Amor seguro, paixão insegura
Confira a coluna desta semana da sexóloga e educadora sexual Mônica Moura.
Atendi um casal com queixa clássica: "Perdemos o desejo sexual". No sofá, ele, visivelmente desconfortável e ela, mais confusa que criança em prova de física. Ele reclamava da falta de atração, enquanto ela, frustrada, tentava entender onde estava o problema.
Ele começou a contar o que no início do relacionamento ela tinha um jeito leve, livre, espontâneo. Usava vestidos curtos, o riso era solto com os amigos e ainda tinha uma “vibe natural” com a vida. Ele se sentia vivo ao seu lado, e, ao mesmo tempo, um pouco desconfortável com a quantidade de olhares que ela atraía. E não era ciúmes, mas um incômodo, uma ansiedade difícil de explicar. Pra evitar os olhares alheios, mas sem dizer que o incomodava, ele alegava que ela ficava mais elegante com algo menos chamativo.
Para agradar, ela começou a adaptar seu comportamento. Queria trazer a segurança que ele tanto precisava. Em poucos anos, se transformou na mulher "perfeita" aos olhos dele: recatada, discreta e sempre disponível a novos ajustes.
A essa altura, já deveria estar tudo sob controle, certo? Errado! Com toda essa segurança, o desejo sumiu. Ele começou a sentir saudade, vejam só, daquela mulher livre e espontânea que ele mesmo “domesticou”. E ainda confessou que agora, ao sair na rua, se pegava olhando para mulheres que se parecem com aquela “sua mulher do início”!
Ela se manifestou, furiosa: "Hey, você quer que eu seja a mulher que atrai olhares dos outros ou a esposa comportada que fica em casa? Tô mais confusa!"
Então eu precisei intervir. A questão é que ele queria a garantia de um relacionamento estável, mas com a emoção de um caso proibido. Ao pedir para a parceira se transformar, ele apagou não somente a autenticidade dela, mas também o próprio desejo.
Expliquei que é uma armadilha comum, que muitos se apaixonam pelo mistério, mas querem segurança total. Só que o desejo precisa de um toque de insegurança, de provocação, de novidade! Não se trata de voltar a usar vestidos curtos para atrair olhares, nem de agir com a adolescente que era em 1999. O desafio é trabalhar as próprias inseguranças e deixar o desejo fluir, sem tentar controlar cada detalhe. Por insegurança e medo de perder o par, ele a controlava. Por insegurança e medo de perder o par, ela se deixava controlar.
E não é fácil, mas é possível aprender a lidar com as nossas próprias inseguranças e resgatar o próprio brilho. Dá para ter amor seguro e alguns momentos de paixão, desde que cada um tenha espaço para ser quem realmente é.
Saiba Mais
As opiniões, crenças e posicionamentos expostos em artigos e/ou textos de opinião não representam a posição do Imirante.com. A responsabilidade pelas publicações destes restringe-se aos respectivos autores.
Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.