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É economista com experiência nacional e internacional em análises macroeconômicas e microeconômicas. Possui habilidade em análises setoriais, gestão do capital humano, orçamentos e finanças.
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A falta de capacidade de armazenagem de grãos

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o déficit de armazenagem na safra 2022/2023 é de 118,5 milhões de toneladas

Wagner Matos

Atualizada em 02/11/2023 às 08h49
Esse déficit é resultado de uma combinação de fatores. (Foto: Divulgação)

O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, sendo o segundo maior produtor de grãos, atrás apenas dos Estados Unidos. No entanto, o país enfrenta um problema seríssimo de falta de capacidade de armazenamento de grãos. 

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o déficit de armazenagem na safra 2022/2023 é de 118,5 milhões de toneladas, a falta de unidades armazenadoras responde por 45,52% das perdas pós-colheita no Brasil. Neste ano de 2023, o país acumulou perdas em torno de R$ 30,5 bilhões devido a essa falta de capacidade de armazenamento. A soja e o milho foram os mais afetados, com perdas estimadas em cerca de R$ 19 bilhões e R$ 11,5 bilhões, respectivamente

Esse déficit é resultado de uma combinação de fatores, que incluem:

Crescimento da produção de grãos: A produção brasileira de grãos cresce, em média, 2,5% ao ano. No entanto, a capacidade de armazenamento cresce apenas 1,5% ao ano.

Concentração da produção: A produção de grãos no Brasil está concentrada nos estados do Centro-Oeste, que são os principais produtores de soja, milho e algodão. A maioria dos estados têm uma capacidade de armazenamento menor do que a necessária para atender à demanda.

Falta de infraestrutura: A pesquisa realizada pela Esalq-Log (USP) aponta que 61% dos produtores rurais brasileiros não têm infraestrutura de armazenagem na propriedade. Isso significa que muitos produtores são forçados a vender seus grãos logo após a colheita, quando os preços geralmente são mais baixos e traz limitação no lucro. Além disso, a falta de armazenamento pode levar a perdas de safra, pois os grãos podem ficar expostos a condições climáticas inadequadas.

A pesquisa Esalq-Log (USP) também revelou que a maior parte dos produtores rurais querem expandir a capacidade estática de armazenagem. As regiões com maior interesse são: Norte (82,7%), Centro-oeste (78,4%) e Matopiba (73,3%), que inclui o Maranhão. A pesquisa mostrou que a armazenagem traz ganhos econômicos ao produtor rural. Quando questionados sobre o ganho econômico médio com o uso do armazém, nas últimas três safras, comparado ao preço médio na época de colheita, 40,8% tiveram ganho entre 6% e 20%

O Maranhão é um dos principais produtores de grãos do Brasil, mas enfrenta também essa falta de capacidade de armazenamento de grãos, mesmo tendo investimentos constantes em infraestrutura portuária com o objetivo de ampliar às exportações na região. Os dados da CONAB demonstram a capacidade de armazenamento de 1,8 milhão de toneladas, mas a produção de grãos em 2023 estimada é de 2,5 milhões de toneladas.

O governo do estado do Maranhão precisa investir mais recursos na logística regional e incentivar o setor privado nesta expansão da produção, porque esse setor contribui significativamente para arrecadação de impostos. Recentemente, a Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que suspende, por cinco anos, a cobrança de tributos federais para a construção de silos. O objetivo do texto é expandir a capacidade de estocagem de produtos agropecuários do país, como os grãos.

Com base nessas informações, sugiro algumas medidas específicas que o governo do Maranhão pode tomar para aumentar a capacidade de armazenamento de grãos: Aumentar os investimentos públicos na região produtora e em áreas específicas para silos e armazéns de grãos; criar incentivos fiscais para que empresas invistam em armazenamento de grãos e desenvolver parcerias com o setor privado para a construção e operação de silos e armazéns de grãos.

Afinal, essa falta de capacidade de armazenamento é um problema significativo que afeta a economia agrícola do Brasil e do Maranhão. É necessário um investimento considerável de longo prazo, que exige um planejamento cuidadoso para atender os produtores e melhorar a infraestrutura existente. Consequentemente, teremos um ganho econômico impulsionado pelo setor, que vai gerar emprego, renda e arrecadação de impostos.

Estimativa de produção de grãos no Maranhão. (Foto: Divulgação)

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