SÃO LUÍS - Uma dos ritos mais tradicionais do atual calendário junino da capital maranhense acontecerá até as primeiras horas deste sábado (29), na Igreja de São Pedro, localizada no Centro (em frente à Barragem do Bacanga). Grupos de bumba-boi de várias partes da cidade e do interior do Maranhão reúnem-se na “apertada” construção religiosa e nos arredores para receber as bênçãos de um dos santos mais tradicionais da Igreja Católica. A visão mais recente do rito e da festa cristã difere da tradição das décadas de 1930 e 1940, quando, às margens da antiga Praia da Madre Deus, pescadores e outros cidadãos bradavam ladainhas e, quando a maré enchia, percorriam trecho pelas águas em respeito e agradecimento ao padroeiro dos pescadores.
Nas últimas semanas, O Estado se debruçou sobre a história das primeiras manifestações religiosas organizadas no local e como se deu a participação dos grupos culturais neste ato que, até hoje, é acompanhado por milhares de fiéis e amantes da conhecida festa. O costume de reverenciar São Pedro e de chamar grupos, em especial, da baixada e do sotaque de matraca para o largo se deve à atuação de pessoas simples e marcantes na comunidade do Centro e adjacências.
“Zé de Zuleide” e dona Marcela
Ainda na década de 1930, no antigo ponto de encontro dos pescadores – onde atualmente funciona a sede do conhecido Boi da Madre Deus –, homens em geral (provavelmente pedindo saúde e fartura na próxima pescaria) faziam ladainhas a São Pedro. Eram várias horas no interior das instalações, ainda às margens da “praia”, para pedir bênçãos ao santo. Depois da reza, vinha a pescaria.
A aglomeração crescente de pessoas tornou inviável a reunião somente na parte interna do imóvel, especialmente pelo fato de que vários antigos moradores do Desterro (nascedouro da Ilha) também se deslocavam para os momentos de fé no espaço que, mais tarde, se tornaria o berço de uma das manifestações mais conhecidas da cidade.
Em meados de 1940, moradores se reuniram e, a partir de cota e ajuda de terceiros, construíram uma humilde capela feita de piaçaba (espécie de palmeira nativa) para dar um “pouco mais de conforto” e possibilitar o acesso de mais gente às já conhecidas ladainhas.
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Além da reza, neste tempo, já havia o costume da chamada procissão marítima, realizada sem o aporte dos anos seguintes e com características mais humildes. “Nesse tempo, as embarcações eram mais simples, e a procissão envolvia praticamente somente os moradores da comunidade da Madre Deus”, disse Regina Soeiro, uma das organizadoras da atual programação do Festejo de São Pedro.
Em 1949, sob a batuta de José Raimundo Carvalho (vulgo “Zé de Zuleide”) e de dona Marcelina Cirila dos Santos (conhecida como Dona Marcela e primeira zeladora da capela de São Pedro), estes e outros moradores da Madre Deus consultaram um amante das festas religiosas e, dizem os mais privilegiados de memória, devoto fervoroso de São Pedro. Coube a César Aboud (apontado como dono da fábrica de tecelagem Santa Isabel) a construção de uma nova capela, em substituição à de piaçaba.
A construção durou alguns meses e, no mesmo ano, foi aberta. “Era um imóvel, digamos, mais amplo e de alvenaria e que proporcionou a concentração de mais devotos”, disse Herbert Santos, que, além de jornalista, é poeta, prosador e folclorista.
Em 2007, então com 102 anos de idade, “Zé de Zuleide” honrou Herbert Santos com uma entrevista na parte interna da atual igreja de São Pedro. O pesquisador, um dos fundadores da festa de São Pedro, agradeceu ao nobre empreendedor. “Foi César Aboud quem nos ajudou a levantar a capela de telha e tijolo”, disse.
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