Pânico nos ônibus

Após ataques, ônibus passam a ser escoltados por PM

Secretaria de Estado de Segurança e sindicatos de trabalhadores e empresários do transporte rodoviário acertaram a guarda para reprimir os ataques; a logística não foi divulgada

Atualizada em 11/10/2022 às 12h45

Um acordo firmado ontem entre a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP) e os sindicatos dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Maranhão e das Empresas de Transportes de Passageiros de São Luís (SET) garantiu a escolta a ônibus no período noturno em São Luis. Pelo acerto, o trabalho da Polícia Militar (PM), Corpo de Bombeiros e Guarda Municipal foi iniciado na noite de ontem. Os detalhes da logística dessa escolta não foram divulgados, por questões estratégicas. A meta é garantir a segurança no sistema de transporte coletivo da capital. Este ano, 15 ônibus já foram queimados.

A escolta é a reação da SSP contra o ataque a ônibus ocorrido na terça-feira, 27, resultando em dois veículos queimados e a tentativa de incendiar um terceiro. Mesmo sem vítimas, os usuários de transporte coletivo estão com medo. O ataque de terça-feira é o terceiro do ano e o segundo do mês. Este último culminou com o prejuízo de R$ 350 mil, por veículo queimado, sem cobertura de seguro, conforme informação do SET.

A manifestação, possivelmente de facções criminosas, começou com uma profusão de áudios e ameaças espalhadas por aplicativos de mensagens e redes sociais no fim de semana, terminando com o atentados a dois ônibus.

O que se passa pela cabeça dos usuários de transporte público, e da população em geral, é que os marginais estão conseguindo perpetrar seus atos de maldade, e ainda riem da cara das autoridades policiais.
“A gente fica preocupado, com medo, se sente inseguro. Não tem como andar tranquilo de ônibus e nem em lugar nenhum”, afirma o aposentado João Pedro Pereira.

O aposentado mora em um povoado no interior de Alcântara, e vem à São Luís periodicamente fazer tratamento de saúde. Hospedado no bairro Vila Embratel, ele se vê obrigado a andar de ônibus para chegar às clínicas e hospitais. Soube dos ônibus queimados na noite de terça-feira e teme por sua vida.

Medo
E quem precisa todo o dia pegar ônibus, como fica? A estudante Claudimira Carvalho mora na Vila Nova e estuda na Escola Modelo Benedito Leite, no Centro.

Pela manhã, quando vai para o colégio, ela conta que não tem tanto medo, já que é um horário de poucas ocorrências. Mas na volta para casa, por volta do meio-dia, ela se sente insegura, como todo passageiro. Dentro dos veículos, inclusive, a tendência é que os passageiros se aglomerem perto das portas, para uma possível fuga, em caso de ataques.

E há quem prefira outro meio de locomoção. A auxiliar administrativa Larissa Letícia esperava há algum tempo sua condução em um ponto de ônibus no centro de São Luís. Mas, ela não aguardava o ônibus que iria levá-la à sua casa na Vila Embratel, mas um táxi-lotação, dirigido por um amigo. Para ela não importava se iria demorar mais do que o coletivo. O medo a impelia a esperar. “Melhor ficar aqui esperando e ir com segurança, do que ser queimada”, disse.

Ameaças
Desde o fim de semana, mensagens de ameaças de ataques a ônibus e bens públicos têm circulado na internet. Elas teriam partido de membros de facções criminosas, insatisfeitas com o tratamento que vem recebendo dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas. No sábado, houve um motim no local.

A SSP e o Governo do Estado trataram as mensagens como boatos. “Isso não deixa de ser uma manifestação criminosa. Mas o que podemos ver é que há uma grande ingenuidade de uns e irres­pon­­sabilidade de outros. Há um mal uso de uma ferramenta de comunicação e seria muito bom haver um crivo das pessoas antes de gerar uma onda de desinformação. Noventa por cento do que circula não passa de boato ou irresponsabilidade. Ou boato criminoso, ou um descuido de alguém que não faz uma prevenção quando se trata da comunicação”, afirmou o secretário Jefferson Portela, em entrevista à Rádio Mirante AM.

Mas, na terça-feira, à noite, as ameaças se concretizaram. Bandidos queimaram dois ônibus e tentaram incendiar um terceiro em regiões diferentes, da ilha de São Luís. A primeira notícia, foi a da tentativa no Bairro de Fátima.
Segundo a polícia, os bandidos chegaram ao veículo, mandaram todos os passageiros descer e jogaram gasolina no veículo. Mas na hora de acender o fogo não tinham fósforo, ou isqueiro. Nesse meio tempo, a equipe Tornado, do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), chegou e impediu a continuidade da ação.

