Coluna

A Coluna Prestes - Conclusões - III

Sálvio Dino

Atualizada em 11/10/2022 às 12h56

E, as águas passaram pela ponte do tempo! Eis que, um belo dia, na minha sala de trabalho, como costumava fazer, lá se vem, todo saltitante, o querido Mundico. E foi logo dizendo, ao abrir a velha pasta preta, cheia de papeis, sua permanente companheira:

“Veja se lhe interessa esse precioso achado”... E, colocando em cima da mesa, uns alfarrábios, em tom discursivo: “São fragmentos da oração proferida pelo grande Juarez Távora, em Carolina, no Dia da Bandeira, em novembro de 1925. Têm, de fato, o sabor do Sermão da Montanha. E, sorrindo: “Tome que o filho é seu. Bem aventurados os que conseguem decifrar as incomparáveis lições bíblicas”.

E, eu, quase a perder o fôlego, querendo dar um piripaque, curioso, com o manuscrito, caindo aos pedaços, feito à mão, numa letra, embora graúda, em papel almaço. Logo passei a folheá-lo. Dias após dias, fui decifrando-o. O que conseguimos? Essas pérolas criadas pelo maior orador militar brasileiro, de todos os tempos, Juarez Távora. Sim. O revolucionário cearense encantou Carolina (...) “com aquela elegância de estilo que lhe é tão peculiar e com os transportes arrebatadores da sua eloquência. O discurso de Távora foi um verdadeiro hino à liberdade e teve o mágico poder de abrir os espíritos. À convicção dos novos ideais e despertar o entusiasmo para as lutas vitoriosas da democracia” (A marcha da Coluna Prestes – S. Dias Ferreira).

Vejamo-las!

POVO DE CAROLINA

Minhas senhoras e meus senhores,
Hoje, antes e acima de tudo, é o Dia consagrado à Bandeira Brasileira. Por isso, a ela me dirijo primeiramente.

Bandeira do Brasil! Símbolo de esperança e glória. Em nome dos brasileiros, homens que lutam pela grandeza do Brasil mental, eu te saúdo no grande dia de tua consagração. Cantam em tí, todas belezas do território nacional. Evoquemos no dia maior de tua contemplação, a nossa História, plena de sacrifícios e de sonhos, de fé rediviva e de lances heroicos dos nossos irmãos maiores, aqueles que sempre lutaram por um mundo melhor, por uma qualidade de vida para todos nós, brasileiros de todos os recantos, de norte a sul.

Simbolizas toda a nossa nação. Significas a primeira missa no nosso solo selvagem e desafiante. As entradas no sertão, virgem e misterioso. O mártir da nossa independência que foi ao partípulo na serenidade dos que creem na grandeza da pátria amada.

És o grande Rui a proclamar a força do direito, e a denunciar nos recessos desses sertões, onde já passam, de longe e a longe, rastros de civilização, o trabalho vive a morrer, muitas vezes num regime igual ao do cativeiro e o peão, o vaqueiro, o obreiro agrícola, o colono são, às vezes instrumentos servis de um patronato cruel e irresponsável.

E, é por isso que, aqui, nos reunimos para te dizer, alto e a bom som que, acreditamos em ti, na tua distinção de símbolo da nacionalidade.
(...) Temos, hoje, ao chegar ao coração do Brasil, às margens do portentoso Tocantins, o feliz ensejo de, mais uma vez, reafirmar à nossa Pátria que a cruzada patriótica, indiciada na Capital gloriosa de São Paulo e engrossada mais tarde pelos bravos filhos da terra gaúcha, ainda não expirou e nem expirará, esmagada pelas baionetas da tirania.

Anima-nos ainda, a mesma fé inabalável dos primeiros dias da jornada, alicerçada na certeza de que a maioria do povo brasileiro, comungando conosco os ideais da Revolução, anseia por que o Brasil se reintegre nos princípios liberais consagrados pela nossa Constituição, hoje espezinhada por um sindicato de políticos sem escrúpulos, que se apoderaram dos destinos do país, para malbaratar a sua fortuna, ensanguentar o seu território e vilipendiar o melhor de suas tradições. E o povo pode ficar certo de que os Soldados Revolucionários não enrolarão essa bandeira tremulante que é a da Liberdade, enquanto se não modificar esse ambiente de despotismo e intolerância que asfixia, num delírio de pressão, os melhores anseios da consciência nacional.

Povo do Maranhão

Os membros do Partido Republicano Maranhense, representado pelos bravos líderes carolinenses, Diogénes Gonçalves, Sandoval Aires Maranhão e Benjamim Carvalho, receberam-nos de braços abertos em nome do povo desta cidade e que querem e sonham, também, com uma República sã e moralizadora.

Brava atitude. Dela, jamais nos esqueceremos!

A tirania política que oprime o povo, reduzindo as tradições gloriosas do Maranhão a um farrapo de despotismo e vilipendio é, hoje, uma epidemia formidável que assola, de norte a sul, todos os recantos da Pátria brasileira.
O voto é uma farsa e a soberania das urnas é uma convenção, facultativa e a vaga à que se sobrepõem, sempre as conveniências e caprichos dos senhores absolutos dos poderes público.

Povo maranhense
Não renegues as tradições de liberalismo que te legaram os revoltados de Beckman, combatendo o monopólio comercial dos senhores da Colônia; nem desmereças o espírito batalhador dos teus antepassados que souberam dar a vida pela Independência política de nossa Pátria.
É inútil, deprimente e vergonhoso, suplicar, de joelhos aos tiranos o favor da liberdade que os nossos maiores souberam conquistar em prélios gloriosos.

Levanta-te e reage, se queres ser digno dos que lutaram no passado; respeitado pelas gerações vindouras.

MARANHENSE: vós que sustentais bem alto o facho brilhante da Intelectualidade patrícia, conquistando para o vosso berço o título de – ATHENAS BRASILEIRA – levantai agora, pela salvação da Pátria e pela regeneração da República.

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