Aldeia Cururu

Índios pedem alternativas de renda e escola

Os índios estão acuados. A aldeia foi alvo de um violento ataque armado de homens brancos.

Marco Antônio Soalheiro - Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 13h51

ARAME - Quem chega desavisado à aldeia Cururu e encontra uma comunidade pacata, bem-humorada e hospitaleira não pode imaginar os momentos de tensão vividos ali há exatos sete meses. No dia 16 de abril, quando os índios da etnia Guajajara fecharam a esburacada rodovia MA-006 para protestar por mais investimentos na saúde, a aldeia, localizada na Terra Indígena Araribóia, a 52 quilômetros da cidade de Arame, foi alvo de um violento ataque armado de homens brancos.

As marcas do que poderia ter sido uma tragédia ainda são visíveis para os observadores mais atentos. Apenas um índio ficou ferido, mas há muitas marcas de tiros nas paredes da escola.

A diretora Gracilene Ribeiro, de 33 anos, há dez anos prestando serviços na aldeia, contou à Agência Brasil que ela e os alunos correram desesperadamente para dentro do mato, assim como o resto dos Guajajara que se encontravam na aldeia. Cinco casas no local foram queimadas. Como os índios não receberam nenhum tipo de indenização, tiveram que reconstruir barracos de barro com recursos próprios.

O cacique José Teodoro Guajajara, de bota e bermuda rasgadas (por falta de dinheiro, segundo ele), considera positiva a presença de autoridades policias e de fiscalização na região.“Tô achando bom, porque antes faziam besteira na nossa aldeia e ninguém tomava providência.”

Por outro lado, o cacique pede mais investimento social da Funai na aldeia. “Estamos sem merenda escolar e precisamos de mais projetos. Se precisar, vou em Brasília, como em 2000, época que eu tinha cabelos pretos”, disse o cacique à Agência Brasil, acrescentando que sabe "se virar bem" na capital federal.

Os Guajajara da aldeia Cururu dizem que pararam de trabalhar com madeira da Terra Indígena Araribóia há uns quatro ou cinco anos. Viram que a prática não tinha futuro, segundo o sobrinho do cacique, Ivonaldo Wyanári Guajajara, e hoje são contra a exploração ilegal. Reconhecem que companheiros da etnia permanecem ligados ao negócio, mas têm uma explicação.

“Se vai tanto projeto bom para os brancos, porque não pode vir para o índio também. Sem isso alguns acabam caindo na bandidagem, na venda de maconha e tráfico”, afirmou Wyanári, reconhecendo que há nas aldeias alguns pés de maconha, mas suficientes apenas para consumo próprio.

Os projetos que a aldeia reclama são de capacitação em agricultura e fontes alternativas de renda. “O índio tá civilizado e não pode trabalhar só para comer”, lembra Wyanári. Os fornos da aldeia estão estragados e há apenas um catitu, rolo usado para serrar mandioca, alimento tradicionalmente conhecido como a força do índio.

A diretora escolar Gracilene Ribeiro também diz que não tem nenhum apoio na questão pedagógica por parte da prefeitura. Segundo os líderes, na aldeia Cururu vivem atualmente 212 índios, que se sustentam com roças de mandioca, arroz, milho e feijão.

Não há telefone público no local, as crianças seguem a preferência nacional e são apaixonadas por futebol, que assistem graças às antenas parabólicas e jogam em um campo de terra batida, onde para se fazer gol é preciso jogar a bola no rumo da rodovia.

Nos dias 29 e 30 de novembro a aldeia vai sedir um encontro de jovens e adolescentes indígenas em situação de risco, oportunidade em que pretendem cobrar maior assistência da administração regional da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Em toda a Terra Indígena Araribóia, no oeste do Maranhão, com seus 413 mil hectares, vivem cerca de 8 mil Guajajara em 98 aldeias, além de 50 índios isolados da etnia Guajá.

A Operação Araribóia, da qual participam a Fundação Nacional do Índio (Funai), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal e Força Nacional de Segurança, destina-se a combater o extravio ilegal de madeira, incêndios criminosos e plantações de maconha dentro da terra.

Os trabalhos de fiscalização não têm data para acabar e devem durar pelo menos até meados de dezembro. Dez serrarias estão lacradas nos municípios de Arame e Amarante. Também já foram recolhidos vários caminhões carregados de madeira e um trator esteira, foram aplicadas multas a fazendeiros, além da apreensão e queima de 5 mil pés de maconha. Pelo menos 13 pessoas estão presas. A coordenação da Funai considera o resgate das tradições culturais dos índios um dos principais objetivos a serem atingidos com a neutralização dos criminosos.

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