A permanência dos laços de amizade

Amigos: dos corredores do campus ao desbravar das forças expedicionárias

Fora do ambiente acadêmico ou militar, grupos de amigos não perderam contato e, incentivados pelas redes sociais, passaram a se encontrar periodicamente

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27

[e-s001]A amizade, além de ser um sentimento nobre e inspirar datas comemorativas, também está prevista na Bíblia. Em Provérbios (17:17), a palavra de Deus diz que “o amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade”. Semear os bons valores da fraternidade por meio da amizade é o que muitos apontam como a grande solução para o mundo, ainda norteado de valores perversos. O Estado decidiu, esta semana, buscar exemplos de grupos que decidiram, mesmo depois de muito tempo, resgatar as relações e estimular as boas condutas. No caso destes exemplos, não faltou apego ao próximo.

Mesmo em ambientes considerados inóspitos e pouco inspirados para a amizade, houve quem formasse um grupo perene e que, até hoje, se encontra. O grupo de Fuzileiros Navais – Turma I/2001 - formado em Brasília (DF) conseguiu manter contato apesar do tempo e, principalmente, da distância. A turma tem representantes em pelo menos cinco estados (Maranhão, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Pará) e, uma vez por ano, troca a comodidade de seus lares pela interatividade em algum chalé ou imóvel do gênero em São Luís ou Belém.

A escolha da cidade depende do ano. O encontro de 2019 (4ª edição) aconteceu na capital maranhense. Foi no último dia 12 que os agora adultos e anteriores fuzileiros voltaram a relembrar histórias, a dar risadas uns com os outros e a discutir o futuro. “O que mais chama a atenção é como a gente se conheceu, em um contexto tão ruim, e como a gente está hoje, todo mun­do feliz e bem-sucedido”, disse Vinícius Rodrigues, representante da turma de fuzileiros.

[e-s001]Em 2019, a galera, que troca durante as reuniões as armas pelos espetos para o tradicional churrasco e pelo copo de cerveja (para quem bebe) faz camisa, confecciona cartaz e sorteia brindes entre eles e os membros das famílias que também participam. “É um barato se encontrar, a gente dá risadas, troca informações. E, principalmente, lembra de histórias da época de formação, que são o melhor do encontro”, afirmou.

A “farda” usada no encontro des­te ano era esverdeada, tal qual o modelo usado pelos jovens que se alistaram no início do atual século, cheios de sonhos. “A escolha não foi à toa, até porque a gente tem orgulho dessa passagem da nossa vida. Foi a partir daí que nos tornamos grandes adultos, com valores e, principalmente, cientes de que as dificuldades da caminhada são frequentes e devem ser superadas, assim como foi em nosso treinamento na formação de fuzileiros”, frisou Vinicius.

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A “caixinha”
Antes de fazer a tal “caixinha”, ou seja, a reunião de determinado valor em prol de um bem ou um serviço, os fuzileiros se reuniram anteriormente e “virtualmente” nas redes sociais, ou em grupo de WhatsApp. O grupo – intitulado de “Fuzileiros Navais. Turma 1” - ganhou administrador e vários componentes.

Lá, a turma de bons homens começa a pensar em maneiras de guardar dinheiro para ser usado no próximo encontro. “É a partir das nossas discussões, das nossas conversas que a gente viabiliza a melhor forma de reunir os valores e também de conseguir os melhores preços nos alugueis das casas e de comidas e bebidas, enfim, tudo o que envolve o encontro”, afirmou Vinicius.

Famílias também interagem
O encontro dos fuzileiros também não é um reencontro somente para os que integram o grupo ou que fizeram parte do antigo grupo das forças armadas. É também uma oportunidade para que esposas, filhos, filhas, sobrinhos e outras pessoas dos fuzileiros se encontrem e interajam. “Nossas mulheres se conhecem e, depois do início dos encontros, passaram a se falar mais e a trocar mensagens. Enfim, a gente brinca que os fuzileiros tem dentro de si outros subgrupos de amizade gerados a partir do nosso”, disse Vinícius Rodrigues, que também é um dos organizadores dos encontros.

