Em dez anos, cinco pessoas já morreram ao cair em voçorocas em Buriticupu
Na segunda-feira (1º), um policial militar aposentado caiu em uma das voçorocas enquanto manobrava a própria caminhonete, mas foi resgatado com vida.
BURITICUPU - Em dez anos, cinco pessoas já morreram ao cair em voçorocas, no município de Buriticupu, cidade a 395 km de São Luís. Na segunda-feira (1º), um policial militar aposentado caiu em uma das crateras enquanto manobrava a própria caminhonete, mas foi resgatado com vida.
Buriticupu tem uma das maiores concentrações de voçorocas do país. Ao todo, 26 crateras avançam pela cidade há pelo menos 30 anos. Casas já foram 'engolidas' pelos abismos, e bairros inteiros estão ameaçados.
Voçorocas
Voçoroca é o nome científico do fenômeno erosivo que atinge o lençol freático. De acordo com Marcelino Silva Farias, professor do departamento de Geociência da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e doutorando em ciência do solo, a universidade alertou as autoridades, por meio da publicação de artigos em revistas, sobre o problema. Para o pesquisador, faltou planejamento no modelo de urbanização e ação para combater o avanço das crateras em Buriticupu.
"Poderia ter sido feito, antes que eles surgissem, deveria ter tido um planejamento adequado para a cidade. E posteriormente um planejamento adequado para a cidade. Surgiu um problema, vamos conter", disse o professor.
Marcelino Silva, que acompanha a situação desde 2012, afirma que as chuvas concentradas, o relevo da área e a presença do ser humano, são alguns dos fatores que contribuem para a aceleração do fenômeno.
"O relevo, o solo, os vale que estão sendo formados, as chuvas concentradas que estão sendo formadas, que condicionam esses processos naturalmente. Só que esses processos são acelerados pela presença do ser humano, aí entra a questão do planejamento urbano ou a falta dele, entra também as cidades construídas em locais inadequados, entra também o sistema de pavimentação sem esgotamento sem escoamento adequado", explica.
Não tendo a mesma sorte do policial militar aposentado José Ribamar Silveira, o filho da lavradora Maria Antônia Costa morreu há sete meses ao cair em uma voçoroca.
No dia da tragédia, toda a área estava encoberta por água, inclusive as calçadas que têm cerca de 1,5 metro. O filho da lavradora foi arrastado cerca de 150 metros até a cratera e acabou caindo no abismo. No local, a Prefeitura de Buriticupu chegou a fazer uma obra paliativa para tentar conter o avanço da voçoroca, mas não colocou proteção.
"Quando chegou bem aí na esquina, pegou ele e jogou ele naquela parede alta bem ali. Acho que quando jogou ele, ele já ficou desacordado. Ai a água arrastou, assim como aconteceu com ele, já aconteceu outras mortes, mais duas. Uma parecida com ele porque nesse tempo tinha um buraco ali que podia colocar duas casas dessa, que ninguém alcançava", relembra Maria.
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Mais de 50 casas já foram engolidas pelas voçorocas em Buriticupu. Atualmente, 27 famílias foram retiradas de suas casas e outras 200 correm o risco de perder suas residências devido a fenômeno.
O lavrador Francisco Alves já perdeu uma casas e corre o risco de perder a segundo por conta das crateras que avança próximo ao imóvel.
"Tá vendo é cair de novo né? Porque já está desse jeito", disse o lavrador.
Estado de calamidade pública
Em março, a Defesa Civil Nacional esteve em Buriticupu avaliando a situação. Na época, foi decretado estado de calamidade pública. O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional se comprometeu em ajudar a resolver o problema.
"Já publicamos artigos em revistas alertando que se não for feito um planejamento, não for feita a contenção, a cidade tende a desaparecer. Mas o desaparecimento ele é naquele local, a cidade vai crescendo para outros locais e outros pontos problemáticos surgirão", diz Marcelino Silva Farias.
Voçorocas em outras cidades do Maranhão
O fenômeno das voçorocas também atinge outras cidades do Maranhão, como é o caso de Bom Jesus das Selvas, a 465 km de São Luís, onde muitas casas desabaram com as erosões e outras foram abandonadas pelos moradores.
Cerca de 200 famílias que residem próximo às crateras, vivem com medo de perder tudo.
"É um buraco mais horrível do mundo. Já caiu duas barreiras ou três para o lado de cá, mas para o lado de cá não. E eu estou pensando que vai cair viu? E a terra é toda mole", desabafa Elsa Lima, lavradora.
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