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Pergentino Holanda
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Pergentino Holanda

Reencontro de velhos amigos no Petisqueira

Mais: Uma tradição inventada

PH

Atualizada em 02/05/2023 às 23h36
Almoço no Petisqueira

No almoço de domingo do restaurante Petisqueira da Mamãe, o reencontro de velhos amigos para colocar as conversas em dia: o advogado Guto Guterres (lança seu quinto livro em outubro), com Amaro Santana Leite, o Repórter PH e Luiz Carlos Cantanhede Fernandes

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O 7 de Setembro

Faço coro com Eduardo Bueno quando diz que a história é uma construção – mesmo sendo "construída" com base em fatos reais.

Para ser mais claro, e usar a palavra que agora virou palavrão, o cronista gaúcha lembra que a história é uma narrativa – sempre foi e sempre será. Como tal, ela precisa, necessariamente, ser editada. E quem narra, quem conta, quem escreve (ou seja, quem edita), escolhe o que entra e o que fica de fora; o que vai virar manchete e o que não será mais do que nota de pé de página.

Com o passar do tempo, a história vai se cristalizando por meio da tradição – e toda tradição é inventada. Não no sentido de que privilegie algo que não aconteceu, mas no sentido de que determinados acontecimentos são consolidados pela “história oficial” em detrimento de outros (ou de outras versões desses mesmos fatos), que assim acabam ignorados, esquecidos e então suprimidos da dita História com maiúscula.

Uma tradição inventada

Raras tradições foram mais inventadas do que o 7 de Setembro e o Grito do Ipiranga. Claro que Dom Pedro gritou às margens plácidas do Ipiranga – mas se o sol de fato brilhou com raios fúlgidos no céu da pátria naquele instante, não foram mais de 30 as pessoas que o viram (e ouviram).

A independência do Brasil foi um processo lento e sinuoso, que teve início com a transmigração da família real portuguesa para o Brasil em 1808, passou pelo Dia do Fico, em 9 de janeiro de 1822, e só se concretizou com a assinatura do Tratado de Paz e Aliança, em agosto de 1825, quando o Brasil pagou (uma fortuna) para que Portugal enfim reconhecesse a separação.

São Paulo de fora da narrativa

A questão é que, até 1822, a “construção” da história se dava toda no Rio de Janeiro. E São Paulo não estava gostando nem um pouco de ficar fora da “narrativa”.

Dessa forma, servindo-se daquele grito quase aleatório, proferido no meio do nada e escutado por quase ninguém – mas em São Paulo –, os paulistas construíram tijolo por tijolo, num desenho lógico, a tradição do 7 de Setembro, referendada depois pela pintura magistral de Pedro Américo, O Brado do Ipiranga, feita 66 anos após os eventos que representou de forma mais real do que a própria realidade – quase um deepfake.

Assim, e por isso, a gente continua fazendo de conta que não sabe que a independência foi articulação do centrão: uma artimanha da bancada ruralista do Senado para manter intocada a escravidão, fazendo o Brasil mudar só para continuar igual, como tantas vezes.

 

Quarteto só de mulheres no restaurante Petiqueira da Mamãe, no último domingo: Lucy Guterres e Melina Sereno Fernandes (sentadas) com Ana Lúcia Albuquerque e Teresa Martins

Maquinações noturnas

Acordei, noite dessas, com o nome de Miltinho na cabeça. Figura peculiar da música brasileira, nos anos 1950 Miltinho (1928-2014) participou de grupos vocais históricos como Anjos do Inferno, Namorados da Lua e Milionários do Ritmo, até engrenar carreira solo na década de 1960 cantando samba-canção e sambalanço.

O estilo inconfundível de Miltinho marcou sucessos como Mulher de 30, Mulata Assanhada, Palhaçada – ouça, vale a pena.

Por que acordei pensando nele? Não sei. Só sei que esse nome no diminutivo levou a outros, acabando com meu sono.

Campeão no uso de diminutivos

Ainda sob os lençóis, comecei a vasculhar os “inhos” e “inhas” de nossa história musical. A primeira a vir à tona, o abre-alas, foi Chiquinha Gonzaga (1847-1935). E começaram a jorrar tantos e tantos nomes, que me levaram a perguntar por que o diminutivo é, ao longo do tempo, tão presente entre os artistas brasileiros.

