Artigo

Meu pai e meu irmão

Bruno Duailibe *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

Mesmo sem termos nascido da mesma gestação, mamãe sempre nos tratou como se gêmeos nós fôssemos, porque a nossa diferença de idade era muito pequena.

Então, quando eu e Aloisinho brigávamos, ela nos apartava dizendo em voz firme que “irmãos gêmeos não brigam!”.

E um dos atos mais marcantes que tenho da nossa união na infância foi quando certa vez a quilha da minha prancha de surf me machucou na região abdominal e Aloisinho começou a chorar como se a minha dor ele sentisse.

O certo é que eu acreditava que enfrentar a morte, depois que meu pai partiu, fosse algo mais fácil de lidar. Ledo engano.

Dói demais perder um irmão que desde a adolescência sempre precisou de muitos cuidados, principalmente em razão da depressão que tanto o castigou.

Ocorre que, por mais paradoxal que possa ser, ao mesmo tempo em que existe dor, aqui também há resignação, na mesma intensidade da morte de papai.

Estou convicto, inclusive, de que a passagem de papai tem algo a ver com a de Aloisinho, que elas estão, enfim, umbilicalmente associadas.

Não que Deus precisasse de ajuda para receber o meu irmão na Sua morada, mas digamos que a presença de papai facilitaria a chegada de Aloisinho diante da sua timidez, de modo a permitir que papai, que sempre ajudou Aloisinho aqui na terra continuasse a fazer o mesmo por ele no Céu.

Estou certo, também, de que a morte de papai foi um ato pensado de Deus.

Nunca tinha parado para refletir sobre isso. Mas, se foi Ele que criou a vida e só Ele pode tirar, então, quando ocorre uma morte, ela acontece sempre dentro do radar de Deus.

E a morte de meu irmão foi mais calculada por Ele ainda, porque creio que foi algo em que Ele parou, pensou e só depois deliberou por ela.

Um dia talvez eu saiba o seu real motivo, mas tenho absoluta certeza de que Ele sabe. E isso é o que importa.

Então, fiquem tranquilos, pois já pude sentir em mamãe - que é o nosso principal foco - e também em meus irmãos, Rodrigo e Lucas, que a morte de Aloisinho, oito meses depois da partida de papai, que tinha o mesmo nome de meu irmão, não abalará a nossa Fé em Deus, antes pelo contrário, a fortalecerá.

Nós estamos convictos de que Deus não errou. Ele, sim, nunca erra!

E a morte de Aloisinho, inclusive, fez com que eu mudasse a foto no perfil do meu Whatsapp.

A foto que está lá agora é papai no aniversário da sua querida e já falecida tia Norma, todo bonito e feliz com um copo de guaraná Jesus segurado pela sua mão esquerda.

Mudei para essa foto, porque eu penso que é com essa felicidade que papai recebeu Aloisinho no Céu.

Não se preocupem conosco queridos familiares e amigos, porque nós entendemos, repito, que a morte de Aloisinho não foi um acidente ou uma fatalidade, mas, sim, como já dito, fruto da vontade do Senhor, sem chance de questioná-Lo.

Gostaria de terminar esse texto aqui imaginando que papai ao levantar o seu braço com um copo de guaraná Jesus na mão estivesse ali, em verdade, propondo a nós um brinde ao triunfo da ressurreição dos mortos, que para além de ser o maior ato de Fé do cristianismo, é também a plenitude da nossa salvação.

Portanto, em homenagem ao meu pai e ao meu irmão, façamos um brinde à ressurreição com aquele copo de guaraná Jesus que está na mão dele! Viva!

Eu te amo papai! Eu sempre te amarei Aloisinho! E a morte de vocês não nos intrigará com o Senhor!

E que venha o tempo…


P.S – Dentro do contexto que estou propondo, o líquido gasoso cor-de-rosa que papai segura na sua mão esquerda não poderia ter nome mais apropriado.

* Procurador-Geral do Município de São Luís.

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