Presidentes da Academia Maranhense de Letras
O advogado, jornalista e acadêmico José Carlos Sousa Silva acaba de publicar livro — como se diz — deveras auspicioso: Presidentes da Academia Maranhense de Letras (São Luís: Edições AML, 2024), em muito bem cuidada edição do escritor.
O advogado, jornalista e acadêmico José Carlos Sousa Silva acaba de publicar livro — como se diz — deveras auspicioso: Presidentes da Academia Maranhense de Letras (São Luís: Edições AML, 2024), em muito bem cuidada edição do escritor, economista e acadêmico Lino Raposo Moreira. O livro — que recebi com a costumeira dedicatória afetuosa do Autor — parecerá a muitos, pela magreza das suas 62 páginas, trabalho pouco ambicioso. A bem da verdade, a sua extensão não lhe faz justiça, nem lhe dá a medida correta.
A Academia Maranhense de Letras é das mais antigas entre as suas congêneres brasileiras. A Academia Brasilera, a do Machado de Assis, baliza incontornável das demais, foi fundada a 20 de julho de 1897. Não é, porém, a mais antiga. A Academia Cearense de Letras, fundada em Fortaleza, é de 15 de agosto de 1894.
Logo na primeira década do século XX, foram sendo constituídas as academias estaduais: a Paulista é de 27 de novembro de 1909; a Pernambucana, de 26 de janeiro de 1901; a Mineira, de 25 de dezembro de 1909. A Academia Maranhense de Letras foi fundada por oito homens de letras dentre os mais eminentes da velha Província no dia 10 de agosto de 1908, no salão nobre da Biblioteca Pública do Estado, que então funcionava no belo sobrado alpegado ao Convento do Carmo, na Rua da Paz — sobrado que, desde 1949, serve de sede à veneranda Academia.
Cuidando em homenagear o mais agitado dos seus fundadores, passou a ser conhecida também por Casa de Antônio Lobo. Antes tivéssemos homenageado aquele sem cuja tenacidade a iniciativa não se teria consolidado: o historiador, pesquisador e professor José Ribeiro do Amaral, que presidiu a Academia deste o ato de sua fundação até o dia 30 de abril de 1927, quando veio a falecer. Historiador de muitos títulos e méritos, como se dizia. Possivelmente o maior de sua época. Quando o Instituto Histórico e o Geográfico Brasileiro comemorou o primeiro centenário da Independência do Brasil, e para tanto coordenou a publicação de um Dicionário histórico, geográfico e etnográfico do Brasil, foi a Ribeiro do Amaral que a velha Casa pediu redigisse uma ampla monografia sobre o Maranhão, a ser publicada, em forma de verbete, no Dicionário, saído a lume em 1922, no Rio de Janeiro, em dois volumosos tomos.
Depois das importantes administrações de acadêmicos como Mário Meirelles, José Sarney, Luiz Rêgo, entre outros, a Academia Maranhense passou por uma nova fundação, sob a reitoria intelectual de um dos mestres fundamentais da nossa cultura e das nossas letras: o escritor, historiador e editor Jomar Moraes. Ainda está por se escrever o livro que conferirá a devida justiça aos serviços de Jomar Moraes ao Maranhão e, por extensão, ao Brasil. Muito lhe devem os Gonçalves Dias, os Sousândrade, os Odorico Mendes, os Henriques Leal, os César Marques, afora muitos outros, que encontraram em Jomar Moraes o seu editor infatigável, o seu mais estrênuo defensor junto à posteridade. Que outra aspiração pode ter o editor cioso de seu labor senão a de ser o defensor perante a posteridade de alguns amigos que sequer conheceu pessoalmente e que são os seus autores? Da mesma forma, Jomar Moraes foi o grande defensor da Academia Maranhense em face de seu tempo, pois não descansou enquanto não a viu desfrutar do status de respeitabilidade social e prestígio cultural que lhe cabiam e que lhe cabe. Se a Academia tem como plenamente consolidada a sua condição de entidade máxima da cultura maranhense, é que teve no admirável biógrafo de Gonçalves Dias o melhor de seus amigos.
