Grande Prêmio TAM culmina com bate-boca entre cineastas

Globo Online

Atualizada em 27/03/2022 às 14h59

RIO - Se nosso Oscar tupiniquim deixa a desejar em comparação à versão hollywoodiana em termos de glamour e fama, o mesmo não acontece quando o assunto é polêmica. A noite do Grande Prêmio TAM de Cinema, que consagrou os melhores de 2003 em festa realizada nesta quarta-feira no Cine Odeon BR, no Rio de Janeiro, teve direito a constrangimentos em público e ofensas a torto e a direito.

O principal pivô da polêmica foi o cineasta pernambucano Cláudio Assis, que atacou o diretor de "Carandiru", indicado em 14 categorias. O diretor de "Amarelo manga", que concorria a 13 premiações, enxovalhou Hector Babenco, enquanto ele subia ao palco para receber o prêmio de melhor diretor, que foi dividido com Jorge Furtado por "O homem que copiava".

Para a surpresa da platéia, que incluía famosos desde Caetano Veloso a Selton Mello e Rodrigo Santoro, Cláudio Assis chamou Babenco de "imbecil" e disparou uma série de impropérios ao diretor de "Carandiru". Já depois da premiação, não menos alterado, Assis justificou sua atitude dizendo que o cinema deste país devia ser realizado com "mais honestidade".

- Se ninguém tem coragem de chamar a família Barreto, Cacá Diegues e Babenco de dominadores, eu tenho - disse ele a jornalistas - Cinema nesse país tem que ser feito com honestidade.

Babenco, do alto do palco, lamentou o ocorrido tecendo, até, elogios ao ofensor.

- Gosto do filme do Cláudio (Assis), mas não sabia que ele era assim. Sei que meu filme não agrada a todos, mas superou nossas expectativas de público e vai me fazer sempre ser lembrado por ele - disse Babenco, ressaltando as dificuldades que sempre enfrentou ao fazer cinema no Brasil. - Passamos por censura, depois a democratização, algumas leis e, agora, um potencial dirigismo. Mas eles passam e nós ficamos, somos como praga.

O imbróglio quase tirou o brilho do grande vencedor da noite, Jorge Furtado. Seu segundo longa-metragem, "O homem que copiava", levou seis prêmios, incluindo melhor filme, diretor, roteiro original (ambos para Furtado), melhor montagem (para Giba Assis Brasil), melhor ator coadjuvante (Pedro Cardoso) e melhor atriz coadjuvante (Luana Piovani). Para receber todos os prêmios, foi Lázaro Ramos - indicado a melhor ator pelo filme, mas não premiado - quem subiu ao palco, já que os vencedores não estavam na festa.

Contendo-se nas primeiras vezes em só dizer obrigado, Lázaro fez questão mais tarde de lembrar Paulo José (o homenageado da noite que, segundo o ator, inspirou Furtado a escrever "O homem que copiava") e agradecer a oportunidade de estar no filme.

- Quando Jorge (Furtado) escreveu o filme, queria falar do pai que ele sempre quis ter, que era Paulo José - disse Lázaro ao receber o prêmio de melhor montagem.

Depois, completou:

- Queria agradecer a Furtado de ter me dado a oportunidade de beijar na boca e não segurar uma arma, como é comum a atores negros - disse, quando subiu ao palco para receber o prêmio dado aos atores coadjuvantes.

O mais empolgado depois de Lázaro, certamente, era Selton Mello. Ele levou o prêmio de melhor ator por seu trabalho em "Lisbela e o prisioneiro", de Guel Arraes. Concorrendo com grandes nomes como Rodrigo Santoro ("Carandiru"), Matheus Nachtergaele e Chico Diaz (ambos por "Amarelo manga"), além do próprio Lázaro, Selton custou a acreditar na premiação.

- Prêmio bom é esse que a gente não espera ganhar. Vou correr e ligar para meus pais - disse nervoso no palco, agradecendo a oportunidade a Guel Arraes.

Selton Mello foi um dos poucos famosos que ficaram para a festa após a premiação. Rodrigo Santoro, que pouco aparece em público no Rio, evitou a imprensa e saiu em seguida com a namorada e modelo Ellen Jabour. Caetano Veloso, que foi acompanhado de sua mulher Paula Lavigne e da amiga do casal Paula Burlamaqui, também preferiu sair mais cedo falando com jornalistas apenas na chegada da festa.

Perguntado se estava lá para torcer pelo filme da mulher, produtora de "Lisbela e o prisioneiro", o músico justificou sua presença dizendo-se apenas fã de cinema.

- Se eu não fosse músico queria ser cineasta, mas acho que não tenho talento. Já dirigi um filme e, mesmo assim, quero dirigir outro.

Débora Falabella, que está às voltas com as gravações da novela "Senhora do destino" e com a peça "Noites brancas" e, por isso, não compareceu à festa, ganhou o prêmio de melhor atriz por "Dois perdidos numa noite suja". Na premiação de documentário, "Nelson Freire", de João Moreira Salles levou a melhor (o filme também ganhou o prêmio de melhor som). O melhor curta-metragem de ficção foi "Bala perdida", de Victor Lopes, e de documentário, "Rua da Escadinha 162", de Márcio Câmara.

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