Entrevista

Policial presa por recusar hora extra para amamentar filho deve pedir exoneração

A soldada Tatiane Alves diz que se sentiu injustiçada e que teme novas retaliações na corporação.

Imirante.com, com informações do g1 Maranhão

Atualizada em 27/03/2022 às 11h01

SÃO LUÍS - A soldada da Polícia Militar do Maranhão (PM-MA), Tatiane Alves, de 32 anos, revelou, nesta sexta-feira (24), que deve pedir exoneração do cargo quase 20 dias após ter sido presa por ter se recusado a fazer hora extra para amamentar o filho. Policial militar há quase oito anos, Tatiane está com medo de novas retaliações e quer sair da corporação depois do fim do tratamento psicológico no qual tem sido submetida desde a prisão.

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"Considero a Polícia Militar muito importante para a sociedade, mas o militarismo eu acho muito defasado, que não precisa ser modelo. Eu não me vejo mais na PM, porque eu não aceito mais algumas situações, então sei que vou sofrer ainda mais retaliação ali. Eu prefiro pedir exoneração e procurar outro meio de trabalho. E vou fazer isso após o fim do meu tratamento", revelou a policial, em entrevista exclusiva ao g1 Maranhão.

Tatiane Alves revelou que não é a primeira vez que é vítima de casos de assédio moral e até sexual dentro da Polícia Militar. Por causa disso, a soldada teve que ficar afastada para tratamento de ansiedade e depressão e se mudou de Imperatriz, onde nasceu, para São Luís, com o objetivo de evitar novos casos e recomeçar a vida com a família.

"Eu já passei por problemas psicológicos devido ao assédio sexual que sofri ano passado na instituição, então fiquei praticamente um ano afastada em tratamento contra ansiedade e depressão. Então, solicitei a transferência para São Luís, pensando que fosse diferente. Mas chegando aqui, com menos de dois meses, aconteceu isso", afirmou a policial.

A Promotoria de Justiça Militar está investigando o caso envolvendo Tatiane Alves, que também virou alvo de Inquérito Policial Militar por ter se recusado a permanecer no posto de trabalho. A soldada diz que se sentiu injustiçada e afirma que os direitos dos policiais militares são negados pelos superiores em muitas situações.

"Mesmo sendo vítima dessa situação, eu fui colocada como acusada. Então, de acordo com o Código Penal, a minha conduta seria ilegal. Eu me senti injustiçada, mas não é primeira vez que esse tipo de situação acontece comigo. Eu achei necessário mostrar para a sociedade como é dentro dos portões da instituição, infelizmente a gente é muito oprimido e nossos direitos são negados em várias situações", disse.

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Tatiane Alves afirma ainda que não esperava tanta repercussão sobre sua prisão e revelou que muitos colegas da Polícia Militar prestaram apoio após o caso. A soldada espera que, a partir desse episódio, algo possa ser feito para evitar casos de assédio, opressão e humilhação dentro da corporação.

"Eu esperava que isso fosse resolvido administrativamente, mas tomou uma proporção tão grande, que me assustou. Mas a população não entende como é a Polícia Militar, só quem está lá dentro sabe o quanto a gente é oprimido, é humilhado e a gente não tem o amparo legal para o assédio moral. Infelizmente não tem um órgão responsável por essas denúncias. Quando a gente denuncia, é a Corregedoria da Polícia Militar que é formada por oficiais. E a maioria dos assediadores, são oficiais, que acabam escondendo a situação. Recebi muito apoio, não só das policiais femininas, que sofrem assédio sexual desde o curso de formação, onde muitos já tem um pensamento machista de que a gente entra na corporação para servir de objeto. Mas os homens também sofrem assédio moral e muitos entraram em contato comigo. Muitos falaram sobre a perseguição velada, onde muitos usam o próprio sistema militar para nos punir por algum questionamento, já que não podemos questionar nada na PM", lamentou.

Procurada pelo Imirante.com, a Polícia Militar do Maranhão (PM-MA) ainda não se manifestou sobre as acusações.

Entenda o caso

A soldada Tatiane Alves foi presa no último dia 5 de setembro, após se recusar a fazer hora extra enquanto realizava um patrulhamento policial no Centro Histórico de São Luís, por precisar amamentar o filho de dois anos.

Após cumprir as seis horas de trabalho em pé e sem pausa para alimentação, Tatiane recebeu uma ordem do tenente Mário Sérgio Oliveira Brito para continuar trabalhando. O filho e o marido da soldada já estavam no local esperando para ir para casa, mas ela recebeu voz de prisão após questionar o tenente sobre a situação.

"Quando eu fui questionar a respeito do policiamento, do horário, eu não quis me ouvir. Ele só disse que se eu não cumprisse a ordem determinada por ele, eu seria presa. Eu pedi para o meu marido filmar porque eu saberia que de lá eu não sairia se não fosse presa. E aí, infelizmente, ele me deu voz de prisão", afirmou a policial.

Tatiane Alves foi conduzida ao Comando Geral da Polícia Militar, em São Luís, onde ficou presa por 24 horas. "Fiquei isolada completamente, sem acesso a ninguém, somente com os policiais que levavam minha alimentação. O diretor do Presídio, foi uma pessoa extremamente compreensível com a minha situação, ele entrou em contato com meu esposo, para que ele pudesse ao menos no início da manhã e da noite, levar meu filho para ser amamentado", disse.

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