Contestação

Despoluição das praias é apenas aparente, alerta pesquisadora

Edileia Dutra Pereira afirma que, para despoluição, seria necessário que todas as Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) estivessem em pleno funcionamento

Adriano Martins Costa / Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h44

Apesar de estarem liberadas para banho, as praias de São Luís não estão despoluídas.Para que isso ocorra, é necessário que todas as quatros estações de tratamento de esgoto (ETEs) da cidade estejam funcionando com 100% de sua capacidade. O alerta é da professora Edileia Dutra Pereira, pós-doutora em Geologia, pela Universidade de Wageningen na Holanda e pesquisadora nas áreas de hidrogeologia e qualidade do solo e da água.

Hoje, a capital maranhense tem três ETEs em funcionamento: Jaracati, Bacanga e Vinhais. Esta última, recém-inaugurada, está operando apenas com 30% de sua capacidade. A quarta estação – Anil - está sendo construída na margem esquerda do rio de mesmo nome.

Para a pesquisadora, não se pode falar em despoluição das praias, mesmo com a retirada dos pontos mais críticos de despejo de esgotos em rios que desaguam diretamente nas praias, isso porque, além dos pontos que a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) tem eliminado, existem aqueles que não são controlados, clandestinos, e esses também causam um dano enorme ao meio ambiente.

“O que ocorreu agora, analisando com mais calma, é que muitos pontos que estavam escorrendo diretamente para as praias, com as obras da Caema, foram retiradas para trazer para dentro da ETE do Vinhais, e aí uma parte da praia ficou com a balneabilidade boa, mas isso é apenas sazonal, o que não é despoluição. É uma despoluição aparente, poderíamos dizer. Porque ainda temos poluição pela foz dos rios Anil e Bacanga”, analisa a professora.

Poluição dos rios

Os rios de São Luís são os principais poluidores da orla, mesmo que muitos deles não desemboquem diretamente nas praias, a sujeira acaba sendo levada para as regiões de lazer por meio da corrente marítima. “A grande questão que a gente como pesquisadora analisa é que para que as praias estejam despoluídas é necessário que cesse a fonte de poluição, que são os esgotos in natura, que saem das foz do rios Bacangas, Anil e Paciência”, ressalta.

Para se ter uma ideia, o Rio Paciência, que nasce nas proximidades do aeroporto, já está em seu curso superior, que é a primeira parte dele, completamente comprometido pela contaminação. Nessa região, que devia ser de água limpa e cristalina, já existe um veio de águas escuras e fétidas, que vão se espalhar até a desembocadura na Baía do Curupu. Essa contaminação da água superior, também se reflete na água subterrânea.

Segundo a professora, toda essa região que envolve os mananciais do Rio Paciência está povoada e pelo menos 95% do terreno está impermeabilizado. Isso compromete o sistema de recarga do rio, já que a água da chuva que deveria escorrer para o leito do rio, e também para as fontes subterrâneas, fica na superfície e geralmente evapora, ou então, termina lavando o solo, cheio de lixo e impurezas até o ribeiro mais próximo.

A situação do Rio Paciência se repete com a mesma fluência nas outras bacias hidrográficas da Ilha de Upaon Açu, tais como Bacanga e Anil. “Nessa água, você tem uma grande quantidade de efluentes contaminados desembocando nas baías, que através das correntes marítimas desemboca nas praias”, afirma.

Contraprova

Edileia Pereira ressalta que a metodologia utilizada pelos técnicos da Secretaria de Meio Ambiente para determinar a balneabilidade das praias de São Luís é excelente, mas ela destaca também a necessidade de uma contraprova, feita por uma universidade, ou outra instituição, com relação à presença de coliformes fecais, e. coli e termotolerantes.

Isso porque, como pesquisadora, o que ela prega acima de tudo é a precaução, já que o cenário na região pode mudar completamente de um dia para o outro. Atualmente, por exemplo, o período seco tem contribuído, em parte, para o laudo positivo da Sema, já que as praias não estão recebendo uma grande carga de poluentes, tanto através dos rios como do escoamento superficial e da lixiviação das águas durante os eventos chuvosos.

Então pode ser que, com o retorno do período chuvoso, a situação de balneabilidade mude, por isso é fundamental que os efluentes sejam completamente retirados dos rios e a coleta de esgotos seja direcionada para a estação de tratamento. “Quando chove, a água pluvial se mistura com a água do esgoto então você tem disseminação de coliformes fecais, isso é muito ruim para a saúde pública. Então você imagina essa água sendo trazida, para dentro dos rios, é um problema, rios e consequentemente praias”, destaca.

