Carnaval 2012

Tecnomacumba no sambódromo do Anhembi

Projeto da cantora maranhense Rita Ribeiro será aprentado pela Unidos de Santa Bárbara.

O Estado

Atualizada em 27/03/2022 às 12h26

SÃO LUÍS - O projeto Tecnomacumba da cantora maranhense Rita Ribeiro serviu como fonte de inspiração para a composição do enredo da escola de samba Unidos de Santa Bárbara. A escola faz parte do grupo de acesso de São Paulo e vai ser a terceira a desfilar na Segunda-Feira de Carnaval, no sambódromo do Anhembi. Santa Bárbara na umbanda é conhecida como Iansã.

O enredo escolhido A Fé é a minha bandeira. Sou Santa Bárbara de Pedra Pequena, a Guerreira num afro canto de amor, festa e devoção...Vou conquistar seu coração! foi construído com base no repertório do projeto desenvolvido pela cantora há oito anos.

Em entrevista por telefone a O Estado, Rita Ribeiro confirmou a sua participação no desfile da agremiação paulista e também no Carnaval do Rio de Janeiro, no qual ela participará do desfile da Beija-Flor de Nilopólis, que homenageará São Luís. Na escola fluminense, a cantora ocupará um carro alegórico com artistas maranhenses, entre eles, a cantora Alcione.

Mesmo se considerando mais uma expectadora a uma foliona propriamente dita, Rita Ribeiro afirma que esse período será especial, pois participará de dois desfiles que se tornam importantes não somente pela festa em si, mas pela simbologia sentimental que ambos representam. “Eu já moro há 11 anos no Rio de Janeiro e nunca fui ao Sambódromo, sempre brinquei com meus amigos que minha estreia seria desfilando e será mesmo.Quanto à Unidos de Santa Bárbara, é lindo ter um projeto tão especial como o Tecnomacumba servir de inspiração para essa ópera aberta que é o Carnaval. Só tenho a agradecer aos meus guias, aos meus orixás”, diz Rita Ribeiro.

O primeiro contato da escola com a cantora aconteceu em março de 2011, depois do Carnaval.

Como a origem da Unidos de Santa Bárbara tem uma ligação direta com terreiros de candomblé, a afinidade com Rita Ribeiro foi imediata. A artista fez questão de contribuir também para a construção do enredo, conhecendo um pouco da história da agremiação, e acompanhar a concretização do trabalho. “Eu fui visitar o barracão da escola e recebi uma homenagem linda e que me deixou bastante emocionada em perceber que hoje o Tecnomacumba é um projeto popular que caminha sozinho. Eu não tenho ainda a dimensão do que será participar de um evento tão bonito como esse”, assinala.

Inovador - Com o projeto, Rita Ribeiro é uma das poucas cantoras da atualidade a incluir no repertório ritos do candomblé e segue um caminho traçado por Clara Nunes na década de 1970, quando a artista converteu-se à umbanda e decidiu exaltar os ritos em suas canções. Rita também tem a religiosidade muito forte e que já se refletia na música, antes mesmo da gravação do projeto. Em 1997, no seu primeiro disco, ela gravou a canção Jurema.

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O Tecnomacumba surgiu em um período de transição em sua carreira. Após encerrar o contrato com a gravadora, ela decidiu se dedicar a realização de pesquisas musicais, entre elas, estava o projeto sobre os ritos africanos. Quando ganhou consistência, a ideia inicial era apenas a realização de shows independentes, resultado da intervenção cultural que consistia na junção das batidas eletrônicas com o som tocado em terreiros de umbanda e candomblé. Os primeiros shows foram realizados no Rio de Janeiro e depois a proposta foi levada para temporadas em outros estados. Em 2005, ganhou o Prêmio Rival Petrobras de Música na categoria melhor shows. No ano seguinte, foi registrado em CD gravado em estúdio.

Em 2009, Rita Ribeiro lançou em DVD e CD o álbum Tecnomacumba - a tempo e ao vivo, que contou com participação de Maria Bethânia e nos extras depoimentos de Alcione, Ney Matogrosso, Ângela Leal e Jean Wyllys. Por esse trabalho, Rita Ribeiro ganhou o prêmio de Melhor Cantora - Categoria Canção Popular no 21º Prêmio da Música Brasileira, em 2010.

Tecnomacumba é referência musical

Com várias premiações, boas críticas e admirado por outros artistas, a exemplo de Caetano Veloso, que já fez diversos elogios públicos à maranhense, o projeto Tecnomacumba se consolidou como uma referência musical. Rita já tentou encerrar oficialmente esse trabalho para shows em 2007, mas pela repercussão que ele tinha, apelos do público e uma espera pela crítica, a artista retomou as apresentações. O projeto ganhou força e está há oito anos em cartaz como show, um tempo que é considerado uma raridade no Brasil, em se tratando de música.

Para ela, a popularização do projeto é uma vitória dos cultos afro-brasileiros que ainda guardam resquícios de preconceitos e intolerância, por isso, em muitos estados ainda acontece de forma muito velada. Segundo a artista, no início do projeto, depois de lançado, o registro em CD recebeu críticas duras. O repertório havia sido visto com estranheza por diversas pessoas. “Hoje, eu fico muito feliz pelo projeto ter ganhado a força que ele tem, a despeito de qualquer formação hipócrita que nos força a ignorar a importância da influência africana na nossa cultura”, desabafa.

Para a artista, a sua proposta foi trazer à tona a beleza da mitologia africana e permitir que as pessoas possam refletir sobre a importância da influência negra no país, presente na culinária, no vocabulário e em outros aspectos do cotidiano. “Ignorar a importância da cultura africana é algo que eu não vou admitir. É impossível negar essa riqueza. Como reflexo da escravidão, esses cultos passaram a ser escondidos, acostumou-se a disfarçar e isso foi se perpetuando com o tempo”, ressalta.

Neste ano, a artista pretende expandir as fronteiras do projeto musical que deverá ser apresentado em outros países (no ano passado, ele já foi levado para shows na África). “Esse é um desejo já antigo meu, nós estamos nos organizando e eu não gosto muito de adiantar quando ainda faltam alguns detalhes, mas é essa a nossa intenção”, adianta.

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