São Luís - Preocupado com os rumos da música maranhense, principalmente com a visibilidade dos artistas, o multi-instrumentista Chiquinho França criou o projeto “Maranhão Musical”, para torná-los conhecidos e presentes em todas as regiões do estado, além de movimentar a cadeia produtiva. Nesta entrevista exclusiva a O Estado, ele dá detalhes sobre a iniciativa e lamenta a negativa do Governo do Estado sobre uma possível parceria.
Do que se trata o projeto “Maranhão Musical”?
Consiste em um plano estadual de distribuição da produção musical maranhense para tornar conhecida e presente, em todas as regiões do estado, a produção musical diversa e qualificada de nossos músicos, intérpretes, compositores, arranjadores e toda a cadeia produtiva da música envolvida na produção fonográfica, por meio da criação e manutenção do museu online 'Maranhão Musical" e sua interação com as pessoas.
Qual o objetivo desse movimento?
O movimento “Maranhão Musical” objetiva distribuir, definitivamente, toda a produção fonográfica do estado. Serão hospedados no portal os trabalhos de todos os artistas. As músicas, vídeos, fotografias, releases e contatos ficarão disponíveis e acessíveis em pastas individuais para apreciação do público e pesquisas de todo o Maranhão, Brasil e mundo. A partir do museu, toda distribuição poderá ser realizada de forma prática e democrática para todas as rádios, TVs, agências de propaganda, bares, supermercados, aeroportos, rodoviárias, calçadões, além de servir para pesquisas escolares, professores, alunos, público e demais usuários.
Como surgiu a ideia?
A ideia surgiu a partir da constatação de que, mesmo com os vários e grandes eventos realizados pela gestão pública, ano a ano, a nossa música vem perdendo espaço no mercado a cada dia, e dentro do nosso próprio estado. Isso, simplesmente, pelo fato de não ser tocada como deveria, tornando-se um produto de grande sucesso. É impossível se gostar de algo que não se conhece.
Esse projeto terá a parceria do governo estadual?
Nós procuramos o governo, depois de dialogarmos com toda a classe artística e definirmos, de fato, o que queríamos nessa parceria. Ou seja, uma parceria que nos ajudasse a abrir mercado para a nossa música dentro do Maranhão.
Como se deu esse diálogo?
Durante os seis anos do atual governo, a primeira vez que tive oportunidade de conversar pessoalmente com o governador Flávio Dino foi em dezembro do ano passado. A conversa rendeu uma agenda em seu gabinete, no Palácio dos Leões. Só que, no dia, ele não pôde falar comigo e deixou o seu secretário de governo, Diego Galdino, e o secretário de Cultura, Anderson Lindoso, para me atenderem.
O que foi solicitado, exatamente?
Minha solicitação foi o apoio do governo na construção do Museu Online e a manutenção e divulgação do mesmo no Maranhão, Brasil e mundo. Os secretários foram bastante gentis comigo e, antes de ouvirem minha solicitação de parceria, anunciaram que o governador teria deixado autorizado um projeto para mim. Porém, deixaram claro que seria um projeto individual para mim. Eu, claro, não pude aceitar, já que estava à frente de um movimento coletivo. Isso não ficaria bem para mim, diante dos meus colegas que me têm apreço e confiança. Não poderia, de repente, aparecer sozinho num projeto apoiado pelo governo. Assim, pedi aos secretários que repassassem o apoio ao movimento. Assim, eu também sairia ganhando, já que faço parte do projeto e sou ativamente produtivo no meio musical.
Qual foi a resposta deles?
