Baleia Azul

Um caminho mais curto

Psicólogo explica que o jogo Baleia Azul não está diretamente ligado ao suicídio, mas pode levar pessoas com sofrimento psicológico à autodestruição

Atualizada em 11/10/2022 às 12h39

Muito tem se falado a respeito do suicídio e as causas que podem levar alguém a tomar essa medida extrema. Gatilhos como seriados e jogos perversos como Baleia Azul são apontados como única justificativa para tal ato, mas não ocorre exatamente dessa maneira. Segundo o psicólogo Antônio Freitas Neto, ninguém comete suicídio porque realmente quer morrer.

“Na verdade, são pessoas com grande sofrimento psicológico e que estão em conflitos emocionais provocados por uma soma de fatores que completam o ‘eu’ e a identidade. Esses são fatores de ordem biológica, psíquica e ambiental, em que, na ótica de nossa subjetividade, nos fragmenta ou solidifica”, diz o psicólogo, que nas últimas semanas tem sido convidado com frequência para falar sobre o assunto.

De acordo com Antônio Neto, a psicanálise de Sigmund Freud mostra que, de fato, as pessoas não conhecem a morte e não há um registro de morte no inconsciente. “E no caso do suicídio, o suicida não quer morrer. Ele não sabe o que é a morte. A afirmação de que alguém que potencializa a própria morte não deseja morrer abre espaço para questionamentos. Já que quem age contra a própria vida não sabe o que é a própria morte, e não a deseja, nos faz questionar o que o levaria a tal ação. A pessoa está tentando fugir de uma situação de sofrimento que chega ao limite do insuportável”, acrescenta o psicólogo.

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Ferramenta

Dentro desse olhar psicanalítico, conforme Antônio Neto, o jogo Baleia Azul é observado como uma ferramenta eficaz para saciar esse sofrimento psíquico, para, assim, aliciar a consciência para uma necessidade de construir o fim e realizar sua autodestruição. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o maior índice de suicídio é na transição da infância para a fase adulta, ou seja, na adolescência. Mas por que isso acontece?

“Há uma transição para a fase adulta muito mais rápida em termos biológicos do que a transição psicológica do indivíduo, ou seja, nosso corpo amadurece antes da nossa mente. Percebendo essa relação controversa entre corpo e mente, ainda há outro grande fator: a forma como os pais colocam-se enquanto agentes não participativos na vida de seus filhos ou participam de forma errada”, detalha.

Segundo o psicólogo, observa-se uma geração de filhos “mimados”, que não sabem lidar com suas frustrações e pais que buscam, primeiramente, o sentimento de amor para depois buscar o respeito. Quando se fomentam as fragilidades dessa “família moderna”, verifica-se uma família quebrada, que transforma seus filhos em verdadeiras bombas-relógios, cheios de sintomas depressivos e ansiosos, esperando o detonador certo para explodir.

“Precisamos de pais mais participativos, que trabalhem as ansiedades de seus filhos, buscando o aprendizado do respeito e autoridade do pai. Só assim será iniciado o processo de aprendizagem de como lidar com as emoções e frustrações dos filhos”, comenta.

O psicólogo acrescenta que as evoluções tecnológicas não são o problema, mas sim como nós estamos nos relacionando com elas. “Nós nos esquecemos de cuidar da nossa saúde mental, mergulhados em relações humanas líquidas, causando uma angústia que nos faz buscar por algo que não compreendemos ou é acreditado por nosso inconsciente como a única saída: a morte”, explica o psicólogo.

Amadurecimento

Com essa discussão em evidência nas redes sociais, e no meio social, é percebida a insensibilidade dos pais em relação aos alertas de uma saúde mental, que muitas vezes é negligenciada pelos pais ao não perceberem os sintomas ansiosos e depressivos apresentados no comportamento de seus filhos (isolamento, tristeza rotineira, automutilação, agressividade, etc). São sintomas que evidenciam uma personalidade diferente da habitual.

“Levando-se em consideração todos esses aspectos, propõe-se o amadurecimento dentro da ótica social para um apontamento menos preconceituoso e com mais conhecimento e acolhimento nas relações entre pais e filhos, reconhecendo os verdadeiros culpados para um pensamento suicida: os conflitos emocionais que fragilizam a identidade. Para tanto, precisamos de mais diálogo, respeito, fiscalização e quebras de tabus nas relações entre pais e filhos”, finaliza Antônio Neto.

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