Visita de João Paulo II a São Luís: grande cobertura de O Estado
Completando 30 anos do acontecimento que mexeu com a cidade, reportagem detalha as circunstâncias desta visita; lembranças de quem esteve próximo ao Papa, que hoje é santo
São Luís - Ao longo das mais de seis décadas de história do jornal O Estado do Maranhão, uma das grandes coberturas e publicadas nas páginas emblemáticas do periódico foi a visita do então pontífice, Papa João Paulo II. De acordo com informações oficiais, João Paulo foi o primeiro pontífice a visitar o Brasil.
Durante o período em que esteve à frente da Igreja Católica, João Paulo II cumpriu agenda no país em três oportunidades, sendo a primeira em 1980. Na segunda, o roteiro oficial incluiu a capital de todos os maranhenses, em um episódio que mexeu com a comunidade católica estadual e de outras regiões do país, que se mobilizaram em caravanas para ver o pontífice.
A chegada ocorreu no Brasil na segunda estadia no dia 12 de outubro de 1991 e ocorreu no Rio Grande do Norte. No estado da Região Nordeste, ele foi recepcionado pelo então presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Luciano Mendes de Almeida, pelo então ministro das Relações Exteriores, Francisco Rezek e por outros representantes públicos.
Um dia depois (13 de outubro de 1991, um domingo), sob forte expectativa e espera, a aeronave oficial da Presidência da República, à época, trouxe Sua Santidade, que aterrissou no aeroporto da capital. A chegada à cidade ocorreu com atraso, devido a um problema na janela do copiloto da aeronave, o que postergou a saída do pontífice, do Rio Grande do Norte.
O beijo no solo ludovicense, marca registrada de João Paulo, foi realizado na chegada à capital. Um gesto simbólico que, para os que tem fé, confirmou o início do ato de bênção da cidade.
Após descer da aeronave e do aceno afetuoso, Papa João Paulo cumprimentou autoridades, dentre elas, o ex-presidente da República, José Sarney, o então prefeito de São Luís, Jackson Lago, o então arcebispo dom Paulo e o ex-governador do Estado, Edison Lobão. O Papa seguiu no veículo oficial, o Papa Móvel, por ruas e avenidas da capital. Em vários pontos, nos arredores, a população aguardava um gesto mínimo de cumprimento.
No roteiro, as Avenidas Guajajaras, Jerônimo de Albuquerque, Daniel de La Touche e Colares Moreira. Ao atravessar a Ponte do São Francisco, o Santo Padre chegou à Igreja de Santo Antônio, no Centro, local visitado pelo Papa.
Em seguida, sob a recepção do padre Cláudio Corrêa, que cantou a música de boas-vindas do sumo pontífice, o Papa João Paulo foi encaminhado para os seus aposentos no Seminário Santo Antônio, mais especificamente no Centro de Formação de Líderes, no primeiro andar dos aposentos santos.
De jeito simples e com ares franciscanos, João Paulo não fez grandes exigências. Apenas uma cama confortável e poucos móveis cercaram o Vigário de Cristo, em sua primeira noite na capital.
No dia seguinte, 14 de outubro de 1991, o Papa João Paulo II seguiu no Papa Móvel, para o Aterro do Bacanga, onde uma multidão o esperava. João Paulo estava acompanhado por dom Paulo Ponte, Arcebispo à época. De acordo com os organizadores da época, mais de 300 mil pessoas estiveram no espaço do Papódromo ou nas cercanias participando, direta ou indiretamente, da missa histórica.
Registros inéditos e fotográficos adquiridos por O Estado apontam que o Papa chegou aproximadamente às 9h ao Aterro do Bacanga com apelo de segurança. Um calor acima dos 30 graus era registrado na capital maranhense naquela segunda-feira histórica em que praticamente foi decretado um feriado na cidade, tamanha a comoção.