[e-s001]Diversão garantida! A reunião dos farmacêuticos pelo Brasil afora
Em 1984, uma turma de jovens com várias metas de vida (se formar, constituir família, dentre outras metas) finalizou a etapa universitária na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) no curso de Farmácia. Ao contrário de tantas turmas que, com o fim da jornada acadêmica, despedem-se e seguem seus caminhos, um grupo de Farmácia decidiu se contrapor a essa lógica e, todos os anos, se reúne. A turma atual diminuiu (de 25 formandos passou-se a contar com até 18 participantes nos encontros periódicos). No entanto, o que não acabou foi a vontade de estar junto para zoar um com o outro, contar histórias e compartilhar das peripécias dos tempos de jovens estudantes.

Um dos integrantes do grupo é Ronaldo Pereira Filho. Ele é apontado como um dos “cabeças”, no bom sentido, dos integrantes da turma, que, uma vez por ano, interagem pessoalmente. Em 2018, a turma decidiu se encontrar em Florianópolis (SC), mas já se topou por outros cantos, como São Luís e Fortaleza. O encontro deste ano está marcado para acontecer em Goiânia, e várias pessoas confirmaram presença. “Esse é um diferencial do grupo, ou seja, o fato de a gente se encontrar em várias cidades, sempre que for possível”, disse.

A tal brincadeira começou há quatro anos e promete se tornar rotina na vida dos farmacêuticos formados. A escolha por uma cidade brasileira é explicada por aspectos de logística. “Como cada um dos integrantes mora em uma cidade, a gente meio que escolhe um lugar comum e mais fácil para todos”, frisou Ronaldo Filho.

Em cada reunião, uma casa social e/ou um restaurante são escolhidos pelo grupo – que também usa as redes sociais e em especial o WhatsApp para se comunicar e marcar futuros encontros. “A força das mídias é impressionante. A gente não conseguiria se reunir novamente se não fosse pelo impacto e capacidade destas tecnologias”, afirmou.

Um fato curioso dos encontros é que, por tradição, algumas histórias antigas e dos tempos de universidade são contadas por alguém. “Nossas esposas já sabem, não gostam. Mas todas as vezes que a gente conta, todo mundo que esteve na turma na faculdade ri como se fosse a primeira vez do relato do fato”, frisou Ronaldo.

[e-s001]Dos tempos do JH
Tempos gloriosos do jornalismo também marcam longas amizades. Nomes como Adenis Mathias, Piedade, Souzinha e Josy Ribeiro, além de Zé Filho, Biné Morais, Bil, Geraldo Castro, Étia Vale, José Ribamar Cardoso e outros fizeram parte da história do antigo JH. “Foi uma época maravilhosa, em que a gente tinha prazer de estar juntos. Muita gente des­se tempo ainda se encontra hoje”, disse Sílvia Moscoso, também representante dos áureos tempos do periódico.

DEPOIMENTO

Fugir das novas redes sociais é evitar reencontros

Por Thiago Bastos

Não tem idade. É comum ver no dia a dia não somente jovens, como também adultos, interagindo ou mexendo o celular, para curtir aquela foto, marcar aquele amigo ou mandar aquele recado para o grupo ou contato no WhatsApp. É inegável o papel das redes sociais para diminuir as distâncias e aproximar pessoas. Além disso, a ferramenta – se bem usada – pode proporcionar grandes momentos para o público que já está nos últimos tempos de vida, como rever velhos amigos e companheiros de luta de trabalho.
Se antes os mais experientes rejeitavam a ideia de terem seus smartphones, atualmente é incomum ver veteranos com os inesquecíveis “tijolões”, em que o mero jogo da “cobrinha” é um luxo. A geração mais antiga e que mantinha, há pouco tempo, aversão às novas tecnologias não abre mão agora de mandar aquela mensagem de áudio ou efetuar uma videochamada para falar com o amigo, irmão ou outros parentes que estão a léguas de distância.
Um exemplo de antiga rejeição aos aparelhos modernos e mudança de comportamento é um velho amigo de redação de O Estado. O companheiro De Jesus, competente repórter fotográfico, se orgulhava, nos meus primeiros anos de casa, de ter um pequeno celular que mal ligava, mas que, segundo ele, resistia até a um terremoto. O tempo passou e, para minha surpresa, num belo dia de trabalho, eis que ele aparece ostentando um belo smart. “Como nunca usei um?”, disse.
Quem ainda não usa pensa em usar, mas não sabe como pedir. Quem já usa quer um aparelho mais moderno. Ter um celular que proporcione acesso às redes é inevitável, principalmente para os mais saudosos, que querem rever velhos amigos. Nada contra o mais antigo, mas as redes, se usadas corretamente, fazem um bem danado para as amizades.

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