Quando o futuro cabe num papel dobrado
Um bilhete premiado pode mudar trajetórias, mas não apaga o que nos sustenta.
Todo fim de ano ensina o Brasil a sonhar em silêncio. Um papel pequeno, seis números escritos à mão, guardados com cuidado no bolso ou entre as páginas da carteira. A notícia anuncia um prêmio quase inimaginável - um bilhão de reais - mas o que realmente se espalha pelo país não é o valor, é a possibilidade.
A Mega-Sena da Virada nunca foi só um sorteio. Ela chega como um intervalo raro, uma fresta aberta no calendário. Aqui no Maranhão, ela se mistura ao calor de dezembro, às ruas cheias, às conversas rápidas na fila da lotérica, ao comentário leve no comércio, ao sorriso meio descrente de quem aposta mais por esperança do que por cálculo.
Desde que a Mega da Virada existe, o prêmio sempre se dividiu. Nunca houve um único dono da sorte. Talvez porque a esperança, quando compartilhada, pese menos. Talvez porque o acaso também saiba que sonhos grandes demais ficam mais bonitos quando repartidos.
No Maranhão, aprendemos cedo que riqueza não se mede só em números. Ela mora no tempo partilhado, no respeito às histórias, no valor da palavra dada. Um bilhete premiado pode mudar trajetórias, mas não apaga o que nos sustenta. Ele apenas amplia horizontes - e horizontes, aqui, sempre foram largos.
Enquanto os números não são revelados, o país inteiro se iguala. Todos são apenas pessoas esperando. Nesse instante breve, ninguém é pobre nem rico: todos são futuros possíveis. E é justamente aí que mora a beleza.
Quando o ano acabar, alguém ganhará. Muitos não. Mas a vida continuará exigindo o essencial: Coragem para seguir, cuidando com o que permanece e reconhecendo que nem toda fortuna da vida cabe apenas num bilhete!
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