Crime

Animais silvestres do Maranhão são alvo de cobiça de traficantes

O Maranhão é um dos estados onde ocorre grande parte da captura desses animais, crime que contribui para redução da fauna

Atualizada em 11/10/2022 às 12h41
Ararajuba do Brasil é uma das espécies que mais chamam a atenção dos traficantes pela plumagem amarelo-ouro, com pontas da cauda das asas coloridas de verde-oliva; ela é encontrada exclusivamente entre o norte do Maranhão, sudeste do Amazonas e norte do P (Ararajuba)

O tráfico de animais no Maranhão é preocupante. O estado é uma das unidades da Federação onde ocorre grande parte das capturas de animais no Brasil, que é um dos países que mais exporta animais silvestres ilegalmente. A principal rota do tráfico de animais silvestres começa na Região Nordeste, com a retirada de espécies da natureza, e segue até o grande mercado consumidor da fauna no país: a Região Sudeste.

O Batalhão da Polícia Ambiental resgatou durante o ano passado, somente na capital, São Luís, 125 aves silvestres. Os resgates se deram nos casos em que os animais estavam sendo criados e comercializados, ou ainda sob o porte de pessoas sem autorização. Um número considerado baixo em comparação ao número de resgates realizadas no país.

O tráfico é um negócio que movimenta mais de US$1 bilhão e comercializa cerca de 12 milhões de animais anualmente no país. É uma das maiores ameaças à natureza, diz o Instuto Brasileiro de Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O instituto também aponta que, no Brasil, as aves são as mais comuns em apreensões de tráfico. A verdade é que o tráfico de animais silvestres está entre as atividades ilícitas mais praticadas no mundo, atrás apenas do tráfico de armas, tráfico de drogas e tráfico de seres humanos, segundo a Polícia Federal.

O Ibama apreendeu, até setembro de 2016, mais de 8,8 mil animais silvestres pelo país. Em 2009, o número ultrapassou os 31 mil; o que significa que está havendo maior conscientização. Hoje, as pessoas denunciam quem captura, comercializa ou maltrata animais silvestre, diz o instituto.

Renda

As principais ‘fornecedoras’ de animais para o tráfico são as pequenas populações ribeirinhas, onde há um elevado grau de pobreza. A falta de capacidade financeira, em épocas de estiagem, por exemplo, leva essa população a recorrer a outras formas de renda, como a venda de espécies disponíveis em sua região.

Sem suporte, algumas pessoas recorrem ao tráfico como um meio de sobrevivência. Além da comercialização por intermédio de traficantes, a venda de animais também acontece em estradas pelo país, principalmente na Região Nordeste.

“É comum a venda de tartaruguinhas e jiboias, levadas por turistas como ‘lembranças’. Ainda assim, isso é minoria. Os animais são, em geral, encomendados, e o valor pago é muito baixo”, diz Raulff Ferraz Lima, coordenador executivo da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas).

Segundo o Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, publicado pela Renctas, 60% dos animais comercializados ilegalmente são para consumo interno, o chamado tráfico doméstico. Seguem para destinos internacionais 40% dos animais retirados da fauna brasileira.

De acordo com Lima, a exportação ilegal de aves e peixes ornamentais é feita, principalmente, para a Europa. Na Ásia, o consumo majoritário é de répteis e insetos. Já na América do Norte, o mercado consome principalmente primatas, papagaios e araras.

No Brasil, de forma geral, as aves são as mais comuns em apreensões de tráfico. Segundo o Ibama, elas correspondem a 80% do total, sendo que destas, 90% são passeriformes, os pássaros, caracterizados pelo belo canto (curió, canário da terra, coleiros e trinca-ferro, por exemplo). Os psitacídeos (maioria papagaios, seguido de jandaias, periquitos e araras) representam 6% e as demais ordens de aves correspondem aos outros 4% das apreensões. “As aves são as preferidas por suas características de cores e canto diferenciadas, e pelo valor que têm”, afirma o coronel Rabelo.

Crime

O tráfico de animais silvestres pode ser enquadrado em algumas categorias, cada um com particularidades com relação a destinos e animais “prediletos”. O mercado que movimenta a maior soma de recursos no país é o de colecionadores particulares. Eles priorizam animais ameaçados de extinção, que são mais caros e provocam um impacto maior no meio ambiente.

Já os animais para companhia mais populares são iguanas, jiboias, arararas e papagaios, além de pássaros de canto e macacos. Outro uso comum de animais traficados é a biopirataria – que retira animais da natureza para pesquisas científicas. As serpentes venenosas e os insetos aparecem como os mais procurados nesta categoria.

Especialistas ressaltam que não são comuns apreensões de insetos, aracnídeos e serpentes, isso porque são animais muito pequenos, transportados, em geral, já mortos, e por meio de serviços postais.

Saiba mais

Animais silvestres não são domésticos

Animal silvestre não é o doméstico. O doméstico já está acostumado a viver perto das pessoas, como os gatos, cachorros, galinhas e porcos, entre outros. Já o animal silvestre foi tirado da natureza e reage à presença do ser humano. Por essa razão, tem dificuldades para crescer e se reproduzir em cativeiro. O papagaio, a arara, o mico e o jabuti, ao contrário do que muitos pensam, são animais silvestres.

Diversas espécies já estão extintas

Segundo a Organização Não Governamental (ONG) WWF-Brasil, o tráfico de animais pode contribuir para a redução de espécies na natureza, tornando-as ameaçadas de extinção no país ou localmente. Alguns exemplos de animais ameaçados e objetos do tráfico são a arajuba, o papagaio-chauá, o curió, o bicudo e o cardeal.

O tráfico contribuiu para a extinção na natureza da ararinha-azul, que hoje só existe em cativeiro. A ararajuba (Aratinga guarouba), a ave símbolo do Brasil, habita a Reserva Biológica do Gurupi.

O controle do tráfico de animais silvestres no Brasil se dá, em sua maioria, a partir de denúncias anônimas. Há fiscalização nas rotas já conhecidas como usadas pelo crime, com o auxílio da Polícia Federal, mas os animais são transportados, muitas vezes, de forma a não chamar a atenção dos agentes.

A maior parte dos animais é transportada em veículos de pequeno porte, utilizando técnicas que levam muitas espécies à morte. Eles usam malas de viagem, fundos falsos de carro, e optam por trazer essas espécies como filhotes, porque dão menos trabalho e chamam menos a atenção.

Fiscalização

Já o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) fiscaliza por meio de atividades de investigação e inteligência e recebimento de denúncias. O objetivo dessas atividades de investigação é averiguar a existência do tráfico de animais e detectar os envolvidos.

A análise do Sistema de Cadastro de Criadores Amadoristas de Passeriformes (Sispass) ajuda a identificar procedimentos suspeitos realizados pelos criadores, e assim direcionar operações de fiscalização. Tráfico é o comércio ilegal. Traficar animais significa capturá-los na natureza, prendê-los e vendê-los com o objetivo de ganhar dinheiro. Participar disso é crime.

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