Últimos candidatos à Palma de Ouro são exibidos em Cannes

EFE

Atualizada em 27/03/2022 às 14h22

CANNES, França - O mexicano Guillermo del Toro, com um filme espanhol, e o uruguaio Adrián Caetano, com um argentino, encerraram hoje, entre muitos aplausos do público, a competição pela Palma de Ouro na edição mais hispânica do Festival de Cannes em muitos anos.

El Laberinto Del Fauno, de Del Toro, e Crónica de Una Fuga, de Caetano, falam dos períodos mais obscuros da Espanha e da Argentina: a repressão após a Guerra Civil e os desaparecidos durante o último Governo militar.

Nos dois casos, os protagonistas acabam abrindo uma janela para a esperança em meio ao horror.

Poucas semelhanças além dessa podem ser identificadas entre os dois filmes diametralmente opostos. Enquanto Del Toro mergulha de novo em seu riquíssimo mundo onírico, Caetano recria com exatidão um pesadelo real, a fuga de um grupo de detidos clandestinos.

Enquanto a menina que protagoniza o filme de Del Toro recorre a um giz para abrir portas para um universo de magia, esperança e de criaturas inventadas, os quatro jovens nus que arrombam uma janela da casa onde são torturados o fazem para escapar de um inferno povoado de monstros com aspecto humano.

Ambientado em 1943 no norte da Espanha, El Laberinto Del Fauno apresenta uma história da repressão franquista e da luta da resistência na qual uma menina, interpretada por Ivana Baquero, faz a ligação com um mundo de fadas e fantasia.

O filme é uma das duas fitas espanholas em competição pela Palma de Ouro, disputando-a com Volver, de Pedro Almodóvar.

Além de seus efeitos visuais, a cargo de David Martín, o filme de Del Toro surpreende com a interpretação de Sergi López no papel de impiedoso repressor, junto a Maribel Verdú e Ariadna Gil.

Todos eles estiveram hoje com del Toro na entrevista coletiva em que o diretor expressou sua alegria por voltar a Cannes após sua passagem em 1993, fora de competição, com Cronos, seu primeiro longa.

Del Toro falou de seu interesse pela guerra civil espanhola (1936-1939). O cineasta explicou que o México tem "uma relação muito peculiar com a Espanha" sobre esse conflito, um acontecimento histórico com múltiplas interpretações.

O mais amedrontador de tudo, no entanto, é saber que os lobos de carne e osso que povoam Crónica de Una Fuga são seres de carne e osso. E que estão entre nós.

O golpe militar de Estado de 1976 instaurou, durante sete anos, um regime de terror implacavelmente retratado no filme de Caetano. O autor de Bolívia (2001) reconstrói o caso real de quatro jovens presos em um centro de detenção clandestino onde a tortura física e psicológica se misturaram por meses.

Dois deles, Guillermo Fernández e Claudio Taburrini, acompanharam hoje Caetano na apresentação do filme.

"A primeira vez que vi, fez-me reviver a dor", reconheceu Taburrini, sentado à mesa junto ao ator que o encarna, Rodrigo de la Serna, e Pablo Echarri, que interpreta um dos torturadores.

"As emoções mais fortes foram durante a gravação", contou Fernández. Ele lembrou que, ao visitar a casa onde foi reproduzido o cenário de seu cativeiro, teve que pedir que o "deixassem sair, para comprovar que podia fazê-lo".

De acordo com Caetano, o filme retrata "crimes contra o ser humano que não merecem nenhum tipo de justificação".

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