Autofagia

Pesquisa sobre células rende Nobel de Medicina a cientista japonês

Yoshinori Ohsumi fez investigações que levaram ao entendimento do papel da autofagia, processo no qual as células se livram de toxinas e conseguem fazer reparos nelas próprias

Atualizada em 11/10/2022 às 12h45
Ohsumi receberá prêmio de 8 milhões de coroas suecas, o equivalente a pouco mais de R$ 3 milhões
Ohsumi receberá prêmio de 8 milhões de coroas suecas, o equivalente a pouco mais de R$ 3 milhões (Yoshinori Ohsumi nobel de medicina h)

TÓQUIO - As descobertas sobre os mecanismos de autofagia, processo fundamental para a degradação e a reciclagem de componentes celulares, renderam ao pesquisador japonês Yoshinori Ohsumi o prêmio Nobel de Medicina de 2016. O conceito de autofagia se tornou conhecido da ciência ainda na década de 1960, quando foram feitas observações de que as células poderiam “digerir” seus componentes internos, em estruturas conhecidas como lisossomos. Mas foi apenas na década de 1990, graças aos estudos de Oshumi, que se tornou possível identificar os genes essenciais para o fenômeno.

“As descobertas de Ohsumi levaram a novos paradigmas no nosso entendimento de como as células reciclam o seu conteúdo”, descreveu o Instituto Nobel, em comunicado sobre o vencedor do prêmio deste ano. “Suas descobertas abriram caminho para a compreensão da importância fundamental da autofagia em muitos processos fisiológicos, como a adaptação à fome ou resposta às infecções”.

Pesquisa

A autofagia é o processo celular de degradação dos componentes da própria célula, eliminando organelas envelhecidas. Com este mecanismo, uma célula em estado de desnutrição é capaz de redistribuir os nutrientes dos processos menos necessários para os essenciais para a sobrevivência. Os estudos de Ohsumi elucidaram o processo em leveduras, e revelaram que a sofisticada maquinaria semelhante é utilizada em nossas células.

“Ele mostrou que não se tratavam de lixeiras, e sim fábricas de reciclagem”, resumiu Juleen Zierath, pesquisadora do Instituto Karolinska, responsável pela seleção dos laureados pelo Nobel de Medicina.

Ohsumi atuou em pesquisas em várias áreas, mas quando estabeleceu o seu próprio laboratório, em 1988, focou seus esforços na degradação proteica no vacúolo, organela correspondente ao lisossomo humano em células de leveduras. Contudo, as estruturas celulares em leveduras são muito pequenas, difíceis de serem observadas em microscópios. O pesquisador imaginou que, se fosse capaz de interromper o processo de degradação ativo, então poderia observar as organelas digeridas acumuladas no vacúolo, e foi o que aconteceu.

“Eu queria fazer algo diferente das outras pessoas. Eu pensei que autodecomposição seria um tópico interessante”, disse Ohsumi, em entrevista à emissora NHK. “O corpo humano está sempre repetindo o processo de autodecomposição, ou canibalismo, e existe um balanço fino entre formação e decomposição. Isso é o que é a vida”, comentou.

Os genes da autofagia

Com o experimento, Ohsumi provou que a autofagia existe em células de leveduras, em estudo publicado em 1992. Dando prosseguimento aos experimentos, o pesquisador expôs células de leveduras a produtos químicos que introduziam mutações genéticas. Dessa forma, o processo de autofagia não ocorreria se determinados genes-chave para o mecanismo fossem desativados.

Em menos de um ano, ele conseguiu identificar os primeiros genes essenciais para a autofagia. Por fim, Oshumi descobriu que o fenômeno é controlado por um cascata de proteínas e complexos proteicos, cada um regulando um estádio distinto do processo.

“Graças a Ohsumi e outros que seguiram seus estudos, agora nós sabemos que a autofagia controla funções fisiológicas importantes, onde componentes celulares precisam ser degradados e reciclados”, diz o Instituto Nobel. “Autofagia pode rapidamente fornecer energia e blocos construtores para a renovação dos componentes celulares e, dessa forma, é essencial para a resposta celular à fome e outros tipos de estresse”.

Pesquisador

Nascido em 1945 em Fukuoka, no Japão, Ohsumi iniciou seus estudos na Universidade de Tóquio, e passou três anos na Universidade Rockefeller, em Nova York. Desde 2009, é professor no Instituto de Tecnologia de Tóquio. Junto com o reconhecimento pelo Nobel, Ohsumi recebe prêmio de 8 milhões de coroas suecas, o equivalente a pouco mais de R$ 3 milhões. “Eu estou extremamente honrado”, disse Ohsumi, à agência Kyodo News.

É o segundo ano consecutivo que o Nobel de Medicina é oferecido a um pesquisador japonês. No ano passado, Satoshi Ōmura dividiu o prêmio com William C. Campbell e Youyou Tu, por descobertas que revolucionaram o tratamento de doenças parasitárias. Antes disso, outros dois japoneses já haviam recebido o Nobel de Medicina: Susumu Tonegawa, em 1987; e Shinya Yamanaka, em 2012.

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