Entrevista - José Augusto Fernandes

“Essa é, sem dúvida, uma das crises mais complexas vividas”

Para o diretor da CNI, o Brasil terá pouca condição de recuperação caso não se construa uma nova agenda para se conduzir a política econômica

Ribamar Cunha/Subeditor de Economia

Atualizada em 11/10/2022 às 12h49
(Estado Econômico)


O Brasil passa por um dos momentos mais difíceis de sua história, com uma grave crise econômica que tem forte viés político e está emperrando a sociedade de um mo­do geral. Os efeitos dessa conjuntura negativa reverberam em redução do PIB, menos investimentos e no aumento da inflação e do desemprego. Em entrevista exclusiva a O Estado, o diretor de Políticas e Estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes, faz uma análise dessa situação de crise e corrupção e o que as empresas devem fazer para conseguir sobreviver a essas dificuldades.

Como a Confederação Nacional da Indústria analisa a gravidade da atual crise em relação a outras já vivenciadas no país?
Essa é, sem dúvida, uma das crises mais complexas vividas pelo país, por conta da combinação crise política, econômica e institucional, acrescentando ainda as investigações da operação Lava Jato. É uma combinação que gera uma “tempestade” muito forte e está refletindo na atual situação de recessão que estamos passando.

O fator político tem se notabilizado como um peso importante, nesse momento de grande dificuldade para o país?
A incerteza política e a dificuldade de se ter clareza sobre uma agenda econômica que tire o país dessa atual crise são fatores que estão pesando. E essa dificuldade de diálogo entre o Executivo e o Legislativo e as demais instituições, tudo isso, nesse momento, gera um nível de incerteza que paralisa o país e os investimentos. Citamos como exemplo o setor de petróleo e gás, que se desorganizou, primeiramente pela redução do preço do petróleo, e cujo quadro se agravou por erros de investimentos da Petrobras e também pela associação da empresa a casos de corrupção.

A CNI entende que hoje a corrupção é o maior câncer existente na sociedade brasileira?
Entendemos que a corrupção é, hoje, um dos grandes problemas do Brasil. Mas é fundamental se observar a necessidade de se fazer reformas como antídotos à corrupção.

Há como isso acontecer ou é uma situação cultural, que para os brasileiros está entranhada, principalmente na classe política?
Há países que tinham elevados níveis de corrupção e conseguiram mudar a realidade. Isso implica em mudanças nos sistemas político e econômico, com regras mais claras. A atual situação do Brasil lembra muito os Estados Unidos do início do século XIX, onde foram realizadas investigações sobre casos de corrupção, mas a partir de mudanças no sistema político a corrupção passou a ser disfuncional. Esperamos que esse mesmo fenômeno ocorra no Brasil, ou seja, que o cidadão e as empresas entendam que a corrupção é disfuncional.

Tirando a questão política, quais os erros cometidos pelo gover­no do ponto de vista macroeconômico que levaram o país a essa crise sem precedentes em sua história?
O primeiro erro, no nosso entendimento, foi dar pouca atenção ao controle das contas públicas. Em segundo lugar, o excesso de intervenções econômicas associadas a determinados setores [benefícios como as desonerações nos impostos de algumas cadeias produtivas], perdendo-se a perspectiva do conjunto. E, por último, o governo ter um diagnóstico equivocado do que vinha acontecendo com a economia após a crise de 2008.

O Brasil perdeu o ano de 2015, está perdendo 2016 e provavelmente 2017 também será contaminado com todos esses acontecimentos. Para a CNI, o impeachment da presidente Dilma seria realmente uma luz no fim do túnel para o país se soerguer?
O atual status quo não pode ser mantido. Se não se construir uma nova agenda, um conjunto de reformas mínimas, que dê clareza de como se vai conduzir a política econômica, teremos pouca condição de recuperação. É preciso se resolver isso. O que não pode é ficar se adiando.

Nesse cenário de incertezas, qual a mensagem da CNI para o empresariado brasileiro?
Esse é um momento de extrema cautela, de se preservar o caixa das empresas, de se fazer tudo que for possível para se mostrar eficiência. É um momento de a empresa olhar para dentro de si e ver de que forma pode se tornar competitiva e sobreviver a essa crise.

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