Fuga
O bando fugiu largando os itens que seriam utilizados no incêndio. Nos outros dois pontos, os veículos não tiveram a mesma sorte. Na Vila Conceição, o coletivo foi totalmente queimado na Rua do Campo, bem perto de casas e postes.
No Tibiri, o crime foi executado na Avenida Ayrton Senna. Logo após os ataques, todos os ônibus foram recolhidos às garagens e voltaram a circular normalmente na manhã de ontem.

Ataques a transportes coletivos estão se repetindo na capital maranhense

Em 2016, 15 ônibus já foram queimados em São Luís. Os ataques de terça-feira foram a segunda ocorrência no mês de setembro em que bandidos atearam fogo em ônibus do transporte coletivo de São Luís. No dia 19 de maio deste ano, por volta das 18h30, um ônibus da linha Jardim Tropical sofreu tentativa de depredação e por volta das 19h um veículo da linha Liberdade foi incendiado. Ao todo, foram 12 ataques em quatro dias. O último ataque aconteceu por volta das 18h do dia 22, domingo, quando um ônibus da linha Alto do Turu foi atacado por criminosos.

Os ataques voltaram a acontecer dia 12 deste mês quando um bando composto por oito criminosos assaltou e ateou fogo em um ônibus da linha Caratatiua durante a tarde, na Avenida Kennedy, nas proximidades da Defensoria Pública da União (DPU), no Bairro de Fátima.

A ação resultou em três pessoas feridas: a cobradora do ônibus, Benedita dos Santos Almeida, de 47 anos, que sofreu queimaduras de 1º e 2º grau; o motorista Edvaldo Pinheiro, de 60 anos, com ferimento na perna, e um passageiro, Joanilton Madeira Viegas, de 32 anos.

Performance
Na noite de terça-feira, um grupo de aproximadamente 10 homens, todos encapuzados, entrou em um coletivo no ponto final da Vila Conceição, na área do Coroadinho, e ateou fogo no veículo. Ainda segundo a Polícia Militar (PM), nenhum passageiro ficou ferido. A PM confirmou, também, uma tentativa de outro ataque no ponto final do Bairro de Fátima. Um terceiro ataque também foi confirmado no bairro do Tibiri.
Mas foi em 2014 que aconteceu o caso mais grave de ataques a ônibus na capital. Na noite do dia 3 de janeiro de 2014, um grupo de criminosos invadiu e ateou fogo em diversos coletivos de São Luís, deixando cinco pessoas feridas, das quais uma acabou falecendo.

A primeira ação criminosa aconteceu no bairro do João Paulo, em frente ao Colégio Batista, quando cerca de cinco bandidos ordenaram que os passageiros descessem do ônibus e atearam fogo no veículo. Naquela noite, outros três incêndios a ônibus foram registrados no Jardim América, na Vila Sarney Filho e nas proximidades da Avenida Ferreira Gullar (na região do bairro Ilhinha).

No veículo da linha Vila Sarney Filho, em que o entregador de frangos Márcio Ronny da Cruz voltava para casa, também estavam Juliene Santos, 22 anos, e as duas filhas, Ana Clara, 6 anos, e Lorrane, 1,5 ano.
Ao perceber que elas não estavam conseguindo descer do coletivo, Márcio Ronny, que já havia desembarcado, voltou para ajudá-las, tendo 75% do corpo queimado, a maioria das queimaduras foram de terceiro grau.

Morte
Ana Clara, uma das crianças retiradas do ônibus em chamas por Márcio Ronny, teve 90% do corpo queimado, não resistiu à gravidade dos ferimentos e faleceu no dia 6 de janeiro, três dias após o atentado. A mãe de Ana Clara, Juliene Santos, e a irmã, Lorrane, também sofreram queimaduras. Juliene Santos teve 40% do corpo queimado e passou um mês em tratamento em hospital especializado em queimaduras de Brasília. Ela recebeu alta no dia 11 de fevereiro.

Sua outra filha, Lorrane, teve alta dias após os ataques. A quinta vítima do incêndio criminoso, Abiancy Silva, de 35 anos, também recebeu alta dias depois dos ataques.

O atentado ocorrido na noite do dia 3 de janeiro também causou a morte de Rodrigues da Silva, de 80 anos, avó de Ana Clara. Ele teve um ataque cardíaco no dia 5 de janeiro após saber que a neta estava internada com 90% do corpo queimado.l

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