Editorial

Usar ou não usar, eis a questão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

Depois de dúvidas, questionamentos e incertezas, finalmente o governo Jair Bolsonaro se posicionou ontem com a divulgação do protocolo para aplicação da cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes em todos os casos, inclusive os com sintomas leves, para tratar do novo coronavírus. O assunto já foi motivo de piada do presidente: “Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma, tubaína”.

Sem a assinatura de nenhum médico, o protocolo tem apenas a informação de que se trata de "orientações do Ministério da Saúde para tratamento medicamentoso precoce”. Vale lembrar que o primeiro documento sobre tratamento da doença provocada pelo novo coronavírus foi divulgado pelo ministério em 6 de abril de 2020 e restringia o uso da cloroquina apenas para pacientes hospitalizados e em estágio grave da doença.

O uso do medicamento, que é muito defendido pelo presidente Bolsonaro, foi o principal ponto de divergências com os ex-ministros da Saúde Henrique Mandetta e Nelson Teich, que deixou o cargo na sexta-feira, 15, da semana passada. O protocolo foi publicado no momento em que o ministério é comandado interinamente pelo general Eduardo Pazuello.

O documento foi elaborado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde. O texto registra ainda que participaram da edição o Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias e Inovações em Saúde, a Coordenação-Geral de Gestão de Tecnologias em Saúde e a Coordenação de Gestão de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas.

Mas ressalte-se que, até o momento, pesquisas não comprovam a eficiência da droga, e, portanto, as sociedades médicas do Brasil não recomendam o uso da cloroquina. Até mesmo a Organização Pan-Americana da Saúde se posicionou desaconselhando seu uso.

Ainda segundo o protocolo, o paciente vai ter que assinar o termo de consentimento autorizando o uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento, considerando que os tais medicamentos podem causar efeitos colaterais, como disfunção cardíaca e alterações visuais, por exemplo. Os dois remédios têm formulações diferentes, mas que levam a mesma substância, a cloroquina. Os benefícios clínicos são parecidos, mas os efeitos adversos não. A hidroxicloroquina é considerada um pouco mais segura, com menos efeitos colaterais.

Diante de controvérsias, o Ministério da Saúde diz que o protocolo foi elaborado considerando a existência de diversos estudos e a larga experiência do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento dessas doenças. E acrescenta: não existe, até o momento, outro tratamento eficaz disponível para a Covid-19. O protocolo diz que existem muitos medicamentos em teste, com muitos resultados sendo divulgados diariamente e que vários destes medicamentos têm sido promissores em testes de laboratório e por observação clínica, mesmo com ainda muitos ensaios clínicos em análise.

Na avaliação do médico Evaldo Stanislau, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, o protocolo divulgado ontem seria uma medida imposta na contramão das evidências cientificas, que demonstram que não só não há benefício como há risco. "Não dá para a gente usar essa droga agora. Não tem base científica. As sociedades brasileiras, todos os grandes e respeitados institutos científicos, com metodologia e baseados em estudos, evidenciaram que a hidroxicloroquina não traz benefício, mas risco", comenta.


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