Homenagem

Venha ser feliz em São Luís

Luiz Thadeu Nunes e Silva*/ Especial para O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Luiz Thadeu Nunes e Silva fala de sua relação com a cidade
Luiz Thadeu Nunes e Silva fala de sua relação com a cidade (Luiz Thadeu)

Caros amigos, talvez assim como eu, você ache o mundo muito grande, imenso, até mesmo infinito. Para falar a verdade, até eu já achei, quando ainda não tinha saído a caminhar por aí. Hoje, não acho mais. Depois de ter cruzado a soleira da porta de minha casa,-o útero que habito, atravessar a rua e ganhar o mundo, mudei de ideia. Ao andar por esse mundão de meu Deus, pisar com minhas muletas em 143 países, posso assegurar que o mundo não é tão grande assim, é até pequeno. E, para confirmar o que digo, está todo conectado, o que o torna ainda menor.

Por anos achei que Dubai, Shangai, Barrow, no Alasca; Yangon, em Mianmar; Haifa, Israel, cidades por onde andei, eram lugares tão longe, que de tão distante achava nem existiam. Ao cruzar mares, ares, oceanos e desembarcar nesses lugares, extasiado por ali estar, vi que não há lugar no mundo que não se vá, mesmo partindo de uma ilha, chamada de Ilha do Amor, debruçada e banhada pelo oceano Atlântico. Minha Ilha do Amor é distante do mundo, isolada, é considerada final de linha. Não somos passagem, nem entroncamento, moramos longe. Isso a torna singular. A Ilha do Amor é a minha casa, o meu mundo; o mundo é o meu quintal.

Terra natal é o lugar onde você aterrissa; é o lugar de onde você decola, de onde saio e para onde retorno sempre.

Quando sofri o acidente de carro, em julho de 2003, estava fora de São Luís, no interior do RN, em um táxi. O condutor irresponsavelmente ao atender o celular, perdeu o controle do carro, mudou para sempre a minha vida. Fiquei internado um mês em Natal, ao desembarcar em SL, de um voo da Varig, senti a energia dessa ilha de encantos e magia. Cheguei à minha ilha, cruzei a soleira de casa, renasci.

Aqui estão minhas raizes: nasci, casei, constitui família, procriei, nasceram os filhos. Aqui eduquei meu paladar, a memória gustativa que carrego pelo mundo, que cobra quando estou longe de nossa culinária, a melhor do mundo. Foi em São Luís aqui que formei meu conceito de mundo. Foi na biblioteca pública Benedito Leite, através dos livros, que primeiramente conheci o mundo.

Em que lugar da terra se come torta de camarão com arroz de cuxá, torta de caranguejo com arroz de toucinho, sururu com arroz de vinagreira, peixe pedra com arroz de cuxá? Mocotó, sarrabulho, galinha caipira com pirão? Por mais simples que seja a cozinha do maranhense, dali saem iguarias e manjares. Troco tiramisu e banoffe, sobremesas da moda, por sorvete de coco em casquinha de biscoito, e doces de espécies, coisas dos deuses. Além de suco de murici, bacuri, cupuaçu, tamarindo, juçara e a deliciosa Cola Jesus. Sou antigo, não me acostumo a chamar o ‘sonho cor de rosa das crian& ccedil;as’ de guaraná.

O bom de se andar pelo mundo é ver com os próprios olhos que o mundo lá fora, por mais desenvolvido e bonito seja, a beleza e formosura deles é deles, nós temos as nossas. Muita coisa acho bonita, mas nada me deslumbra. Nossas singularidades nos distingues, nos tornam únicos. Onde se come manuê com pedacinhos de côco, ou cuscuz ideal de milho e arroz que não seja aqui? Onde se conversa atoa em tarde de mormaço? Em que lugar o tempo é contado pela tábua de marés?

Como é bom e agradável aos ouvidos, ouvir um ludovicense falar. Falamos um português explicado, conjugamos verbos. Fico feliz quando as pessoas lá fora, prestam atenção quando falo e pergunto de onde sou, orgulhoso respondo: “De São Luís do Maranhão, a Ilha do Amor”. Amo ser ilhéu, da terra do caranguejo. Aqui quando se puxa um, vem outro; mantemos relações próximas uns com outros. Mesmo com a cidade já grande, mais de um milhão de habitantes, é comum perguntarmos, “Tu és filho de quem? Onde moravas antes? Estudastes onde?”.

Temos problemas? Muitos, inúmeros, alguns seculares, mas ninguém tira nossa alegria: somos comunicativos, somos musicais, somos paixão, temos cultura, folclore, encantamento. Somos simples, nos divertimos com pouco, aprendemos a ser craques na arte do bem-viver.

Há mais de um ano ilhado na Ilha do Amor por causa do coronavírus, virei turista em minha aldeia, desenvolvi o hábito de fotografa-la. Retrato o centro histórico, praias, entardeceres, os humanos que aqui vivem. São Luís, essa velha e elegante senhora que hoje completa 409 anos é muito fotogênica. Me orgulha postar suas fotos nas redes sociais e convidar amigos espalhados pelo mundo, a nos visitar, conhecer nossos encantos e magias, sempre dizendo: “Venha ser feliz em São Luís”.

Amo ser ludovicense, tenho paixão por essa abençoada terra.

Parabéns querida Ilha do Amor por seus primeiros 409 anos.

Um brinde a todos e todas que nesta terra habitam. Saúde, fé e paz.

Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes.

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