Percebi certo desânimo em seus semblantes. Porém, gostaram muito da proposta, inclusive da ideia do museu e me autorizaram a elaborar o projeto voltado para a Lei de Incentivo. Assim, convidei o compositor, poeta e escritor Josias Sobrinho, para me ajudar na elaboração. Ficamos 20 dias discutindo e demos entrada na Lei de Incentivo. Nesse mesmo tempo, tivemos uma reunião com o deputado Márcio Jerry, que olhou o projeto e nos garantiu apoio. Só que, depois dessa última reunião, o governo silenciou e se afastou, o que dificultou tudo, pois passou a não mais nos atender, nem mesmo por telefone.
E depois disso?
Nós tentamos contato de todas as formas. Aí, começamos convidar, por meio dos nossos vídeos, nas redes sociais. Foi quando o deputado Márcio Jerry me ligou dizendo que o nosso movimento era realmente "uma grande burrice" e que, desta forma, jamais conseguiríamos apoio e parceria do governador. E que o estaríamos constrangendo. Pedi ao deputado que nos informasse a forma correta para firmar uma parceria cultural com o governo, ao invés de nos desrespeitar, nos chamar de burros. Pedi, ainda, que ele procurasse fazer alguma coisa pela nossa música e nossa cultura, ao invés de atrapalhar quem realmente já faz e quer fazer. Ele desligou o celular e, em seguida, me bloqueou da sua rede social. Tristeza, devido os abraços, elogios e apertos de mãos. Eu considerava o Márcio Jerry um amigo. Uma vez, antes de ele entrar para o governo, tomando uma cerveja com ele no Bar do Léo, no Vinhais, ele me disse que tinha dois artistas no Maranhão que ele muito admirava, que seria eu e o Zeca Baleiro, pelas ousadias e criatividade. Uma decepção!
Qual a importância desse projeto para a cultura maranhense?
O sucesso da nossa música poderá alavancar consigo todos os demais segmentos artísticos e culturais do estado, já que todos os eventos dos governos estadual e municipais são realizados com música. Os eventos não são bons, porque nossa música é inédita na audição do público e não se aproveita os eventos para agregar outros produtos artísticos a serem comercializados. Nós, artistas, estamos conduzindo uma produção que vem acontecendo durante todo período de pandemia, trabalhada e bancada com vaquinhas de contribuição dos próprios artistas veteranos e novos talentos. Promovermos uma emocionante campanha estadual que envolveu emocionalmente o público, com uma linda canção interpretada de forma coletiva e um grande objetivo: subirmos no palco do coração de cada maranhense e conquistarmos, definitivamente, a paixão e o amor de todos pela nossa música. Pensamos que, desta forma, iríamos conquistar, também, o governo a vir conosco. Não sabíamos que, com isso, estaríamos ofendendo a gestão Flávio Dino, como bem falou o deputado Márcio Jerry.
Qual sua opinião sobre a negativa do governo?
Não sei muito bem. Eles se mantêm calados. Só o Márcio Jerry que se manifestou. Fui bem tratado pelo governador, pelos secretários. Porém, depois, fomos descartados de forma fria. O que acho, sei lá, é que eles não querem apoiar projetos que projetam, mesmo que venha gerar renda para o estado, pois se nós, artistas, conseguirmos sucesso e ganharmos abertura de mercado com nossa música, passaremos a não mais precisar ficar implorando por um showzinho na frente da Secretaria de Cultura. Isso é o que estamos achando que seja. Porque a ideia “Maranhão Musical” é infalível. Todas as estratégias de marketing foram pensadas cuidadosamente e com valor baixíssimo. Não chega, talvez, a 5% dos milhões gastos pela Secretaria de Cultura do Estado. Um dinheiro público que poderia ser investido na cultura e não gasto de maneira aleatória e desenfreada. Os eventos acontecem e quando acabam não deixam nada em contrapartida. E a nossa música continua desvalorizada. Está provado que isso não dá certo desta maneira.
Quais suas considerações finais?
Lamentações! Poderíamos construir muita coisa juntos, mas vamos continuar com nosso movimento buscando o apoio do público e outras formas de parcerias. Pode até demorar mais um pouco, mas conseguiremos.l
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