Emergência

Transporte de pacientes é realizado de forma precária

Pessoas que residem no interior do estado e que precisam de tratamento em São Luís enfrentam problemas no transporte feito em ambulâncias; viaturas se encontram em estado precário, a exemplo do que ocorre na cidade de Bacabeira

Atualizada em 11/10/2022 às 12h42

Vanilde Ferreira, de 52 anos, teve que sair de sua casa, ontem, no município de Bacabeira, a 60 quilômetros de São Luís, para realizar seu tratamento de hemodiálise na capital. Ela faz esse trajeto há 16 meses, três vezes por semana e, nesse tempo todo, uma coisa lhe acompanha constantemente: a precariedade da ambulância que lhe transporta.

Como não existe tratamento de hemodiálise na sua cidade, o Município é obrigado a transportá-la até uma unidade de referência e, para isso, utiliza uma das duas únicas ambulâncias existentes na região. Todas as duas em péssimo estado.

A precariedade das ambulâncias em Bacabeira são um reflexo do que ocorre em praticamente todas as cidades do interior do Maranhão e, também, da Região Metropolitana. Veículos mau adaptados, com giroflex quebrados, aparelhos de ar-condicionado que não funcionam, sem equipamentos de proteção individual e com os tanques de oxigênio vazios. Além disso, por lei (Portaria Nº 2048, do Ministério da Saúde), uma ambulância, do tipo A, chamada de 'transporte' - a mais básica de todas - deveria ter, no mínimo, dois profissionais: um motorista e um técnico, ou auxiliar, de enfermagem. Mas o que se percebe é que na maioria das vezes os veículos estão apenas com o motorista.

Assim viaja dona Vanilde. Toda segunda, quarta e sexta-feira, às 10h, a ambulância para em sua porta. Sozinho, o motorista tem que levá-la para dentro do veículo. Na sexta-feira,23, ela estava com o pé inchado, mas conseguia andar um pouco. Tem dias que não dá nem para levantar da cama, então, ela depende da boa vontade do motorista em carregá-la.

Dentro da ambulância ela é amarrada à maca. O motorista regula o ar-condicionado no máximo e a acompanhante da paciente, a sua cunhada Eliane Kátia, entra no veículo. No espaço, além da maca, existe um banco para três pessoas, um tanque de oxigênio vazio e só. Nem parece uma ambulância, mas um veículo de carga qualquer.

Depois que as duas são acomodadas, o motorista fecha a porta, que está segura por pregos enferrujados, senta em seu lugar e segue em frente. Não existe nenhum contato entre motorista e pacientes. Em caso de alguma emergência, não tem como avisar o condutor. Não dá para gritar, não dá para bater no vidro, pois o barulho do motor cobre qualquer tipo de conversa ou manifestação que possa ser feita na parte de trás do veículo. “Dá pra gente rezar e acreditar que não vai acontecer nada”, afirmou Eliane Kátia.

O barulho, apesar de tudo, é o de menos depois de algum tempo no veículo. Mas não tem como se acostumar com os solavancos causados pelos buracos na rua aliados aos problemas de suspensão do veículo. Ainda mais se você é um paciente de hemodiálise com um cateter inserido no braço e não pode se mover de forma brusca e nem com constância.

E ainda tem o problema do ar-condicionado. O aparelho goteja o tempo inteiro, espalhando água por dentro da cabine. Ele também é temperamental e só funciona com todas as suas forças quando quer. Isso quer dizer que existem momentos em que o paciente é obrigado a enfrentar o calor de um veículo completamente fechado e sujo. Uma sujeira que já está impregnada no chão, nas paredes, bancos e maca. Algo completamente diferente do que se espera de um ambiente hospitalar. “E olha que que eu já limpei esse carro hoje. E haja água sanitária que dê para o serviço; isso quando tem”, disse o motorista.

Problemas gerais

Segundo o presidente do Sindicato dos Condutores de Ambulância do Maranhão (Sindconam-MA), Fernando França, Bacabeira tem duas ambulâncias: uma para transporte de pacientes sem risco, que conta apenas com um motorista, e outra para urgências, que tem um motorista e um técnico de enfermagem. Como a cidade tem 16 mil habitantes, a média é de um veículo para cada oito mil habitantes. A cidade vizinha, Santa Rita, tem 35 mil habitantes e apenas uma ambulância.

Essa carência de transporte hospitalar e de emergência é algo patente em todo o Maranhão. E isso porque não existe uma legislação que defina uma quantidade exata de veículos para um número estipulado de habitantes. Isso cria algumas situações, já que cidade fica algumas horas sem qualquer tipo de suporte de transporte de emergência, principalmente, em casos de viagens longas, como as realizadas parta São luís.

Recorrentes

Em agosto deste ano, O Estado denunciou os problemas em ambulâncias utilizadas no interior do estado, tais como, cilindros de oxigênio amarrados a bancos com ataduras, cordas ou fio, cadeiras improvisadas, aparelhos de ar-condicionado com defeitos, macas e bancos rasgados quebrados ou insuficientes. Janelas e portas quebradas, amarradas ou inoperantes. Giroflex quebrados, lanternas e luzes com defeito, ausência de freio de mão e pneus carecas, remendados e, até mesmo, furados.

O presidente do Sindconam denuncia ainda casos de insalubridade no serviço, horas-extras excessivas, sem direito a repouso, não pagamento de diárias de serviço, falta de fardamento e de equipamentos de proteção individual, além da ausência de livro de relatório e desvio de função.

Mais

O Estado tentou contato com as prefeituras citadas nas matérias, mas, até o fechamento desta edição, não conseguiu localizar alguém que pudesse falar sobre os problemas denunciados.

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