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José Linhares Jr é jornalista e editor de política no Imirante.com
VERDADES INCOVENIENTES

Alguém precisa falar algumas coisas sobre José Sarney

Cerimônia de entrega da medalha Manoel Beckman foi devida e justa?

José Linhares Jr

Atualizada em 21/06/2024 às 10h13

Hoje, 19 de junho, a história maranhense se dobrou ao peso de um nome: José Sarney. Recebendo a medalha Manoel Beckman, a mais prestigiosa condecoração da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, o homem foi aplaudido, reverenciado, quase beatificado pelas maiores autoridades do estado e milhares de presentes. Foi justo?

José Sarney é o maior político do nosso estado, uma lenda viva que, mesmo afastada das eleições e mandatos, ainda orienta, ainda inspira. Na semana passada, antes de receber a medalha dos parlamentares maranhenses, recebia Lula em sua residência em Brasília. O que Lula buscava? O que todos buscam quando procuram a companhia de Sarney: sabedoria. 

Hoje, 19 de junho, a Ilha Rebelde fez a confissão tão esperada de que nem o negacionismo mais brabo consegue diminuir o gigante que Sarney foi e que ainda é.

A trajetória deste maranhense de Pinheiro é uma dessas coisas que, mesmo contada mil vezes, não perde o esplendor. E cada volta e a descoberta de um fato erguido após um feito extraordinário.

O Maranhão produziu muitos grandes homens, mas nenhum como Sarney, o maior de todos, o "homem do século". E não pensem que isso é exagero; os fatos estão aí para quem quiser confrontar. Com 94 anos nas costas, cada um deles mais pleno de história que décadas de outros mortais comuns.

Pense em todos os jovens de 20 anos que conhece hoje. Pense em quantos deles podem explicar, de forma correta, a distinção entre versos e estrofes. Quantos deles carregam cultura literária que os impulsione ao lugar de bons fazedores de cultura literária. Não deve ter pensado em nenhum, creio eu. Pois bem, nessa idade Sarney já integrava a Academia Maranhense de Letras. 

Intelectual aos vinte e poucos anos. É mole?

Seu legado literário? Mais de 20 obras. Várias delas ultrapassaram as fronteiras do idioma, sendo traduzidas para diversas línguas estrangeiras.

Quer mais? Vamos lá! 

Em 2002, foi lançado o livro "Saraminda" em Paris. Entre os convidados, Claude Lévi-Strauss, um dos maiores antropólogos de todos os tempos na Terra. Naquela ocasião, Strauss tietou José Sarney e confessou sua admiração pela obra do maranhense.

A partir dali qualquer crítica à obra literária de Sarney só pode ser classificada como pura inveja.

Antes mesmo de completar 25 anos, quando muitos jornalistas ainda estão engatinhando na profissão, Sarney já era uma referência no ofício. Cobriu polícia, política, artes. Criou tendências em O Imparcial. Não tinha 30 anos.

Aos 28 anos, conquistou um assento na Câmara dos Deputados, um feito impressionante que fala de mérito e esforço, não de conexões pessoais ou favores familiares.

Os jovens de hoje, sempre tão vocais, tão cheios de palavras e hashtags contra o sistema, reclamando de tudo, sem mover uma palha para mudar o que quer que seja. Vivem num eterno loop de descontentamento, como se o mundo devesse algo a eles, como se a transformação fosse um direito adquirido, não uma luta. Navegam em mares de queixas sem fim, mimimi eterno esperando que as ondas do destino tragam soluções prontas, como pedido feito pelo Ifood.

Mas olhem, meus caros, para José Sarney na sua juventude! Antes mesmo de atingir a marca dos quarenta, Sarney não estava perdendo seu tempo teorizando sobre como o mundo é injusto. Não, ele estava fazendo. Ele foi lá e venceu o sistema. Venceu, entende? Enquanto muitos de sua idade estavam apenas começando a entender o jogo político, Sarney já estava reescrevendo as regras, já estava no campo, jogando e ganhando.

Foi eleito governador antes de fazer 40 anos. Na oposição! José Sarney era oposição! Enfrentou o todo poderoso vitorinismo, o tal do sistema, que tinha uma política de mão-de-ferro na época. Enfrentou e venceu. 

