Raio-X São Luís

Abandono, insegurança e obras inacabadas são o retrato da educação municipal em São Luís

Apesar dos avanços divulgados pela prefeitura da capital, ainda há muito que ser melhorado em uma das áreas mais importantes da cidade

Liliane Cutrim/Imirante.com

Atualizada em 11/10/2022 às 12h46
A UEB Alberto Pinheiro, no Centro da Capital maranhense, ficou abandonada por cinco anos.

SÃO LUÍS – Você já ouviu falar desses problemas: falta de escolas, abandono, insegurança, falta de material escolar e de professores? Esse é o resumo de como está a educação na rede municipal de São Luís. Nossa equipe de reportagem visitou algumas escolas da cidade e apurou que, apesar dos avanços divulgados pela prefeitura da capital, ainda há muito que ser melhorado no setor.

Abandono

O abandono dos prédios escolares prejudicou muitos alunos nos últimos anos, em São Luís. Em escolas como a Unidade de Ensino Básico (UEB) Pedro Marcosine Bertol, no bairro do Jaracati, a demora das obras de reforma da unidade causou protestos por parte dos pais de alunos em maio deste ano.

“Disseram que iam começar a reformar a escola, mas ela está abandonada. Nem Visitar eles vêm. Se trata de crianças que, segundo as autoridades, são o futuro do Brasil. Então, tem cuidar delas, tem que dar escola. O lugar das crianças é na escola”, afirmou, na época, Maria Auxiliadora, mãe de um aluno da unidade escolar.

Com o protesto, a Secretaria Municipal de Educação (Semed) tomou providência e concluiu a reforma da escola, que agora está em pleno funcionamento.

Mas, os alunos da escola mais tradicional da rede municipal de São Luís não tiveram a mesma sorte. O prédio da UEB Alberto Pinheiro, situada no Centro da capital, ficou abandonado por cinco anos, tendo as suas atividades transferidas para um prédio alugado na rua do Passeio, o que deixou alunos e ex-alunos revoltados com o descaso com o patrimônio público e, principalmente, com a educação. Apesar de a reforma no prédio já ter começado, a demora na finalização das obras preocupa.

UEB Alberto Pinheiro fica no Centro de São Luís.

Funcionários da escola, que preferem não identificar-se, afirmam que já tem três meses que os operários trabalham só no telhado do prédio, que a cada dia fica amis deteriorado e, ao que tudo indica, a obra ainda vai demorar muito a ser concluída.

Muitas escolas da zona rural, apesar de funcionarem, também estão com prédios deteriorados, em completo abandono, como é o caso da UEB Saraiva Filho no Cajupe.

Insegurança

Nos últimos meses, as escolas municipais da capital também sofreram com a violência. Foram assaltos, invasões, incêndios, vândalos depredando o patrimônio, além de alunos feridos.

A UEB Professor João de Souza Guimarães na Divineia, por exemplo, foi alvo de criminosos seis vezes. O último registro foi em março deste ano, quando bandidos invadiram o local e levaram objetos de valor da unidade escolar, além de danificarem o patrimônio.

UEB Professor João de Souza Guimarães no bairro da Divineia

Outro caso de insegurança foi na UEB Roseno de Jesus Mendes, que fica na Vila Janaína. Sem vigilantes, a escola foi incendiada em fevereiro deste ano. Na época, a Semed afirmou que a Polícia Militar do Maranhão (PM-MA) e a Guarda Municipal iriam fazer a segurança no entorno da escola e que uma nova empresa de vigilância estava sendo contratada.

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Escolas de tempo integral e creches

A ausência de educadores, principalmente nas escolas de tempo integral é uma preocupação. Segundo o Sindicato dos Professores (Sindeducação), apesar de o prefeito Edivaldo Holanda Júnior ter prometido, durante sua campanha eleitoral, que construiria 20 escolas de tempo integral, tem apenas quatro escolas funcionando e de forma irregular, já que o número de cuidadores é insuficiente para um ensino integral de qualidade, faltam dormitórios para as crianças, além de merenda escolar suficiente.

U.E.B Newton Barjonas Lobão está abandonada.

“Nas U.E.B’s Newton Barjonas Lobão e Recanto dos Pássaros, o estado é de pleno abandono. As escolas pertencem ao projeto de creche por tempo integral; entretanto, a Newton Barjonas não funciona e o prédio está sendo tomado pelo matagal da região; já a escola Recanto, funciona em condições indignas de infraestrutura, cuja caixa d’-água do local está prestes a desabar por conta da ferrugem na estrutura”, relatou o Sindeducação em abril deste ano, após vistoriar algumas escolas da capital.

