Atemporal

Cantora baiana Milena revitaliza disco clássico do maranhense João do Vale

Programado para chegar às plataformas, ainda, este mês, o disco "João do Vale - Muita Gente Desconhece" foi idealizado por Cervantes Sobrinho, que assina a produção musical do álbum com Thiago Marques Luiz.

Mauro Ferreira/G1

Atualizada em 27/03/2022 às 10h56
Apadrinhada pelo compositor em 1977, Milena dá voz a repertório que propaga a malícia da região sem esquecer a dureza do sertão.
Apadrinhada pelo compositor em 1977, Milena dá voz a repertório que propaga a malícia da região sem esquecer a dureza do sertão. (Foto: Reprodução / Capa de disco)

Em 1977, ao ser convidado para fazer show no Projeto Pixinguinha, correndo o Brasil com artista emergente em caravana organizada pela então recém-criada Funarte, o cantor e compositor maranhense João do Vale após o início da amizade na caravana da Funarte, sugeriu que a companheira de palco fosse Milena.

Tratava-se da cantora baiana que chegara a ser contratada pela gravadora EMI-Odeon em 1975 quando a estrela maior da companhia, Clara Nunes (1942 – 1983), cogitou migrar para a concorrente Philips. Clara acabou ficando no elenco da Odeon e Milena acabou sendo posta de escanteio pela gravadora, sem conseguir decolar na carreira fonográfica.

Só que, naquele ano de 1977, apadrinhada por João do Vale no Projeto Pixinguinha, Milena acabou se tornando amiga do compositor de sucessos como Carcará (João do Vale e José Cândido, 1965), Peba na pimenta (João do Vale, José Batista e Adelino Rivera, 1957) e Pisa na fulô (João do Vale, Silveira Junior e Ernesto Pires, 1957).

A amizade gerou shows e programas de TV feitos por Milena com João do Vale na década de 1980. A proximidade tida com o compositor credencia a cantora a lançar o álbum João do Vale – Muita gente desconhece, 42 anos após o início da amizade na caravana itinerante da Funarte.

Programado para chegar às plataformas nesta primeira quinzena de agosto de 2019, o disco foi idealizado por Cervantes Sobrinho, que assina a produção musical do álbum com Thiago Marques Luiz.

Como Cervantes conta no texto escrito para a edição em CD (fabricada com tiragem de 200 cópias direcionadas somente a amigos da artista), o título "João do Vale – Muita gente desconhece" manda recado para as instituições culturais que se recusaram a bancar a produção de disco dedicado ao cancioneiro de João do Vale, compositor que deu voz ao povo nordestino, propagando na obra tanto a malícia sensual da região como as agruras enfrentadas pela população dos sertões de um nordeste historicamente castigada pela escassez de água.

Entre sucessos como Na asa do vento (João do Vale e Luiz Vieira, 1956), O canto da ema (João do Vale, Ayres Viana e Alventino Cavalcanti, 1956) e Coroné Antonio Bento (João do Vale e Luiz Wanderley, 1970), Milena reaviva músicas menos abordadas da obra do compositor. São os casos de Uricuri (Segredo do sertanejo) (João do Vale e José Cândido, 1957) e de Passarinho (João do Vale e José Longuinho, 1979), tema raro, lançado em disco há 40 anos e quase nunca lembrado.

Compositor que viveu o auge criativo na década de 1950, João do Vale ganhou visibilidade adicional entre 1964 e 1965, quando integrou o elenco do Opinião, show teatralizado que projetou Maria Bethânia, intérprete que deu asas a Carcará. Cerca de 55 anos depois do Opinião, Milena avoa com propriedade pelo nordeste de João do Vale.

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