Amigo é pra se guardar

Amigo é para se guardar: em laços de amizade e encontros sociais

Com o advento da internet e a disseminação das redes sociais, que diminuíram fronteiras e aproximaram quem morava longe um do outro, é comum ver quem estudou ou trabalhou junto no passado, se confraternizando no presente

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27

[e-s001]Como já dizia aquela velha composição, “amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito […] e qualquer dia amigo a gente vai se encontrar”. Os trechos escritos por Milton Nascimento e Fernando Brant, na famosa “Canção da América” nem sempre são seguidos por cidadãos que, após anos de convivência em uma unidade escolar ou uma empresa, assim que se desvinculam perdem seus contatos e nunca mais mantêm proximidade com quem já foi “seu chegado”. A manutenção dos laços de amizade é um costume que, infelizmente, somente é seguido em sua maioria por quem já tem 40 anos em diante. O Estado foi atrás e encontrou diversos exemplos de grupos que, mesmo diante da distância, das várias escolhas distintas de carreiras, e do destino, permaneceram em contato e até hoje se dão bem e se encontram periodicamente.

Um destes grupos tem até nome e vinculação. A gloriosa “Turma do Irmão Itaici” faz menção a um gru­po de cerca de 40 garotos, de 11 a 13 anos que, em 1966, apenas pensava na melhor forma de se divertir - além de cumprir compromissos de sala de aula - no antigo Colégio Maristas de São Luís. Irmão Itaici (ou Itaici de Vasconcelos Sobral) era professor de canto e francês e, aos 29 anos, e obedecendo a um costume da época, foi designado para ser titular - ou uma espécie de tutor - daquela turma de garotos cuja inquietude chamava a atenção.

Irmão Itaici passou do papel de mero mentor e adotou uma postura paternalista com os seus alunos. Além do conteúdo em sala de aula, ele - que já dominava conceitos de interação de diferentes conteúdos para a formação escolar de crianças e adolescentes - também era responsável por repassar informações nas áreas da música e incentivar práticas esportivas. Por sua luta incansável, Itaici proporcionou que os seus estudantes obtivessem as melhores notas e excelente desempenho nas disputas esportivas, sempre valorizando o livro em primeiro lugar.

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Várias são as histórias envolven­do o Irmão Itaici e seus pupilos. Uma delas foi o período em que ele deu os uniformes ao time de futebol. O detalhe é que o próprio tutor foi responsável pela confecção da equipagem. “Uma vez, em uma disputa colegial, o jogador de um time adversário iria bater um pênalti contra a gente. Não contei duas vezes: fui perto dele e disse que iria perder a cobrança. Não deu outra, ele mandou a bola na lua!”, conta Itaici, em um encontro da turma, em um restaurante da capital.

Mas, para participar do time - além de apresentar boas notas em todas as disciplinas -, o aluno também deveria zelar pelos bons mo­dos. O jogador que chegasse com o blusão sujo era alvo de uma “dura” bem dada por Itaici. Outra repreensão, seria excluído do time.

[e-s001]Na música
O sucesso nos campos da “Turma do Itaici” também passou para os acordes e melodias. Ele também incentivou os garotos a formarem um coral, uma banda de música e um jogral. Tanto o coral quanto a banda marcaram época na escola.

Nas últimas décadas, Irmão Itaici permaneceu na vida e no dia a dia dos então adolescentes, e que viraram adultos. A cada lição, a cada provação, aqueles agora “veteranos”, voltam no tempo, se veem novamente como adolescentes e se lembram dos valores passados por um tutor inesquecível. “Ele [Itaici] é nosso segundo pai. Os conselhos e a dedicação nos tornaram o que somos hoje”, disse José Maria, um dos líderes da turma.

Irmão Itaici e seus alunos jamais perderam o contato após o fim do período colegial. Mesmo adultos, vários receberam os conselhos de um senhor cheio de amor e gratidão, por quem ajudou a formar para a vida. Ele ainda chamava cada aluno e adulto pe­los mesmos apelidos.

A recíproca foi verdadeira, e os alunos também não perderam contato com o mestre. Em 2017, Irmão Itaici precisou da acolhida de seus queridos para se submeter a uma cirurgia cardiológica. E quando precisou fazer o procedimento, foram seus pupilos que contou, com o jeito peculiar de conversar. “Quan­do eles [alunos] disseram que eu precisava fazer um procedimento, pensei que fosse brincadeira”, disse.