De modo que o Brasil é campeão mundial no uso de diminutivos para designar pessoas.

Na cultura hispânica, o correspondente seria o sufixo ito/ita... Achamos Sarita Montiel, Joselito, Pablito Calvo, Pablito Ortega, entre outros.

No futebol brasileiro também tem muitos, claro, de Zizinho a Ronaldinho, passando por Jairzinho, Edinho, Robinho, Juninho e tal, mas essa já é outra arte.

Contraponto da subserviência

Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda tem uma conversa sobre isso. Ele diz que uma das evidências do “homem cordial” (não necessariamente o homem gentil, mas o que age com o coração) é justamente essa coisa dos apelidos, uma maneira de criar intimidade.

E eu sempre dou esse exemplo, com base no livro dele. Mostro que nas seleções de futebol do mundo todo são dados os sobrenomes dos jogadores, e na do Brasil é comum ter os apelidos. É uma espécie de contraponto da subserviência dos subordinados para com a elite, o “sinhozinho”... E a sinhazinha, claro!

Natanzinho é exemplo recente

Mas interpretações sociológicas à parte, o que o sonho me provocou foi um exercício de memória, começando pelo Maranhão: Carlinhos Veloz e Chiquinho França. Daí para cima, podemos citar Pixinguinha, Braguinha, Paulinho da Viola, Teixeirinha, Emilinha Borba, Isaurinha Garcia, Carminha Mascarenhas, Zeca Pagodinho, Neguinho da Beija-Flor, Thiaguinho, Jorginho do Império, Martinho da Vila, Toninho Horta, Gonzaguinha, Dominguinhos, Caçulinha, Zequinha de Abreu, Robertinho do Recife, Chitãozinho (e Xororó), Pedrinho Mattar, Martinha, Dircinha Batista, Paulinho Nogueira, Toquinho, Carlinhos Brown, e, last but not least, o grande K-Ximbinho (1917-1980).

Mas opa!, correndo por fora vem Julinho da Adelaide, alter ego de Chico Buarque para driblar a censura da dita. Amplie a lista e me conte.

Agora mesmo, na cena musical brasileiro, o maior sucesso do momento, cantando a música “Tem cabaré esta noite”, atende pelo nome de Natanzinho. E por aí vai...

 DE RELANCE

Festa literária em Gramado

Começou no último dia 2, a primeira edição edição do Festival Internacional Literário de Gramado (FiliGram), que pretende tornar a cidade do cinema também uma referência nas letras

Há cinco décadas, Gramado é a cidade gaúcha do cinema, sede de um dos festivais mais importantes do ramo do Brasil, que no mês passado realizou sua edição de número 50. Agora, quer ser também reconhecida como terra da literatura.

A cidade serrana inaugura hoje a primeira que deseja grifar o nome do Rio Grande do Sul na lista de grandes eventos literários do país, somando-se à tradicional Feira do Livro de Porto Alegre.

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10 dias dedicados à literatura

No assunto: para isso, serão 10 dias dedicados à literatura, com atividades gratuitas até o dia 11 de setembr). O lançamento oficial do evento foi feito com a mesa de abertura “Brasil, Portugal e os 200 anos de Independência: Como se cruzam nossas narrativas?”, que trouxe um bate-papo entre o escritor carioca Jeferson Tenório, vencedor do Jabuti de Melhor Romance por O Avesso da Pele e o autor português Afonso Cruz.

A programação completa está disponível no site do evento (filigram.com.br), por onde também serão transmitidas online as principais mesas.

As atrações estão divididas em cinco eixos temáticos – Polaroid Brasil, Mercatto, Orgânico, Campi e Digiteen – criados a partir do encontro de profissionais do meio literário com coletivos formados pela própria comunidade local de Gramado, em uma estratégia que visa a fazer com que os moradores da cidade sintam-se parte do evento.

 

O músico e escritor maranhense Zeca Baleiro é um dos nomes mais aguardados na feira literária de Gramado, no RS

Zeca Baleiro participa da FiliGram

A FiliGram promete agitar a vida cultural de Gramado reunindo nomes de destaque da música nacional. Como Fernando Anitelli, frontman do grupo O Teatro Mágico, que no dia 7 de setembro realiza uma apresentação poética no formato voz e violão.

