Ciência

Reunião anual da SBPC em Minas Gerais

“Ciência Móvel: todo cientista tem que ir onde o povo está” é o tema de conferência a ser proferida na sexta-feira, 21, pelo físico e consultor da página Vida Ciência de O Estado, professor-doutor Antonio José Silva Oliveira

Antonio José Silva Oliveira

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37

O ocorre nesta semana o maior evento científico da América Latina, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. A 69ª Reunião Anual da SBPC, que foi aberta no domingo, 16, e será encerrada no sábado, 22, tem como tema central “Inovação – Diversidade – Transformações”.


A programação tem mais de 240 atividades, com a participação de pesquisadores renomados do Brasil e exterior, e gestores do sistema estadual e nacional de CT&I, serão 70 conferências, 91 mesas-redondas, 55 minicursos, 13 sessões especiais, 4 assembleias, 3 reuniões de trabalho e 5 encontros. O evento marcará os 90 anos da UFMG. A sessão de abertura aconteceu no domingo, dia 16, às 19h. Uma das conferências que será ministrada na sexta-feira, dia 21, será “Ciência Móvel: todo cientista tem que ir onde o povo está”, proferida pelo físico e consultor da página Vida Ciência de O Estado, professor-doutor Antonio José Silva Oliveira.


Destaca-se também a mesa-redonda “Percepção pública da ciência e tecnologia no ambiente escolar”, realizada ontem, com a participação também do consultor. Entre outros temas que serão debatidos na Reunião, “Vírus emergentes: diversidade genética e inovação no diagnóstico, estudo e tratamento”, “Ondas Gravitacionais”, “Transformações sociais e políticas. O Brasil no mundo contemporâneo”, “Ética na ciência”, “Saúde, inclusão social e geração de renda no Brasil”, “As aplicações nucleares no mundo de hoje”, “Mulheres e Sociedade” e “O dia a dia da célula”.


Assim como ocorre em todas as reuniões anuais da SBPC, a de Belo Horizonte tem como principal objetivo popularizar e valorizar a produção científica nacional e inseri-la no cotidiano dos cidadãos. Também a exemplo dos eventos anteriores, a 69ª Reunião Anual será um importante fórum para a difusão dos avanços da ciência nas diversas áreas do conhecimento e um espaço de debates de políticas públicas para a ciência, tecnologia e novação.

O Maranhão já sediou duas reuniões anuais da SBPC, a primeira em 1995, com o tema “Ciência e desenvolvimento auto-sustentável”, homenageando o professor e pensador Darcy Ribeiro, e em 2012, com o tema “Ciência, cultura e saberes tradicionais para enfrentar a pobreza”, homenageando o maranhense e primeiro ministro da Ciência e Tecnologia, Renato Archer.

Entrega da placa com registro da homenagem ao irmão Ruy Archer prestado ao 1º Ministro de Ciência e Tecnologia, Renato Archer, na 64ª Reunião Anual da SBPC, no Campus da UFMA em 2012
Entrega da placa com registro da homenagem ao irmão Ruy Archer prestado ao 1º Ministro de Ciência e Tecnologia, Renato Archer, na 64ª Reunião Anual da SBPC, no Campus da UFMA em 2012

Outra atividade será a exposição de experimentos do Laboratório de Divulgação Científica Ilha da Ciência durante toda a Reunião, a ser realizada no espaço Laranja, na UFMG, destinada à Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciências, juntamente com outros Centros e Museus de Ciência de todo o país.

O Ilha da Ciência mostrará em sua exposição um experimento inédito denominado Inception - Pião de Giro Eterno, recentemente concebido e construído pela equipe do Laboratório. Também, no mesmo sentido, mostrará um equipamento de transformação de números decimais para binários. A exposição se completa com mais oito experimentos desenvolvidos pelo Ilha do Ciência, mostrando mecânica, termodinâmica, transformação de energia e conservação de energia.

Destacamos também a posse da nova diretoria da SBPC regional, composta pelo professor Luiz Alves Ferreira, professora Maria Eliana Alves Lima e Ivone Lopes Lima e da Conselheira Cinthya Carvalho Martins. Outro fato é a posse do nosso consultor e divulgador de Ciência Antonio José Silva Oliveira como vice- presidente da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC).