Questionado se valeu a pena toda a dedicação à turma, Itaici foi categórico. “Sim, faria tudo de novo. Sinto orgulho de ver aqueles jovens cheios de vida e com valores tão bem construídos por suas famílias estarem hoje tão bem em suas carreiras”, afirmou.

BELAS PALAVRAS

A “Turma do Irmão Itaici” foi peça de um artigo elaborado pela jornalista Jacqueline Barros Heluy em agosto de 2017. No texto, ela marcou com sensibilidade e registrou com fino trato a relação cordial, sincera e, por que não, necessária, entre tutor e seus aprendizes. No artigo, é descrito desde o momento em que o grupo se uniu até então a cena final, representada pela internação do tutor e fidelidade de seus alunos que o acudiram mesmo em situação crítica.

Artigo
Carinho e dedicação ao antigo professor mantêm unida turma de ex-alunos Marista há 50 anos

Se você entrar em algum restaurante de São Luís, em uma sexta-feira, no horário de almoço, e de repente se deparar com um animado grupo de amigos, na faixa etária de 60 anos, contando piadas, dando gargalhadas e recitando bem alto a estrofe “Por Deus, Pela Pátria e Por Maria”, olhe, sorria, siga em frente e não se assuste.

Esses jovens sexagenários, cantando o hino do Colégio Marista, são conhecidos como “A Turma do Irmão Itaici”. Há 50 anos eles se reúnem em uma sexta-feira de cada mês para relembrar as peripécias de quando frequentavam os bancos da escola, dos fatos que marcaram São Luís nas últimas cinco décadas e dos colegas que já faleceram.

Mas, o que fez essa turma se manter unida por todo este tempo?

O ano era 1966. Eram cerca de 40 garotos, entre 11 e 13 anos, como tantos outros que cursavam o antigo ginasial do Colégio Marista de São Luís. Um professor de canto e francês fez toda a diferença na formação pedagógica, na construção dos valores éticos e cristãos e marcou a vida desses estudantes para sempre.

Irmão Itaici tinha 29 anos quando foi designado para ser titular, uma espécie de responsável por aquela turma de inquietos garotos entrando na adolescência.

O jovem mestre soube construir como ninguém a autoestima dos seus alunos e, por meio da música e do esporte, fez com que a sua turma conquistasse lugar de destaque em todas as atividades realizadas pelo Marista àquela época – das excelentes notas e do melhor desempenho nos estudos, ao pódio de 1º lugar no futebol.

Os alunos relembram o incentivo que Irmão Itaici dava ao time de futebol, mandando confeccionar, por conta própria, a equipagem da equipe. E ai de quem chegasse com blusões sujos e meias rasgadas. Ele passava uma descompostura e não deixava treinar de forma alguma. “Tínhamos quer andar o tempo todo com nosso fardamento e equipagem impecáveis”, contam.

Itaici também incentivou os garotos a formarem um coral, uma banda de música e um jogral que marcaram época no Marista. O sucesso foi tão grande que as apresentações lotavam o auditório da escola. “Nós éramos a sensação do colégio”, relatam.

O tempo passou, mas o amor, o carinho e a gratidão só se fortaleceram e não permitiram que a “Turma do Irmão Itaici” abandonasse o antigo mestre.

Durante os últimos 50 anos, Irmão Itaici continuou presente na vida dos seus ex-alunos e trata a todos como se ainda fossem garotos de 11 a 13 anos. Dá conselhos e passa uma tremenda descompostura quando fica sabendo que qualquer um deles tenha cometido alguma falha grave. Ainda os chama pelos mesmos apelidos.

Os garotos, hoje jovens sexagenários, muitos já avôs, nunca abandonaram o antigo mestre.

Eles se distribuem nas tarefas de cuidar e dar carinho a Itaici. Levam-no às consultas médicas, às festas, ao shopping, atividades de lazer, aos almoços nos restaurantes e nos encontros que realizam nas casas de um deles. E religiosamente levam o professor à missa aos domingos em diferentes igrejas de São Luís.

Esta semana, o professor, hoje com 81 anos, deu um susto na sua turma. Submeteu-se a uma cirurgia para implante de quatro stents no coração.

Ao lado do leito do hospital São Domingos, lá estavam eles, os garotos da “Turma do Irmão Itaici”, cobrindo-o com o mesmo amor e carinho, como forma de dizer: muito obrigado, amado mestre!

Perfil

Jacqueline Barros Heluy é Jornalista graduada na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), com pós-graduação em Assessoria de Imprensa e Jornalismo Empresarial (Univ.Cândido Mendes) e Bacharel em Direito pelo Uniceuma.

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