Brandanismo

Suspeitos de mutilações, membros da Seita Mundial são presos

Na década de 1990 a seita foi descoberta em São Luís, após a mutilação de três jovens; caso teve ampla repercussão e líder foi condenado há quase 38 anos de reclusão; ele foi preso em Petrópolis hoje

Atualizada em 11/10/2022 às 12h39
Donato Brandão é líder da Seita Mundial desde a década de 1990, quando foi preso por mutilação de jovens
Donato Brandão é líder da Seita Mundial desde a década de 1990, quando foi preso por mutilação de jovens (Donato Brandão)

RIO DE JANEIRO - Condenado em São Luís por mutilar a genitália de três jovens do sexo masculino na década de 1990, Donato Brandão Costa, o pai Donato, líder da Seita Mundial (Moderna Unidade Normativa de Desenvolvimento Intelectual da América Latina), foi preso ontem em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro.

Com ele foram presas outras 10 pessoas, suspeita de envolvimento na seita religiosa, que estaria envolvida em estelionatos, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Quatro mulheres e sete homens foram encontrados no bairro Itaguaí, no Rio de Janeiro. Eles foram encaminhados para a 105ª Delegacia de Polícia, no bairro Retiro.

Em São Luís, Donato Brandão foi condenado a 37 anos e 8 meses de reclusão por lesão gravíssima, falsificação de documento público e estelionato. Ele deixou a prisão em 2010, em liberdade condicional.

Mesmo com a prisão do líder na década de 1990, a Seita Mundial nunca deixou de funcionar. Seus participantes se mantiveram em atividade e mais tarde se mudaram para Petrópolis, onde forma descobertos em 2013

Em abril do ano passado, a polícia descobriu um sítio localizado no km-74, na rodovia BR-040. Na ocasião, foi cumprido um mandado de busca e apreensão e encontrados documentos e roupas de crianças enterrados no terreno, além de livros de procedimentos cirúrgicos, grande quantidade de ácido glicólico, diversos cartões de crédito, documentos de pessoas jurídicas de fachada e carros de luxo.

Não há, segundo a Civil, informação de que os atos de mutilação eram praticados em Petrópolis.

Na ocasião, Donato Brandão chegou a ser preso, investigado pela Polícia Civil carioca por crime de falsidade ideológica. Suspeito, também, de ter participado do sequestro de um dos membros da sua seita, de nome não revelado, ocorrido no dia 3 de abril.

Preso, ele disse à polícia que é proprietário de uma empresa de transportes públicos no estado de São Paulo e residia há três anos em um sítio, localizado às margens da BR­-040, em Petrópolis, em companhia de mais 11 jovens do estado do Maranhão, que se auto­denominam como filhos do criminoso.

SAIBA MAIS

Seita Mundial no Maranhão

Em 1994, em São Luis (Maranhão), Donato Brandão era o líder da seita chamada “Moderna Unidade Normativa de Desenvolvimento Intelectual da América Latina” (Mundial). O objetivo era o “fomento de desenvolvimento intelectual” e chegou a ter seguidores em outros estados. No entanto, a seita exigia obediência irrestrita e impunha rituais de purificação violentos, como jejuns superiores a sete dias, espancamentos e violência sexual. A polícia ficou sabendo da existência da seita após três jovens terem a sua genitália mutilada. Eles acreditavam que seria uma purificação e se transformariam em anjos para servir ao “Pai”. Achavam que precisavam da purificação porque haviam quebrado o juramento de não fazer sexo com mulheres. Esse “Pai” tratava-­se de Donato Brandão que, segundo alguns jovens que moravam na casa, mantinha práticas homossexuais com rapazes, alegando que os purificava. Os jovens que ocupavam a casa de Donato Brandão, no bairro Araçagi, acreditavam estar estudando teologia por correspondência ­ o que foi descoberto posteriormente tratar-­se de engodo do líder da seita ­, e tinham que vender cartões e flanelas na rua para entregar o dinheiro ao “Pai”. Caso o valor estipulado não fosse entregue diariamente, o jovem ficaria sem alimento e poderia até ser espancado. Eles entravam na seita depois de assistirem a três dias de palestras proferidas por Donato Brandão. No último dia de reunião, Donato confidenciava a todos os presentes seu segredo: era o enviado de Deus. Os jovens, em sua maioria desempregados e com problemas familiares, ficavam maravilhados com a possibilidade de servir ao “Pai” e passavam a morar com ele, cumprindo à risca todas as regras da seita Mundial, que encobria o Brandanismo, verdadeira lei de Donato Brandão.

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