Violência

Sem documentos, corpo pode ser sepultado como indigente

Vizinhos e amigos de Xena procuram seus familiares desde o dia 10 de julho, para poder dar-lhe um sepultamento digno, mas sem identificação corpo segue no IML

Atualizada em 11/10/2022 às 12h46
Xena era muito querida por amigos e vizinhos no bairro Aurora
Xena era muito querida por amigos e vizinhos no bairro Aurora (Xena)

SÃO LUÍS - Um homossexual, conhecido como Xena, que morava na Travessa da Rua da União, no bairro Aurora, em São Luís, foi assassinado com um tiro na coxa, na madrugada do dia 10 de julho, no Conjunto Cohab Anil 3, nas proximidades da Avenida Jerônimo de Albuquerque. Sem família em São Luís, a vítima, que tinha aproximadamente seus 33 anos, passa, depois da morte, uma odisseia para conseguir ser sepultada.

O primeiro problema é que nenhum de seus vizinhos sabe o nome verdadeiro de Xena. Alguns dizem que seria Wenderson Bruno Mendes, e a polícia registrou sua morte como sendo apenas Bruno Mendes. Xena também não tinha documentos, e até mesmo a perícia do Instituto Médico Legal (IML) não conseguiu identificar suas impressões digitais em seus registros. Com isso, o corpo da vítima está há 25 dias no IML, esperando para ser sepultado dignamente, mas, caso passem 30 dias, será tratado como indigente.

Foi então que os vizinhos se uniram para tentar dar um enterro digno à amiga, que, segundo contam, era uma boa pessoa, alegre e não fazia mal a ninguém. Pelo contrário, só queria o bem de todos. Eles até conseguiram o caixão e o espaço no cemitério, além das cerimônias fúnebres.

Sem informações
Mas sem documentos os vizinhos não podem receber o corpo no IML. Porém, ninguém sabe da vida de Xena. Apenas boatos. Sabem que ela veio de Santa Inês há vários anos e se estabeleceu no bairro Aurora.

Segundo contam, seu padrasto, ao descobrir que ela era homossexual a expulsou de casa. Por isso veio para São Luís. Na capital, Xena cuidava de uma idosa e de seu filho deficiente. Além disso, fazia bicos para complementar a renda. Na rua em que morava, se dava bem com todos.

No sábado, saiu de casa e avisou que ia em uma chopperia na Forquilha, mas não voltou. As conversas que surgiram a respeito dessa noite, são todas de “ouvir dizer”. Alguns disseram que Xena teria levado sete tiros no rosto; outros que ela teria ido a um motel com um homem e ele a teria assassinado. Alguns afirmam que ela estava em um bar, quando chegou um homem e atirou. “Não sabemos o que aconteceu.
Como foi o crime e por quê. Pode até ter sido um caso de homofobia”, frisou Tamires de Sousa, vizinha e amiga de Xena.

Enilde Piedade, outra vizinha, relata que eles já esgotaram todas as possibilidades para conseguir localizar os documentos e dar uma identidade à amiga. Inclusive, alguém já teria até mesmo ido a Santa Inês, procurar a família dela, mas não encontraram.

Em São Luís, os boatos também imperam sobre a vida de Xena, já que alguns dizem que o padastro dela foi encontrado, mas teria afirmado que não queria saber do enteado. A mãe já estaria morta.

Lei
Não existe lei específica no Brasil para tratar de sepultamento de indigentes, mas marca-se o prazo de 30 dias com base na lei de utilização de cadáveres (Lei nº 8.501/92), que determina que o cadáver não reclamado às autoridades públicas, poderá ser destinado às escolas de Medicina, para ensino e de pesquisa de caráter científico.

Como não tem documentos e se nenhum familiar, ou responsável legal, apareceu para reconhecer o corpo de Xena, ela se manterá enquadrada como não reclamada.l

O QUE DIZ A LEI

Lei N° 8.501, de 30 de novembro de 1992
Dispõe sobre a utilização de cadáver não reclamado, para fins de estudos ou pesquisas científica e dá outras providências.
Art. 2° O cadáver não reclamado às autoridades públicas, no prazo de trinta dias, poderá ser destinado às escolas de Medicina, para fins de ensino e de pesquisa de caráter científico.
Art. 3° Será destinado para estudo, na forma do artigo anterior, o cadáver:
I -- sem qualquer documentação;
II -- identificado, sobre o qual inexistem informações relativas a endereços de parentes ou responsáveis legais.

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