Modernidade

Velário eletrônico muda comportamento de fiéis em igrejas

Velas de ceras tradicionais foram substituídas por dispositivos eletrônicos; apesar da mudança, significado de acendê-las se mantém inalterado para os fiéis

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38

[e-s001]SÃO LUÍS - As novas tecnologias mudam o comportamento até mesmo dos fiéis católicos mais tradicionais. O hábito de acender velas nas igrejas, como forma de unir a oração individual com a oração da Igreja de Cristo, mudou em alguns templos católicos da Região Metropolitana de São Luís, com a presença do velário eletrônico, que substituiu o espaço onde são colocadas as velas de ceras convencionais.

O significado do acender a vela em uma igreja continua o mesmo e assim permanecerá inalterado, conforme preconiza a tradição católica. No entanto, o que vem mudando é o objeto utilizado para manter esse costume: no lugar de acender a vela e colocá-la em algum lugar específico da igreja, os fiéis depositam uma moeda no velário eletrônico, e as velas ficam acesas por alguns minutos.

Mudança
Algumas igrejas da cidade balneária de São José de Ribamar dispõem do velário eletrônico para os fiéis. Da mesma forma, existem outras na capital maranhense que utilizam a mesma tecnologia, como as igrejas de São João e do Carmo, ambas localizadas no centro da cidade. O cemitério do Jardim da Paz, localizado na Estrada de Ribamar (MA-201) também dispõe de um instrumento dessa natureza no Salão Ecumênico. Outras igrejas no Maranhão, como o Santuário de Vargem Grande, no interior do estado, também já adotaram esse equipamento.

Esta semana, durante o horário da missa de 12h na Igreja de São João, O Estado acompanhou o momento em que membros de uma família do município de Cantanhede (distante aproximadamente 150 km de São Luís) se posicionaram diante do velário eletrônico, depositaram moedas para que as velas fossem acesas e assim permaneceram durante alguns minutos, fazendo uma oração silenciosa, como se estivessem diante de velas com chamas convencionais.

De acordo com o padre Heitor Morais, da Igreja de São João, o velário eletrônico já existe no templo católico há alguns anos. “Essa é uma forma de os devotos prestarem um culto ao Sagrado, ao Divino”, disse o padre.
Ele afirmou que, por razão de segurança, evita-se ter um local para que todas as velas sejam acesas, pois o menor descuido pode causar um grande acidente. Além disso, a própria estrutura da igreja, tombada pelo patrimônio histórico, pode ser prejudicada com as chamas das velas. “É um deslocamento de costume. Fazemos uma catequese com as pessoas para elas entenderem o porquê da situação”, informou o padre.

Ele disse também que a presença do velário faz parte do momento de intimidade dos fiéis com o Sagrado, que compreende a missa, a espiritualidade e devoção. “Todos fazem parte do conjunto que anima o imaginário popular e religioso do povo de Deus”, disse o padre Heitor Morais.

Na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, localizada no centro da cidade, o velário eletrônico está localizado próximo ao altar principal. O objeto foi adquirido há pouco mais de um ano e utilizado por razões de segurança.

De acordo com o frei Luis, guardião do Convento do Carmo, a substituição das velas convencionadas pelas eletrônicas foi uma recomendação do Corpo de Bombeiros, para que as chamas não causassem danos à estrutura histórica do templo. Ele afirmou ainda que, no começo, algumas pessoas tiveram certa resistência à novidade, mas com o tempo se acostumaram.

[e-s001]O frei frisou que, mesmo com a mudança, o significado da tradição continua inalterado. “A luz para nós é o símbolo do Cristo Ressuscitado. Representa o valor da Fé e Devoção, ao mesmo tempo em que não danifica o patrimônio”, destacou.

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Tecnologia a serviço da fé


A professora Maria Quitéria esteve na Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Depositou uma moeda no velário e fez uma pequena oração. Ela contou que a sua relação com o Sagrado não mudou com a presença do equipamento. “Continua com a mesma intenção. Pode representar um pedido ou rezar por uma alma. Vai de acordo com a intenção de cada pessoa. Além disso, é mais higiênico”, comentou a fiel.

Novidade
No Santuário de São José de Ribamar, as velas eletrônicas são novidades. Na igreja matriz, os fiéis podem depositar qualquer valor em moedas no velário e a vela se acende, permanecendo dessa forma durante cerca de oito minutos para a oração. Existe também a possibilidade de depositar cédulas no velário, mas essas não acendem as velas.

“É cômodo para as pessoas acenderem velas por quaisquer valores. Evitam-se acidentes com cera quente ou fogo no interior das igrejas e as velas podem ser acesas bem no pé do santo”, destacou Gutemberg Feitosa, pároco solidário da Paróquia e Santuário de São José de Ribamar.

Ele afirmou também que as velas de cera podem continuar sendo acesas na casa das velas, fora da igreja, ou simplesmente, em caso de ex-votos, depositadas apagadas numa bandeja aos pés do santo. “Tudo isso para bem servir e acolher os devotos e romeiros de São José de Ribamar”, pontuou o pároco solidário.

Características
Os velários eletrônicos foram desenvolvidos com a finalidade principal de garantir maior segurança aos usuários, evitando riscos de incêndios e queimaduras, proporcionando uma utilização prática e segura, sem a descaracterização das velas originais.

Esses equipamentos possuem módulos microcontrolados que possibilitam, além da programação do tempo de funcionamento das velas, a definição da oscilação das chamas (cada uma diferente da outra), e a quantidade dos módulos que serão controlados, sendo, no mínimo 1 e no máximo 24 módulos de 24 velas cada, perfazendo um total de até 576 velas).

SAIBA MAIS

O tempo de duração das velas é programável (15, 30, 45 ou 60 minutos). O acionamento das velas pode ser feito pela inserção de moedas ou fichas, por meio de um moedeiro instalado no cofre de segurança do equipamento.

Sobre o acender das velas

O fogo e a luz significam vida. Uma vela acesa a Deus simboliza a adoração e a entrega total da pessoa ao Deus Todo Poderoso, Senhor e Criador de todos os seres. Por isso, toda vez que as pessoas se reúnem na Igreja, na capela ou em casa para rezar ou orar, inicia-se por acender as velas para significar a Fé daqueles que rezam; a presença de Deus na vida das pessoas; e sobretudo a presença de Deus naquela oração.
Em qualquer cerimônia litúrgica, em especial na Eucaristia, acendem-se velas no altar para simbolizar de um lado a consumação da criatura diante do Criador, o sacrifício de Cristo em substituição à humanidade; e de outro lado, porque é Cristo que está se sacrificando, pois ele que é a “Luz do mundo”.
Quando se acende uma vela sobre a sepultura de alguém, isso significa que a pessoa ali sepultada tinha Fé, vivia sua Fé, irradiava luz com as boas obras que fazia. Significa também esperança de vida eterna. E, como a fé é vida em Deus, a vela acesa sobre o túmulo de um cristão significa também presença de Deus.
Por essas razões, a vela que se acende por motivo religioso apenas tem valor se a pessoa que acende tem fé, faz algum esforço para viver sua religião, faz penitência, procura a amizade com o próximo e com Deus.

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