Dentro do veículo, o mesmo semblante tranquilo e singular de sempre de João Paulo II, acenando para os fiéis que, com bandeirinhas do Maranhão e do Brasil, o esperavam.
Na subida ao altar, uma multidão balançava as bandeiras e saudava o Pontífice que, com seu cajado, seguia para a tão aguardada celebração. Ao lado do Pontífice, Diáconos de diferentes partes do Maranhão.
Por questões de segurança, autoridades que acompanharam a agenda permaneceram em uma faixa isolada dos demais membros e fiéis que testemunharam a celebração. A grande massa popular esteve posicionada mais distante do palco montado especificamente para o ato nobre.
No Cântico de Entrada, o hino “Queremos Deus”, que exalta o “povo escolhido”. Toda a multidão cantou a plenos pulmões saudando o grande papa. Após o Ato Penitencial e o Hino de Louvor, veio o momento da Comunhão, feito por João Paulo e cujo “pão” simbólico fora distribuído para um público seleto, escolhido em cada paróquia da capital e de municípios do interior do estado.
A música “A Bênção João de Deus” também foi executada, em um dos momentos mais emocionantes da missa marcante. Cantores como Alcione e Gabriel Melônio também se apresentaram.
Sermão do Papa
A fala de João Paulo era muito aguardada durante o Sermão. Afinal de contas, sempre interessado nas questões sociais, o Papa visitava um país que acabara de sair de um processo de rigorosa gestão para o início da redemocratização.
No documento “Homilia do Santo Padre na Missa Celebrada para os Fiéis da Arquidiocese de São Luís do Maranhão”, documento oficial redigido pelo Vaticano especialmente para a agenda na capital, o Papa citou livros bíblicos, como Lucas (capítulo 12 e versículo 32), além de Marcos e Isaías.
Na fala, uma crítica forte ao que o Papa citou como uma necessidade de melhor distribuição de terras no Brasil. A possibilidade de discurso mais agudo foi levantada na capa por O Estado em sua edição histórica de 13 de outubro de 1991, em que o periódico trouxe um caderno especial para os seus leitores.
Ainda no discurso, João Paulo fez questão de falar que a temática de distribuição de terras era vista pela Igreja Católica. “Sob este ponto de vista, pode-se falar do elevado grau de concentração de propriedade das terras no Brasil, que exige uma justa reforma agrária”, disse João Paulo.
Segundo o Papa, era uma temática que precisava ser aprofundada. “Amados Irmãos e Irmãs, não há como não ver nesta disparidade, a existência de fatores de verdadeira injustiça que, entre outros, estão ligados aos problemas da distribuição da terra e do seu aproveitamento racional. Sabe-se que o Brasil é um país de migrantes, com milhões de trabalhadores rurais sem-terra ou com terra insuficiente para prover ao sustento das suas famílias, devendo por isso, migrar em massa para os Estados mais ricos da República. É bem conhecido o problema dos assalariados temporários, moradores das cidades e explorados no campo”, falou João Paulo a milhares de fiéis que acompanharam em pé, em sua maioria, as palavras ditas no Bacanga.
Os espectadores, por sua vez, diante do calor e da forte emoção, começaram a sentir fisicamente os efeitos do desgaste da espera e do tempo de missa, que durou mais de duas horas.
De acordo com os organizadores, mais de 300 atendimentos de pessoas com sintomas de desidratação foram contabilizados. Nenhum caso grave foi registrado.
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O Sermão e outros atos emocionaram os que ali estiveram presentes. Quem teve contato ou se aproximou do Santo Padre não se esquece do momento.
SAIBA MAIS
Em todos os atos no Brasil, o Papa João Paulo exaltou o potencial da nação brasileira para desempenhar um papel de relevância entre os povos de todo o mundo. Ele também fazia questão de lembrar sempre acerca da necessidade da atenção e solidariedade com os menos favorecidos, para a redução das desigualdades sociais e econômicas.
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