A participação mais aguardada, porém, é a do músico e escritor maranhense Zeca Baleiro, que estará no festival nos dias 6 e 7 para lançar seu novo livro, Memórias do Estaleiro, e participar do debate “Mesa da Cultura Luso-brasileira” ao lado do português Afonso Cruz.

Tem que entregar o celular

Nem todo mundo aplaudiu a aprovação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da resolução com as regras sobre proibição de uso de armas e celulares nos locais de votação.

Agora, o eleitor terá de entregar o celular e demais dispositivos, como câmeras e rádios, desligados ao mesário da seção eleitoral. Quem se recusar a fazê-lo, não poderá votar, diz o texto referendado pelos ministros da Corte.

A mesa que coordena os trabalhos nos locais de votação também será autorizada a convocar as forças de segurança pública para lidar com o descumprimento das regras. Os equipamentos serão devolvidos ao término da votação.

A Corte já havia concordado com o veto aos equipamentos em sessões realizadas na semana passada. A decisão de sexta-feira sistematiza as regras.

 

Em nova produção, a digital influencer maranhense Thaynara OG, cujo prestígio continua em alta nas redes sociais

Melhores cidades para se viver

Todos os anos a empresa de consultoria em cenários prospectivos e administração estratégica, Macroplan realiza o estudo de acordo com os dados do Índice dos Desafios da Gestão Municipal (IDGM).

A partir do IDGM, a empresa cria um ranking das melhores cidades para se viver no Brasil a cada ano, levando em consideração quatro elementos básicos: educação, segurança, saneamento e saúde.

Na última pesquisa, a cidade de Maringá (PR) foi eleita a melhor entre os cem maiores municípios do Brasil do ranking do IDGM, com ótimas pontuações nos quatro elementos analisados.

O Maranhão só está presente com uma cidade, a Capital São Luís. E mesmo assim em 79º lugar.

Campanha e figuras folclóricas

Figuras folclóricas sempre marcaram presença nas campanhas eleitorais, e agora, na era digital com o ingrediente do uso do nome social, o DivulgCand, a plataforma oficial do TSE para a divulgação de candidaturas, eles estão aí.

Entre os que querem ir a Brasília tem Na Dúvida é Nego Éder (CD), Teteia do Jegue (MDB) e Márcio Pirão (PSC), mas quem assume o top é Regivaldo Marques Figueiredo (Pode), que está inscrito como Cacete Pão Dividido.

Em campanha, ele desfila pelas ruas com um enorme pão de isopor na mão e um botijão idem na cabeça. Cola? Talvez sim. Em 2018 foi candidato a deputado estadual e teve 2.949 votos, um sucesso.

História dos exóticos é velha

Desde o início deste século, com as urnas eletrônicas já consolidados, a Justiça Eleitoral permitiu aos candidatos o uso do nome de urna

E a partir daí a história das eleições no Brasil inaugurou um tempo novo, passou a contar com uma legião de candidatos que democraticamente usam nomes tão exóticos quanto risíveis, alguns pelos quais são conhecidos, pelas atividades que exercem e por ai ou na ponga de algum conhecido..

Assim o é que Brasil afora já tivemos Mude de Posição, Vote Dibruçu, ou também Edilson que o povo gosta, ou Alceudispor, também Anão, dos males o menor.

Para escrever na pedra:

“Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito”. Do escritor Machado de Assis.

TRIVIAL VARIADO

Já era esperada a decisão do TSE que detonou a pretensão de Roberto Jefferson, o dono do PTB, de se candidatar à Presidência da República, sob o argumento de que ele, condenado a mais de sete anos de cadeia por conta do Mensalão, está inelegível até 2023.

No assunto: a decisão do TSE acendeu a discussão entre os candidatos maranhenses, onde há também mais de 10 candidaturas contestadas entre mais de 800 no país.

Na noite de sábado, Cida e José Aparecido Valadão desfilavam simpatia pelo bistrô Grand Cru, recém chegados de uma viagem aos Estados Unidos – Miami e Bahamas – em que ele brilhou em congressos sobre cirurgia digestiva.

Flávia e Nilson Ferraz regressaram ontem a São Luís, após rápida viagem a Washington (USA), onde participarem da solenidade do encerramento do mestrado (em Administração Pública) do filho Lucas.

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