Luís a capital brasileira com maior número de casarões em estilo tradicional português e maior conjunto arquitetônico homogêneo da América Latina. Também contribuíram para que a cidade recebesse o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco, em 1997.

O desaparecimento dos azulejos dos prédios históricos de São Luís, juntamente com o abandono e depredação dos imóveis coloniais, é um problema antigo e cada vez mais se intensifica com a falta de ações para mudar essa realidade.

Dona Nailene Gomes, professora que leva constantemente estudantes para conhecer o Centro Histórico da capital, fala das consequência que esse descaso acarreta. “Eu acho que esse problema é prejudicial para a nossa cultura, nossa história, e isso fará com que nossas crianças e jovens, que vêm conhecer e não encontrem boa parte do nosso passado”, disse.

Sobre a atuação do Iphan na orientação dos proprietários, Pestana ressaltou que esse trabalho é realizado sempre que eles são procurados. “Quando os proprietários dos prédios nos procuram, enviamos uma equipe técnica para fazer a avaliação e os orientamos a como agir no sentido de fazer a manutenção desses espaços, sem causar danos nas instalações”, afirmou.

Patrimônio cultural

O Centro Histórico de São Luís compreende uma área de 220 hectares de extensão, com cerca de 3.000 imóveis tombados pelo patrimônio histórico estadual, e 1.400 pelo Iphan. Em dezembro de 1997, São Luís recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco, em virtude do seu conjunto arquitetônico, datado da época da colonização portuguesa.
Os azulejos que revestem as fachadas de imóveis do Centro Histórico de São Luís são de origem portuguesa e de padrão estampilha.

Sobre azulejos

- Os azulejos contribuíram para que São Luís recebesse o título da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1997, como Patrimônio Mundial
- São Luís é considerada referência nacional no campo da azulejaria, principalmente na de fachada
- Os azulejos eram usados para isolamento térmico dos imóveis
- Uma das vantagens do uso de azulejos é a durabilidade e facilidade de limpeza
- Os azulejos eram usados em Portugal em palácios, igrejas, monastérios e posteriormente em residências e comércio
- Portugal recebia produtos cerâmicos esmaltados feitos na Espanha, Itália e Holanda e só no final do século XVI passou a confeccionar as peças próprias
- Lisboa, Porto e Coimbra foram as cidades portuguesas responsáveis pela maior parte da produção de cerâmica no século XVIII, sendo que grande parte era enviada para as colônias, entre elas o Brasil
- Os azulejos vinham para o Brasil nos porões dos navios e no retorno eram substituídos por riquezas obtidas em terras tupiniquins.

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