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Falando em editor, o editor deste precioso livro do advogado José Carlos Sousa Silva também integra, não por acaso, o panteão dos dezenove presidentes da Casa de Antônio de Lobo. Sua gestão se deu em situação importantíssima — cabia-lhe sustentar o timão da Academia no ano de seu centenário. Quem tem boa memória, como eu, lembra-se decerto do cronograma de publicações e eventos daquele já longínguo ano de 2008, de que o grande marco foi a tão aguardada reedição do Dicionário histórico–geográfico da Província do Maranhão, de César Augusto Marques (3ª ed., São Luís: Edições AML, Coleção Documentos Maranhenses, 2008), repositório indisputável de informações sobre o Maranhão, e que conheceu novamente a luz pública em edição crítica de Jomar Moraes — labor que lhe tomou mais de uma década —, que a anotou profusamente, e com índice remissivo do presidente Lino Raposo Moreira; aliás, sem o indispensável índice de nomes e de temas, a edição acabaria por se tornar um monstrengo praticamente inútil, de vez que obras como a de César Marques são, antes de mais, trabalhos de consulta, não tanto de leitura linear. Um feito editorial que honra as nossas letras históricas.
Já nem falo — porque ocioso — da obra de escritor e de articulista de Lino Raposo Moreira. O seu estudo sobre “Os entraves de Gaioso” — contido no volume Dois estudos econômicos (São Luís, 2003), com apresentação de José Sarney e prefácio de Joaquim Itapary — honra qualquer biblioteca de história econômica. Já lhe disse que pretendo reeditar o livro, dentro da Coleção Ensaios Brasileiros, da minha Livraria Resistência Cultural Editora.
A Academia contou, ainda, com as operosas gestões dos presidentes Mílson Coutinho, Benedito Buzar e Carlos Gaspar, autores de bibliografia consagrada sobre as coisas do Maranhão. O saudoso Mílson Coutinho se fez o grande historiador das nossas instituições políticas, com livros clássicos sobre os poderes Judiciário e Legislativo. Buzar é o historiador por excelência do chamado vitorinismo — em referência ao senador Victorino Freire, que comandou a política no Maranhão entre as revoluções de 30 e 64 —, a que dedicou o livro definitivo. Carlos Gaspar deu-nos recentemente a bela biografia O senhor Fran Paxeco (São Luís: Edições AML, 2024), que li com grande prazer e sobre a qual ainda escreverei algumas impressões neste espaço.
O atual presidente — igualmente mencionado na obra de José Carlos Sousa Silva — é outro acadêmico a quem são dispensadas as apresentações: refiro-me ao escritor e magistrado Lourival Serejo, cuja obra de ficcionista, poeta e ensaísta é por todos conhecida e louvada. O alto nível das comemorações, em 2023, do bicentenário de nascimento de Gonçalves Dias dá bem a medida de seu carinho pelas coisas do Maranhão. Tive a honra de reeditar-lhe o Aluísio Azevedo sempre (São Luís: Edições AML, 2013; 2ª ed., São Luís: Edições Serejo, 2019; 3ª ed., São Luís: Livraria Resistência Cultural Editora, Ensaios Brasileiros, 2024), reunião de seus mais importantes estudos sobre o autor d’ O mulato. Esta reedição contou com o prefácio do professor Jean-Yves Mérian, autor da mais completa biografia de Aluísio Azevedo.
Pois muito bem, meu caro leitor, mais não digo porque mais não devo dizer — Presidentes da Academia Maranhense de Letras é obra de grande homem de letras, de acadêmico apaixonado pela Casa de Antônio Lobo e sabedor das nossas coisas. Obra já integrada à bibliografia maranhense. Meus cumprimentos ao Autor e ao Editor.
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