COLUNA

Gabriela Lages Veloso
Escritora, poeta, crítica literária e mestranda em Letras pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Gabriela Lages Veloso

Poesia e Liberdade

Em 2022, Pedro Albuquerque publicou o seu primeiro livro, exTratos Dramáticos, pela editora portuguesa Cordel D’ Prata.

Gabriela Lages Veloso

Atualizada em 09/05/2024 às 15h48
Livro exTratos Dramáticos, de Pedro Albuquerque

O escritor e poeta português Pedro Albuquerque nasceu em 1992, na cidade de Aveiro. Desde cedo mostrou interesse pelas artes. Começou pela pintura, pouco depois sentiu a urgência de se comunicar por escrito. O seu amor pela literatura chegou antes mesmo de aprender a escrever, por isso, ele pedia à sua família que pudesse no papel aquilo que lhe vinha à alma.

Aos seis anos, adentrou no mundo da poesia, concorreu em alguns concursos distritais e deu início a um período regular de declamações. Posteriormente, criou um blog e manteve-se ligado a outras formas de escrita. Mestre em Engenharia e Design de Produto pela Universidade de Aveiro, trabalhou alguns anos na área até que decidiu não mais largar os livros e seguir, integralmente, a sua carreira de escritor.

Ilustração: Bruna Lages Veloso

Em 2022, Pedro Albuquerque publicou o seu primeiro livro, exTratos Dramáticos, pela editora portuguesa Cordel D’ Prata. A obra foi escrita quando o autor tinha 22 anos, no entanto, foi publicada apenas 8 anos depois. Com um gênero híbrido, exTratos Dramáticos (2022) reúne 62 textos que oscilam entre a poesia e a prosa (poética), entre o poema e a crônica. 

O livro exTratos Dramáticos (2022) é subdividido em duas partes, respectivamente intituladas: “amores e despresenças” e “outros intervalos”. Se por um lado, a primeira seção traz temas que remetem ao Romantismo, por outro, a segunda parte alcança a contemporaneidade. Ou seja, a obra parte dos clássicos até chegar ao tempo atual e isso, sem dúvida, enriquece o/a leitor/a.

Ao longo das seções, o autor presta homenagem à poeta Sophia de Mello Breyner Andresen e ao músico e ativista político José Mário Branco, militantes antifascistas, importantes para a Revolução dos Cravos, e artistas fundamentais no que concerne à luta pela liberdade e ao amor pela arte e pela vida — temas esses basilares no livro de Pedro Albuquerque. 

Na primeira seção do livro, intitulada “amores e despresenças”, são abordadas temáticas como a saudade, os limites entre a ausência e a presença, a vida e a morte, o amor e o desgosto, a dor da partida e a expectativa do regresso da pessoa amada. Como foi citado anteriormente, essa parte remete ao Romantismo, por apresentar o subjetivismo, o amor idealizado e o sentimentalismo exacerbado, tal como é possível notar no seguinte poema:

 

Para me perder

Leve-me

Leve-me daqui, contigo

Leve-me sem que tenhas de me devolver

Se houve vontade, decerto haverá vez

 

E eu sei que esse coração é catarata, sangrando neste leito

E eu quero que me leves em tuas correntes, para me perder.

(Albuquerque, 2022, p. 22).

 

Chegando à segunda seção, intitulada “outros intervalos”, somos transportados para o mundo contemporâneo. Nessa segunda parte do livro, o idealismo sai de cena e dá lugar ao realismo. Notamos que há uma digressão do sentimentalismo e uma maior aproximação com a objetividade. São tecidas diversas críticas sociais a respeito da poluição, miséria e desigualdade, assim como podemos observar no poema a seguir:

 

Lisboa doente

Lisboa dos pobres e dos sem-vez

Nas tuas ruas sujas, a roupa dos dias estendes

Pelos bancos ferventes da Liberdade a vida vês correr

Abre os olhos, Lisboa

És da altura das grandes sequoias

Os teus prédios são iluminados pelo fogo dos céus

E como chita banhas-te no estuário sem desculpas

Lisboa, ou és ou não és

Das tascas e dos Zés

Não peças esmola

O troco e a côdea da broa de trigo da ralé

Lisboa, não cai bem

A sopa das horas e os jaquinzinhos serves doente

No teatro escuro do Sodré

Onde te encontro, Lisboa, não és

Lisboa, isto devagarinho não é assim tão longe.

(Albuquerque, 2022, p. 64).

 

“Desbravando o jardim das palavras”, “se segue/ Se descose e se lê” este livro que parte de um dia repleto de amor e saudade (semelhante a um fado) e desemboca no mar, em uma noite de luar. Mas onde está a liberdade da qual tanto falamos? É bem simples. A liberdade advém do conhecimento. Somos livres ao conhecermos a realidade, os dois lados da vida: o mais doce, ideal; e o mais amargo, real. Ao longo da leitura de exTratos Dramáticos (2022), de Pedro Albuquerque, notamos um alargamento de horizontes. “Entre nós um oceano” que é transposto pelo poder da palavra.

 

REFERÊNCIA:

ALBUQUERQUE, Pedro. exTratos Dramáticos. 1 ed. Carnaxide, Portugal: Cordel D’ Prata, 2022. 

As opiniões, crenças e posicionamentos expostos em artigos e/ou textos de opinião não representam a posição do Imirante.com. A responsabilidade pelas publicações destes restringe-se aos respectivos autores.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.