Esquartejamento

OAB diz que índios sofreram tentativa de esquartejamento

Entidade reunida ontem solicitou urgência na solução do problema e prometeu denunciar o ato de crueldade à Anistia Internacional; Polícia Federal assume investigação

Ismael Araujo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h39
Rafael Silva, da OAB, explica medidas tomadas pela Comissão de Direitos Humanos em defesa dos índios
Rafael Silva, da OAB, explica medidas tomadas pela Comissão de Direitos Humanos em defesa dos índios (OAB diz que índios sofreram tentativa de esquartejamento)

SÃO LUÍS - A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Maranhão (OAB/MA), garantiu ontem que os índios da etnia Gamela, no povoado Bahias, na zona rural de Viana, sofreram uma tentativa de esquartejamento no último domingo. Esse ato de barbárie será denunciado para a Anistia Internacional. Estas informações fo­ram repassadas à imprensa em coletiva ocorrida ontem, na sede da OAB/MA, no Calhau. O massacre deixou 13 indígenas feridos a golpes de facão, tiros e pauladas. Segundo testemunhas, um grupo teria atacado a aldeia. Entretanto, há informações de que os índios invadiram uma propriedade rural na última semana, desencadeando a tragédia, que ganhou destaque a nível internacional.

“Os índios na verdade sofreram um ato cruel de esquartejamento”, afirmou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA, Rafael Silva. Ele informou que ainda ontem esteve visitando os feridos no Hospital Geral Tarquínio Lopes Filho, na Madre Deus.

Segundo ele, há três vítimas internadas nessa casa de saúde.
Uma delas, identificada como Aldeli Ribeiro Gamela, levou golpes de facão nas mãos e cortes profundos em um dos joelhos. A outra vítima, José de Ribamar Gamela, teve a mão direita dilacerada e ainda sofreu golpes de faca nas duas pernas. A terceira vítima foi baleada no tórax e no abdômen.

Atendimento
Ainda segundo Rafael Silva, as três vítimas foram trazidas para o Hospital Municipal Socorrão II, na Cidade Operária, na madrugada de segunda-feira, 1º, onde foram submetidas a tratamento cirúrgico, e no fim da noite tiveram que ser transferidas para o Hospital Geral. Ele disse ainda que mais dois membros da comunidade indígena também foram medicados no Socorrão II.

Um deles foi identificado apenas como Jorge. Ele apresentava fraturas. O outro foi o ex-coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Inaldo Serejo, que antes do massacre já era ameaçado de morte. Ele levou um tiro de raspão na cabeça. Rafael Silva afirmou ainda que esses índios já vinham sofrendo ameaças. Ele pede em caráter de urgência a identificação e demarcação do território indígena dessa comunidade.

Sandra Araújo, representante da Comissão Pastoral da Terra, declarou que o Governo do Estado era ciente das ameaças que esse povo indígena vinha sofrendo diariamente. Até mesmo um dos representantes dos índios no ano passado foi ameaçado de morte na frente da cúpula da Secretaria Estadual de Direitos Humanos. “A Funai necessita tomar uma medida mais radical e resolver esse conflito de terra, em que os índios são as verdadeiras vítimas”, declarou.

Esse mesmo pedido foi feito pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e também pelos integrantes das instituições do Centro de Cultura Negra (CCN), Núcleo de Estudos da Reforma Agrária da Universidade Federal do Maranhão, Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), Sindicato dos Bancários do Maranhão (SEEB/MA), Conselho Regional de Psicologia (CRP), União da Juventude Socialista (UJS); Conselho Estadual de Direitos Humanos, IFMA do Campus Viana e da Associação das Quebradeiras de Coco Babaçu do Maranhão. Participaram ainda da coletiva os deputados Wellington do Curso (PPS), Eliziane Gama (PPS) e Bira do Pindaré (PSB).

Direito

Inaldo Serejo, ainda fortemente abalado, solicitou providências para essa problemática, principalmente à Fundação Nacional do Índio (Funai). “Essa invasão feita por homens armados foram enviados por fazendeiros da Região da Baixada Maranhense, que alegam serem os donos das terras ocupadas pelos Gamelas”, frisou Serejo.
Francisco Jansen, que levou um tiro na boca durante o massacre, disse que o Estado ainda não reconheceu o território como indígena, embora seja um direito, co­mo já foi mencionado e previsto na Constituição Federal.

A Funai, por meio de nota enviada à imprensa pela Coordenação Regional de Imperatriz, informou que já está tomando as providências necessárias em relação ao caso. A própria procuradoria dessa fundação está em contato direto com o delegado do município de Viana, e os servidores vão acompanhar o inquérito. Ainda ontem foi criado um comitê de crise com os diretores e o presidente da Funai para prestar toda a ajuda necessária aos feridos e garantir o cumprimento da lei.

Também a Polícia Federal informou ontem, por meio de nota, que, quanto à situação de suposto conflito entre os índios da etnia Gamela e um grupo de pistoleiros ligados a fazendeiros locais, no município de Viana, interior do Maranhão, foram enviadas duas equipes de policiais federais, que atuarão em parceria com as polícias Civil e Militar do Maranhão. Serão realizados investigações e um trabalho de inteligência na região para elucidação do ocorrido.

Outra versão
O diretor técnico do Hospital Geral, Newton Gripp, declarou ontem ao “Jornal Hoje”, da Rede Globo, que não houve mão decepada de índios após o conflito ocorrido no último domingo, em Viana. Ainda segundo o médico, um índio, que já foi medicado e continua internado nessa casa de saúde, sofreu cortes profundos em um dos braços. “O índio teve lesões profundas por arma branca nos antebraços, mas suas mãos não foram decepadas, como foi divulgado”, afirmou o médico.l

SAIBA MAIS

Coroa Portuguesa

Os índios Gamela reivindicam uma área no Norte do Maranhão que teria sido doada pela Coroa Portuguesa no século 18 e reclamam ter sido ocupada por fazendeiros ao longo dos anos. Os indígenas querem a demarcação das terras.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.