Cultura

Um bom retorno a Benedito Leite

O monumento passará por uma restauração; anúncio foi feito pela Prefeitura de São Luís e Iphan

José Marcelo do Espírito Santo* / Especial para o Alternativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
A estátua de Benedito Leite
A estátua de Benedito Leite (estátua de benedito leite)

São Luís - Uma das principais obras artísticas públicas de São Luís, o monumento em homenagem a Benedito Leite, será restaurado. O anúncio foi feito pela Prefeitura, que conta com apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para buscar a autenticidade daquela obra de arte, um dos principais elementos presentes no conceito patrimonial restaurar. É digno de nota a ação municipal, acompanhada por campanha de conscientização contra o vandalismo que tem cercado a arte pública na cidade.

O mesmo monumento foi alvo em 1995 de uma intervenção danosa, quando numa tentativa de limpeza sua pátina original foi retirada abrasivamente, alterando a cor original da peça e deixando o bronze exposto. Em 2017 uma peça ornamental também em bronze da base do monumento foi roubada e posteriormente resgatada pela Guarda Civil Municipal. Se considerarmos a competência dos técnicos públicos envolvidos e a competência da empresa contratada, teremos em breve o monumento completo, a exceção de sua cor.
A pátina (tratamento químico de proteção do bronze contra a corrosão, através da aplicação controlada de ácidos), define uma cor específica ao bronze, escolhida pelo artista/autor, que coordena este processo. Faz parte, portanto, da autenticidade da obra e deve ser respeitada.

Recuperar a cor original do bronze no Benedito Leite não é impossível, porém de difícil e trabalhosa operacionalização (só o bronze tem 2,70m de altura). Oportuno seria, pelo menos, a proteção do metal, mas sem alteração drástica de sua cor, pois clarear ou escurecer ao extremo a obra prejudicaria sua leitura visual. Devemos lembrar que as últimas intervenções em obras de arte públicas de São Luís não observaram a autenticidade presente nas peças: João Lisboa ficou reluzente, dourado após a última intervenção; os bustos da Praça do Panteon, que apresentavam cada qual sua pátina e cor original, foram recobertos por proteção na cor preta, igualando todas as obras.

Fundida e inaugurada em praça pública em 1911 com pompa e circunstância registrada em livro (A Estátua de Benedicto Leite. São Luís: Imprensa Oficial, 1912), a obra é de autoria do escultor francês Louis-Émile Décorchemont (1851-1921), formado na Academia de Belas Artes e professor de escultura da Escola de Artes Decorativas (hoje Escola Superior de Artes Decorativas), ambas em Paris. O comerciante ludovicense Alfredo Teixeira fez a encomenda ao artista na capital francesa em nome do governo do Maranhão, após intermediação do Embaixador do Brasil em Paris Gabriel de Toledo Piza e Almeida e de indicação do pintor Étienne Dujardin-Beaumetz, Sub-Secretário de Estado das Belas Artes da França. Antes da inauguração o governo maranhense recebeu do artista uma maquete do monumento, cuja figura em gesso do homenageado foi preservada (pelo menos lá estava até o início dos anos 2000) na escadaria principal da Escola Modelo Benedito Leite, zelosamente mantida pelas professoras daquela instituição.

O monumento é alvo de “estórias-para-contar-aos-turistas”: “ele foi colocado de costas para o casario pois não se dava com os moradores, seus inimigos políticos” ... “a estátua não possui uma mão pois Benedito Leite proferiu, quando Governador, a frase Prefiro cortar a mão a assignar a supressão da Escola Normal ou da Modelo”. O engenheiro Anísio de Carvalho Palhano (que implantou a obra) jamais colocaria o homenageado de costas para a entrada da praça e sua mão está lá, cruzada por baixo do outro braço.

A obra deve sim ser lembrada como referência da influência francesa sobre a produção artística local, regional e nacional na virada do séc. 19 para o séc. 20, com significativa qualidade plástica e técnica: a peça foi executada pela fundição Edmond Capitain-Geny et Cie., herdeira de uma tradição em bronzes artísticos desde 1831 e responsável, assim como Décorchemont, por inúmeros monumentos públicos hoje preservados.

Que outros monumentos tenham a mesma atenção do Poder Público. Das 72 obras que sobraram na cidade, entre as 97 obras implantadas em toda a sua história, segundo dados do Guia de Arte Pública de São Luís, ainda inédito, produzido pelo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre História da Arte e da Cidade (GEPHAC-UFMA/CNPq), muitas necessitam do mesmo cuidado, reconhecimento e compreensão por parte da população.


* José Marcelo do Espírito Santo é arquiteto e professor (UFMA), doutorando em História (PPGHIST-UEMA) e Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM)

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