Audiência

Na quarta-feira, durante a audiência realizada na Assembleia Legislativa, o secretário estadual de Meio Ambiente, Marcelo Coelho, esclareceu como são feitas as análises e emitidos os laudos de balneabilidade das praias de São Luís.

Ele informou sobre a obrigatoriedade da divulgação dos laudos baseados na Resolução Conama, e de sua divulgação semanal. Segundo ele, após o trabalho de interceptação de esgotos feitos pela Caema, os laudos mostram que todos os 21 pontos constantemente monitorados pelo Laboratório de Análises Ambientais (LAA) apresentam condições próprias para banho.

Os laudos técnicos feitos mediante coletas e análises das condições da água do mar são emitidos pelo Governo do Estado, no qual todos os 21 pontos monitorados constantemente pela equipe do LAA, da Sema, apresentaram níveis de enterococcus abaixo do que determina a Resolução nº 274/00, do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que considera águas das praias próprias para o banho quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras, obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, e colhidas no mesmo local, houver no máximo presença de 100 enterococcus/100 mL. As águas das praias serão consideradas impróprias quando não atenderem a este critério ou quando o valor obtido na última amostragem for superior a 400 enterococcus/100 mL (NMP).

A divulgação do laudo resulta de uma ação da Justiça Federal, onde o juiz determinou que os laudos sejam feitos pela Sema, além de como eles devem ser feitos.

Ocupação desordenada

O problema das ocupações humanas em tornos de nascentes e mananciais de rios é um problema que prejudica constantemente a cidade. Temos no coração da Ilha um desses maiores exemplos que é o Parque Ambiental do Bacanga, criado para abrigar os mananciais abastecedores de São Luís. Com o tempo, a região foi tomada por ocupações desordenadas, que não têm nenhum tipo de planejamento com relação aos esgotos, resultando em nascentes e igarapés poluídos. Mas os rios dessa região geralmente partem para o reservatório do Batatã, que serve boa parte da cidade.

"Alguns igarapés estão sendo poluídos por esgotos que procedem da área do Terminal Rodoviário de São Luís e do bairro Santo Antônio. O Rio Batatã tem suas nascentes ameaçadas pelo desmatamento descontrolado e pela retirada clandestina de piçarra; o igarapé que divide a Vila Itamar do Recanto Verde está seco e só serve de canal para dejetos, esgotos doméstico e industrial", explicou o ex-coordenador-geral do Projeto de Implantação do Conselho Gestor do Parque Estadual do Bacanga, Murilo Sérgio Drummond, em sua pesquisa sobre o Parque Estadual do Bacanga.

Segundo pesquisas, nos últimos 30 anos, por causa das ocupações espontâneas e a má gestão de recursos hídricos, São Luís perdeu praticamente todas as suas áreas produtoras de água para abastecimento doméstico. Foram desativados o sistema do Rio Maracanã, que captava água para a Barragem do Batatã, o sistema do Olho d'Água e a antiga Barragem do São Raimundo, além da quase extinção do Rio Jaguarema. Permanecem apenas os sistemas Sacavém, que compreende o Batatã, e o Paciência.

“Não precisa nem a gente fazer uma análise química, é só a água estar escura e fétida que tem uma contaminação. Não precisamos nem coletar e levar no laboratório”. – Edileia Dutra Pereira, pós-doutora em geociências.

“Hoje temos com quatro Estações de Tratamento que quando estiverem realmente funcionando, aí sim nós poderemos dizer que vai começar a ser processado a despoluição dos rios e praias”. - Edileia Dutra Pereira, pós-doutora em geociências.

PRAIAS LIBERADAS

As praias liberadas são: Ponta d’Areia (ao lado do Forte Santo Antonio); Ponta d’Areia (Em frente ao Edifício Herbene Regadas); atrás do Hotel Praia Mar; atrás do Bar do Dodô; em frente à Praça de Apoio ao Banhista; e em frente ao Hotel Brisa Mar), São Marcos (em frente aos Bares Do Chef e Marlene’s; em frente à Barraca da Marcela; em frente ao Agrupamento Batalhão do Mar; em frente ao Ipem e ao Bar Kalamazoo; Foz do Rio Calhau), Calhau (à direita da elevatória II da Caema; em frente à Pousada Tambaú; em frente ao Bar Malibu), Olho d’Água (à direita da Elevatória Iemanjá II); Olho d’Água (A direita da Elevatória Pimenta I); Praia do Meio (São José de Ribamar) e Araçagi (São José de Ribamar).

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