Artigo científico

Buracos negros e curvatura espaço-tempo

Antonio José Silva Oliveira

Um buraco negro é uma região do espaço do qual nada, nem a luz e partículas elementares que se movem com velocidade próxima à luz, conseguem sair, dando lugar a um ponto singular, causando uma deformação no espaço-tempo resultante de um colapso gravitacional de uma estrela extremamente maciça e compacta (Steven Weinberg - 1972). (Figura 3)

Representação do artista do buraco negro Cygnus X-1, formado a partir do colapso de uma grande estrela. Créditos: NASA / CXC / M.Weiss
Representação do artista do buraco negro Cygnus X-1, formado a partir do colapso de uma grande estrela. Créditos: NASA / CXC / M.Weiss


O adjetivo “negro” em buraco negro se deve ao fato deste não refletir, a nenhuma parte, a luz que venha atingir seu horizonte de eventos, atuando, assim, como se fosse um corpo negro perfeito termodinamicamente (Davies, P. C. W. (1978)). Um buraco negro de Schwarzschild, ou buraco negro estático, é nada mais que um buraco negro sem carga elétrica ou momento angular. A equação que seu comportamento em gráficos é a solução de Schwarzschild para o potencial em coordenadas retangulares.

Experimento de Sobral e Porto Príncipe


Para demonstração da distorção do espaço-tempo provocada pela matéria foi realizada simultaneamente nas cidades de Sobral, no interior do Ceará, e na Ilha de Príncipe, na África, no dia 29 de maio de 1919, uma observação da curvatura da luz quando esta tangenciasse a superfície do Sol, aproveitando um eclipse solar. Um eclipse solar é quando a lua se interpõe entre a Terra e o Sol, ocultando, total ou parcialmente, a sua luz, numa estreita faixa terrestre, por meio de um cone de sombra.
Segundo a Relatividade Geral, uma estrela visível nas proximidades do Sol deveria aparecer em uma posição ligeiramente mais afastada deste, porque sua luz deveria ser ligeiramente desviada, pela ação da gravidade do Sol. Esse efeito somente pode ser observado durante um eclipse total do Sol, pois a sua luminosidade impede a visibilidade da estrela em questão. Um ponto que devemos explicar é que a gravidade provocada pela massa do Sol não poderia, sozinha, desviar a trajetória da luz advinda da estrela, como se houvesse uma interação gravitacional newtoniana entre dois corpos, pelo fato de a luz não ter momento de inércia, ou seja, massa de repouso. Portanto, o desvio provocado na trajetória da luz é devido à deformação do espaço-tempo provocado pela massa do Sol em sua volta, onde a mesma percorre sua curvatura.
Com esta nova ideia, Albert Einstein publicou, em 1916, um artigo clássico na história da física no periódico Annallen der Physik. Justamente na expedição de Sobral e Porto Príncipe foi comprovado esse resultado. Na figura 4, mostramos uma simulação artística da distorção espaço-tempo provocada pela massa do Sol no seu entorno.

Representação do artista do buraco negro Cygnus X-1, formado a partir do colapso de uma grande estrela. Créditos: NASA / CXC / M.Weiss
Representação do artista do buraco negro Cygnus X-1, formado a partir do colapso de uma grande estrela. Créditos: NASA / CXC / M.Weiss

Experimento gravity probe B
Outro experimento, na mesma linha de comprovação, foi o teste de gravidade probe B, que ocorreu em 2011. Tentava provar dois efeitos preditos na Teoria da Relatividade Geral, a distorção (curvatura), e o arrasto do espaço (efeito geodésico), ou seja, o quanto espaço-tempo é perturbado pela presença da massa da Terra; ao mesmo tempo, de quanto é o arrasto provocado pela rotação da Terra do espaço-tempo.

O gravity probe B (GP-B) é um satélite astronômico, com fins experimentais, que levou quatro giroscópios ultrassensíveis, construídos com esferas perfeitas. O objetivo era medir hipoteticamente o efeito geodésico, a curvatura do espaço e do tempo em torno de um corpo gravitacional, e o arrasto gravitacional, a quantidade com que um objeto girando puxa espaço-tempo com ele quando no movimento de rotação.

O experimento consistiu basicamente em apontar os eixos dos giroscópios da GP-B para uma única estrela distante, no caso, a estrela IM Pegasi, enquanto em órbita polar em torno da Terra.

Se não houvesse nenhuma perturbação externa, o eixo do giroscópio ficaria apontado infinitamente na mesma direção da estrela Pegasi, mas pelas previsões das teorias de Einstein, os eixos dos giroscópios experimentariam mudanças na inclinação do eixo de rotação das esferas em relação ao plano normal ao eixo de rotação da Terra, no caso do arrasto e, no caso da distorção do espaço-tempo, perpendicular ao plano. Na figura 5, mostramos a curvatura mostrada pela massa da e pelo arrasto devido a rotação da Terra e torno do seu eixo.

Curvatura que a Terra e seu movimento de rotação provoca no espaço-tempo.
Curvatura que a Terra e seu movimento de rotação provoca no espaço-tempo.


Os resultados da gravity probe B foram altamente satisfatórios e, sem dúvida, a missão pode ser festejada por físicos e astrônomos, e foram publicados por C. W. F. Everitt et al no Physical Review Letter.

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