Testemunha de assassinato

Lavrador que testemunhou morte de comerciante reaparece e relata que foi torturado e quase executado por PMs em Bacabal

O lavrador José de Ribamar contou que ficou uma semana escondido no mato, pois havia sido levado por policiais militares para ser executado, já que os PMs o acusavam de roubar carneiros da fazenda em que o lavrador trabalhava.

Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h04
Durante relato feito em uma rádio da cidade, o lavrador contou que foi levado por policias para ser morto, no dia em que os mesmos PMs levaram o comerciante Marcos Santos, para também ser assassinado. / Foto: Reprodução/TV Mirante.

BACABAL - O lavrador José de Ribamar Neves Leitão, que estava desaparecido desde o dia 1º de fevereiro, foi encontrado na madrugada desta segunda (8). O homem afirma que ficou uma semana escondido no mato, pois havia sido levado por policiais militares para ser executado, já que os PMs o acusavam de roubar carneiros da fazenda em que o lavrador trabalhava. Riba contou que os policiais acusavam ele de ter roubado os carneiros e vendido para o comerciante.

Veja o relato completo do lavrador José de Ribamar Neves Leitão


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Entenda o caso

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Durante relato feito em uma rádio da cidade, o lavrador contou que foi levado por policias para ser morto, no dia em que os mesmos PMs levaram o comerciante Marcos Santos, para também ser assassinado. José de Ribamar, que é conhecido como “Riba”, afirmou que viu o comerciante ser torturado e morto pelos policias, sendo que o genro do dono da fazenda fez parte da execução.

“Na manhã de segunda-feira eu fui trabalhar, trabalhei até meio dia, quando cheguei do serviço, estava seu Gilberto falando com o sogro dele, fomos almoçar e ele disse para o Everaldo que ia me levar para o São Sebastião buscar sementes. Aí ele me levou de carro para uma rua sem saída, onde uma outra pessoa chegou em um carro. Aí o policial me disse que a gente não ia buscar sementes. Aqui é sobre os carneiros, porque eu já puxei a tua ficha todinha e com quem tu trabalhava. Tu trabalhava com Marquinho e eu sei que tu roubou esses carneiros e vendeu pro Marquinhos”, relatou o lavrador.

Riba disse que afirmou para o policial que não tinha roubado carneiro nenhum, pois tinha passado o dia procurando os animais. O lavrador relatou quem mesmo após ter negado o crime, ele teve as mãos e os pés amarrados pelos policiais, foi espancado e depois jogado no porta-malas do carro.

Lavrador, morte de comerciante, tortura, execução, policiais militares, Bacabal

“Aí o sargento (Pinho) chegou e já foi logo batendo na minha cara, já foi logo me esmurrando. E me amarraram as duas mãos e os pés, me derrubaram no chão, o sargento Pinho sentou em cima de mim e o seu Gilberto agarrou na minha garganta”.

Após ser jogado na mala do carro, o lavrador relatou que os policiais foram até o comerciante Marcos e o colocaram no carro também. Riba conta que depois os PMs puxaram a garganta de Marcos e desferiram socos no rosto do comerciante. Os policiais amarram os pés de Marcos, jogaram água no rosto dele, mandaram uma pessoa pular em cima da barriga e dos peitos do comerciante e depois colocaram um pano no rosto dele e começaram a jogar água.

“Eles foram matando ele asfixiado. Eles não davam chance nem dele falar, nem para ele se explicar. Molharam uma camisa e começaram a bater na cara dele até que ele parou de respirar e não resistiu. Aí ele disse, agora que esse aqui morreu e esse daqui ainda está vivo, vamos levar ele para matar lá no São Sebastião”, disse.

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O lavrador contou que ouviu os policias combinarem de levar ele para uma fazenda, para simular um confronto entre ele e os policiais, para justificar a morte do lavrador, que seria morto a tiros.

“Aí disseram, ajoelha. Aí eu disse, pelo amor de Deus, não me mata, eu tenho minha família. Ele disse, aqui não tem negócio de Deus não, de família, tem negócio de filho aqui não, tu vai morrer, tu tem que morrer. A única prova é tu. Aí eu pedi pra Deus, me ajoelhei, aí ele colocou a arma na minha cabeça, quando ele apertou o dedo a arma não disparou. Nessa hora eu corri, eu criei forças na minha perna e corri. Nessa hora eles começaram a atirar, deram uns dez tiros atrás de mim. Eu passei a noite todinha correndo, com eles atrás de mim. Eu não podia sair de onde eu estava escondido, para poder ir numa casa beber uma água, porque eles já estavam atrás de mim para me matar”, relatou o lavrador.

O secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela, foi até Bacabal para ouvir o depoimento do lavrador.

“Ainda bem que ele foi encontrado com vida e pronto para ser ouvido e falar oficialmente sobre esses fatos. Muito importante ele ter sido localizado, porque teremos o conjunto de quem estava no cenário das circunstâncias desse fato e que poderá narrar livremente tudo aquilo que precisa ser coletado dentro do inquérito policial e encaminhado ao poder judiciário”, informou o secretário.

Policiais estão presos

Os cinco policiais militares suspeitos do assassinato do comerciante Marcos Santos estão presos na capital, desde a semana passada, após a polícia encontrar o comerciante morto. São eles, o tenente Pinho, o sargento Custódio e os cabos Robson, Rogério e Henrique. Eles foram ouvidos e transferidos para o presídio da Polícia Militar em São Luís.

Imagens de câmera de segurança mostram a vítima entrando em um carro com os PMs à paisana na tarde de segunda-feira (1º). O vídeo mostra que é o tenente Pinho quem conduz o comerciante para dentro do veículo. Depois do ocorrido, a vítima ficou desaparecida. O corpo foi encontrado no dia seguinte com marcas de tiros e sinais de violência, em estrada que dá acesso ao município São Luís Gonzaga.

Imagens de câmera de segurança mostram a vítima entrando em um carro com os PMs à paisana na tarde de segunda-feira (1º). O vídeo mostra que é o tenente Pinho quem conduz o comerciante para dentro do veículo. Depois do ocorrido, a vítima ficou desaparecida. O corpo foi encontrado no dia seguinte com marcas de tiros e sinais de violência, em estrada que dá acesso ao município São Luís Gonzaga.

Na terça-feira, o lavrador José de Ribamar Neves desapareceu e, segundo o pai dele, o filho havia sido levado pelo sargento Custódio.

O tenente Pinho estava com ferimento de tiro na perna e afirmou, em depoimento à polícia, que foi ferido em confronto com supostos ladrões. Em depoimentos, os militares suspeitos do crime disseram que investigavam roubo de carneiros na região.

“Tudo que foi dito como versão da parte dos agentes públicos de segurança, policiais, não está se configurando como realidade material”, disse, em entrevista à TV Mirante, o secretário estadual de Segurança Pública, Jefferson Portela, que acompanha o caso de perto.

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