Conquista

Recuperação de Mossul abre espaço para volta dos deslocados, diz ONU

Para o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres , a retomada da cidade é "um passo significativo na luta contra o terrorismo e o extremismo violento"

Atualizada em 11/10/2022 às 12h37
Começam agora os esforços para a recuperação da cidade de Mossul (Começam agora os esforços para a recuperação da cidade de Mossul)

IRAQUE - A recuperação da cidade de Mossul pelo Exército iraquiano abre espaço para criar as condições necessárias para o retorno voluntário, seguro e digno dos deslocados pelo conflito, afirmaram ontem as Nações Unidas em um comunicado . Em nota, o secretário-geral da ONU, António Guterres, elogiou o povo e o governo do Iraque pela sua "coragem, determinação e perseverança" e disse que a retomada da cidade é "um passo significativo na luta contra o terrorismo e o extremismo violento". As informações são da ONU News.

Guterres manifestou solidariedade pela perda de vidas no conflito e desejou pronta recuperação aos feridos. Os atuais desafios em Mossul incluem a restauração do Estado de direito, evitando o retorno à violência e promovendo a responsabilização pelas violações cometidas. O secretário-geral disse através do seu porta-voz do que a ONU estará ao lado do governo nas ações para promover a volta da normalidade à cidade.

Estima-se que 700 mil pessoas ainda estejam deslocadas de Mossul, sendo que quase metade delas vive em 19 acampamentos de emergência. Muitos dos que fugiram perderam tudo e precisam de alimentos, cuidados de saúde, água, saneamento e kits de emergência.

"Quase o inimaginável"

O Escritório da ONU para Assuntos Humanitários revelou que se observam "níveis de trauma mais elevados que em qualquer lugar" em Mossul, onde as pessoas “viveram quase o inimaginável”, segundo a coordenadora humanitária da organização no Iraque, Lise Grande. Segundo ela, 920 mil civis fugiram de suas casas após o início da campanha militar para retomar a cidade em outubro de 2016.

Lise considerou um alívio saber que a campanha militar na cidade está no fim. Mas advertiu que a crise humanitária continua. As Nações Unidas atuam há meses no terreno, onde "grandes esforços foram feitos pelo governo e pelos parceiros na linha da frente para se estar um passo adiante da crise".

A coordenadora humanitária disse que as Nações Unidas fizeram o melhor possível para proteger e para ajudar a maioria dos que precisam de auxílio. Entre as próximas ações, que podem durar meses, a representante falou dos esforços de recuperação da cidade, onde 15 dos 54 bairros residenciais no oeste estão fortemente danificados e pelo menos 23 com danos moderados.

Além disso, ainda há civis em "extremo risco" estão isolados em áreas onde é provável que que ocorram confrontos. A meta é garantir que agências humanitárias estejam prontas para atuar nessas áreas.

Segundo Lisa Grande, as agências humanitárias já receberam 43% dos US$ 985 milhões do plano de resposta humanitária para o Iraque. Para cobrir as necessidades os parceiros exigem de US$ 562 milhões para atender as necessidades urgentes dos deslocados.

Reconstrução

De acordo com cálculos divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), no final da última semana, a reconstrução da infraestrutura básica da cidade vai custar mais de US$ 1 bilhão e deve levar anos.

Segundo a estimativa, o montante seria gasto para restaurar o sistema de água, esgoto e eletricidade de Mossul, reabrir escolas e hospitais, completamente destruídos por quase nove meses de combate.

Apesar da vitória do Iraque, com apoio do Estados Unidos, o governo de Donald Trump se manteve cauteloso, e não divulgou comunicado sobre o feito. Militares americanos alertam que ainda há focos de conflito, e que os militantes do Estado Islâmico devem resistir até que o último homem do grupo seja derrotado.

No domingo, enquanto o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, caminhava pela cidade saudando soldados e comemorando a retomada de Mossul, tiros e explosões ainda podiam ser ouvidos na cidade. As autoridades iraquianas confirmam que os militantes ainda controlam um pequeno reduto na cidade velha.

De acordo com generais militares, estima-se que centenas de combatentes ainda estejam dentro da cidade histórica, e que suas famílias - especialmente mulheres e crianças - estejam sendo usadas como escudos humanos.

Ajuda Internacional

Ontem, o Irã felicitou o Iraque pela vitória, e ofereceu ajuda para reconstruir a cidade. "Felicitamos a população corajosa e o governo do Iraque pela libertação de Mossul", escreveu no Twitter o ministro iraniano das Relações Exteriores, Javad Zarif.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, também comentou o tema, dizendo que a retomara era uma boa notícia, e manifestando preocupação com as condições da cidade de Mossul.

"A cidade foi deixada em ruínas. Quem vai pagar o preço da reconstrução da cidade para o povo de Mossul?", questionou, durante um evento em Istambul.

Crise Humanitária

Além de grande parte da cidade ter sido destruida durante os combates, milhares de pessoas foram mortas e mais de 900 mil deixaram suas casas, segundo a ONU. Cerca de 700 mil moradores de Mossul ainda permanecem deslocados.

"É um alívio saber que a campanha militar em Mossul está terminando. A luta pode terminar, mas a crise humanitária não", comentou a Coordenadora Humanitária da ONU no Iraque, Lisa Grande.

"Muitas das pessoas que fugiram perderam tudo. Elas precisam de alimento, cuidados de saúde, água, saneamento e kits de emergência. Os níveis de trauma que estamos vendo são altíssimos. O que essas pessoas viveram é quase inimaginável", comentou.

No domingo, mulheres, crianças e jovens esperavam em fila, sob um sol escaldante, para receber ajuda de organizações humanitárias. Eles haviam sido resgatados de Maidan, um dos últimos bairros a serem retirados das mãos dos terroristas.

Na calçada, uma menina de cerca de 3 anos andava perdida. Cabelo castanho desgrenhado, túnica azul-turquesa e atadura branca no pescoço, ela apertava contra o seu coração uma pequena garrafa de água meio vazia.

Um pouco mais adiante, uma jovem mãe, túnica preta e um véu azul, agachava-se contra uma parede. Primeiro prostrada e silenciosa, ela implorou ao soldado mais próximo para ouvir sua angústia.

Uma hora antes, ela perdera seu filho de 7 anos de idade em um bombardeio quando a família, escondida há vários meses, preparava-se para fugir. "Eu não pude fazer nada", ela gritava, desfigurada pela dor.

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