Em tempos de pandemia, cuidar da saúde é um assunto em pauta e é abordado em todos os seus aspectos. A Covid-19 tem causado muito estresse e medo, como a perda de entes queridos, o sofrimento do luto, o distanciamento e o isolamento social, o receio em ficar doente e de se curar quando foi infectado, as consequências econômicas, entre outras particularidades de cada pessoa. O isolamento social é importante, mas isso não se aplica à saúde.
Por conta de tudo isso, nos últimos meses, houve reduções drásticas em procedimentos de saúde de diversas áreas, chegando à queda de 2,8 milhões de cirurgias eletivas no país. E, por fatores comportamentais, exames — como os feitos para detectar tumores — chegaram a cair a até 90%. O impacto foi grande. Cardiologistas, por exemplo, estimam que o número de pessoas aguardando para realizar cirurgias cardiovasculares dobrou ao longo da pandemia, o que rendeu um ano a mais de espera na fila pela operação.
Levantamento da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) em grandes hospitais mostra que quase todas as etapas de cuidados de saúde do coração foram comprometidas: exames para diagnosticar problemas caíram 23,4%. Internações, cirurgias e consultas ambulatoriais também reduziram. Uma tragédia.
Com base em dados do Sistema único de Saúde (SUS), a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), aponta que teve 69,9% menos cirurgias do que nos 12 meses anteriores. Segundo a entidade, trata-se de um cenário preocupante, uma vez que a obesidade pode vir a agravar inclusive o risco para infecções pelo coronavírus.
No entendimento do presidente da SBCBM, Fábio Viegas, o efeito é incomensurável. O SUS já passa por um cenário deficiente de cirurgias bariátricas, o número antes da pandemia já era abaixo da necessidade e impactará na piora da saúde dos pacientes, desencadeando diabetes, hipertensão e câncer de mama. A obesidade é fator de risco para todas essas doenças.
Os transplantes também chamam a atenção — reduziram 24,8%. Com importante destaque para o transplante de rim (com doador vivo) que caiu 62%, o de córnea com redução de 52% e de coração, 21%, conforme levantamento do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). Os especialistas explicam que, para além da fila que se avoluma no sistema de saúde, há ainda os prejuízos em saúde causados aos pacientes que precisam esperar (ainda) mais para a realização dos procedimentos.
Questionado sobre o assunto, o Ministério da Saúde informou que a organização e definição dos critérios regulatórios que garantem o acesso do paciente aos procedimentos eletivos são de responsabilidade das gestões locais de saúde, estaduais, municipais e distrital.
Além da falta de disponibilidade dos hospitais, os pacientes — sobretudo quem tem fatores de risco para a Covid — tinham medo de procurar o serviço de saúde e se infectar. Parte da população que tem o diagnóstico positivo para o vírus HIV, por exemplo, deixou de buscar unidades de saúde para monitorar o tratamento — que dura a vida toda.
O impacto pode ser visto na queda dos exames que medem linfócitos do tipo T-CD4 (células de defesa) e o que determina a carga viral. A redução foi de 32,8%. José Valdez Madruga, da Sociedade Brasileira de Infectologia, explicou que o abandono do tratamento abre brechas para a chegada de doenças oportunistas, que podem deixar sequelas graves ou levar à morte.
E como a Covid-19 ainda domina o noticiário nacional, um estudo do Instituto Emílio Ribas, de São Paulo, evidenciou mais uma vez a importância da vacinação. A pesquisa apontou que a cada dez internados com coronavírus, nove não estavam vacinados. Além disso, a probabilidade de morte pela doença foi catorze vezes maior entre os não imunizados. Metade dos não vacinados precisou de UTI”, segundo o levantamento. Neste ano, 1.172 pessoas foram internadas no Emílio Ribas com Síndrome Respiratória Aguda Grave associada à Covid-19. Entre elas, 1.034 não estavam vacinadas.
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