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Outra promessa de campanha do prefeito da capital foi a construção de 25 creches, no entanto, boa parte das construções anunciadas não saiu do papel. Na última terça-feira (19), um grupo do Sindeducação vistoriou as obras de escolas e creches (18 no total), nos bairros da Chácara Brasil (Turu) e Morada do Sol (Maracanã), nas quais o dinheiro destinado para a construção das instituições somam R$ 35 milhões, financiados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Segundo o Sindeducação, durante a fiscalização, chamou a atenção da diretoria do Sindicato que faltam informações sobre o início de algumas construções.

“O Sindeducação está fiscalizando as tão sonhadas construções que os professores esperam em relação às creches e escolas do Ensino Fundamental, em São Luís. Hoje, nós temos quase 50% de anexos, inclusive está na pauta de nossas reivindicações o fim desses anexos e o início de construções de novas escolas. Desde 2013 estamos cobrando a construção das 13 creches e 5 escolas e até agora não houve comprometimento do governo municipal em proporcionar para a comunidade uma mudança no perfil educacional que hoje temos”, afirma a presidente do Sindicato, professora Elisabeth Castelo.

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Falta de material escolar

Essa é outra reclamação constante de quem trabalha com a educação municipal em São Luís. Segundo o Sindicato dos Professores, faltam nas escolas material de expediente, material permanente, didático, pedagógico e material de recreação.

Com a violência sofrida por muitas unidades escolares, boa parte do material escolar foi destruído ou furtado. Um exemplo disso é a UEB João de Souza Guimarães, citada anteriormente nesta reportagem na parte de insegurança. No mês de janeiro, alunos da escola protestaram contra o descaso no local. Entre as reclamações estava a falta de material para os professores, Já que vândalos tinham invadido a unidade escolar e feito um estrago.

Greve dos professores

Tais problemas relatados foram alvos de diversas reclamações do Sindeducação, o que levou os professores a fazerem uma greve na rede municipal de ensino, que durou 35 dias.

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Na pauta de reclamações configurava como demandas urgentes:

  • Recomposição das perdas salarial dos últimos cinco anos (31,46%);
  • Segurança em 100% das escolas da rede pública municipal;
  • Condições estruturais dos prédios escolares, calendário de manutenção, reformas, climatização e informatização das escolas.
  • Planejamento de reformas e manutenção das escolas;
  • Condições de trabalho;
  • Concurso Público e fim dos serviços terceirizados;
  • Recursos Didáticos e Pedagógicos;
  • Nomeação e posse dos membros dos Conselhos Municipais de Educação e FUNDEB;
  • Eleição Direta para gestor de escola (até junho 2016);
  • Revisão dos contratos dos salários dos professores seletivados e pagamentos do adicional de férias;
  • Estabelecer prazos para demandas urgentes.
Veja mais itens da pauta de reivindicação dos professores

Apesar de a categoria ter retomado as atividades, muitas demandas dos professores, ainda, não foram atendidas pela Prefeitura de São Luís.

Sobre os problemas na rede municipal de ensino apontadas nesta reportagem, a Semed afirmou por meio de nota que:

“A Secretaria Municipal de Educação (Semed) informa que as creches em tempo integral estarão funcionando plenamente já na volta às aulas, em agosto. Quanto à restauração da Unidade de Educação Básica (U.E.B.) Alberto Pinheiro, a Semed esclarece que a obra está acontecendo de acordo com o cronograma estabelecido pela Secretaria e que os serviços necessários no local incluem intervenções estruturais e de sustentação do prédio. A Secretaria também reforça que está requalificando cerca de 60 unidades de ensino da rede municipal. Quanto à segurança escolar, a Semed ressalta que já reforçou o sistema de vigilância das unidades de ensino, com a implantação de novos postos, acompanhamento diário por meio da Superintendência da Área de Segurança Escolar e reforço das parcerias já existentes com a Guarda Municipal e a Polícia Militar”.

Sobre a construção de creches, a Semed “esclarece que tomou todas as providências necessárias para a construção das creches, mas a empresa responsável pela obra, vencedora de licitação realizada pelo governo federal, não cumpriu com os compromissos estabelecidos em contrato. A Semed informa ainda precisou aguardar distrato feito pelo governo federal e autorização para licitar as obras em nível local. A Semed informa ainda que já estão em curso as obras de três creches.

Quanto às escolas de tempo integral, a Secretaria informa que está em curso a contratação de cuidadores e a aquisição de equipamentos para que as creches possam funcionar em tempo integral. A Semed reforça, por fim, que fomenta o tempo integral para estudantes do Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano por meio dos programas Mais Educação e Segundo Tempo”.

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