Esse é o grande contraste, meus amigos. Enquanto a nova geração parece satisfeita em apenas 'cancelar' o que não lhes agrada, Sarney, na sua juventude, já moldava a realidade ao seu redor. Com sua inteligência e visão, transformou seu entorno e emergiu não como jogador, mas como campeão. Sarney não se limitou a reclamar do sistema; ele o dominou, o transformou. E isso, isso sim é uma lição de que para mudar o jogo, primeiro você tem que jogar. E jogar para valer.

“- Ah, Linhares, mas o Maranhão...”

Quando Sarney assumiu o governo, o Maranhão era pior! Não te falaram na escola? Relaxe. Entre as funções deste tipo de texto também está a correção de mentiras contadas em salas de aula.

Na década de 1960 o Maranhão era praticamente uma terra esquecida no mapa do progresso, um lugar onde a esperança de modernidade era tão escassa quanto energia elétrica. Mas aí, meus amigos, Sarney veio e decidiu que era hora de virar o jogo.

No governo Sarney houve um aumento de 2.000% nos investimentos e o que antes era parado começou a se mexer. Imaginem só: a energia elétrica consumida em todo o estado, que mal dava para iluminar um prédio no Rio de Janeiro naquela época, explodiu de 7.500 kW para 237.500 kW. Um salto que faria qualquer país desenvolvido aplaudir de pé.

Mas não parou por aí. O Maranhão, antes marcado por estradas que não levavam a muitos lugares — apenas 13 km pavimentados, uma miséria! —, viu suas vias se multiplicarem sob o comando de Sarney. Estradas se estendendo como veias pelo corpo do estado, incluindo a emblemática BR-135, uma artéria vital ligando São Luís a Teresina. Foi um renascimento, meus caros, uma verdadeira revolução na malha viária que conectava o Maranhão ao futuro, ao desenvolvimento, ao resto do país e às oportunidades que antes pareciam distantes.

Sarney ainda conduziu a construção do Porto do Itaqui e as intervenções urbanas que São Luís tanto precisava. A capital, cercada e paralisada pelos rios Anil e Bacanga, ganhou soluções de engenharia audaciosas para a época: a ponte do São Francisco e a barragem do Bacanga, abrindo caminhos para as praias do norte da ilha e permitindo o acesso à ponta do Itaqui. 

Era como se Sarney tivesse quebrado as correntes que amarravam São Luís ao seu passado colonial e a conduzisse, enfim, rumo à modernidade que todos sonhavam.

Aliás, se todo governador que sucedeu José Sarney tivesse seguido o exemplo dele e representado o que o próprio Sarney representou para Newton Bello e o vitorinismo, quem sabe o que seria o Maranhão hoje?

Nelson Rodrigues, o profeta do óbvio ululante, sempre nos alertou: "toda unanimidade é burra". Mas ah, como é difícil aplicar essa máxima ao nosso José Sarney, que, no palco da política maranhense, transformou-se num caso raro de aclamação generalizada.

A ironia aqui é tão deliciosa quanto um copo de cerveja gelada em qualquer tarde quente Avenida Litorânea: Sarney, o homem que outrora navegava em mares de controvérsias, agora é o farol do consenso absoluto. Nesse caso específico, a unanimidade não é burrice, mas um lampejo raro de inteligência maranhense coletiva, um atestado de que, às vezes, até os mais vis negacionistas conseguem reconhecer seus verdadeiros heróis.

A homenagem de hoje foi uma sinfonia de aplausos estrondosos para Sarney. Esse mesmo que, décadas atrás, dividia opiniões, agora une todos em aplausos e reverências. É a prova definitiva de sua transformação de vilão para herói, de controverso para consensual.

E vejam só: no meio de toda essa celebração, até aqueles que forjaram suas carreiras colhendo os frutos derivados de arremessos de pedras nessa árvore, hoje batem palmas, emocionados e quase arrependidos. Sim, até eles, os críticos de outrora, não conseguiram resistir aos fatos da unanimidade sarneysista.

A comenda de hoje é um gesto que transcende a mera política – é um movimento quase poético, um reconhecimento de que, por trás das cortinas do poder, há legados que merecem ser celebrados, não com uma simples salva de palmas, mas o justo reconhecimento dedicado à memória e ao respeito.

Em São Luís, no coração da 'Ilha Rebelde', o grande filho do Maranhão foi finalmente reconhecido, provando que, mesmo na política, às vezes, a honra e o respeito podem triunfar sobre a amnésia histórica.

Sarney, a figura que antes servia como um estandarte falso de polarização por oportunistas, hoje une todos sob a bandeira do reconhecimento do mérito.

Que reviravolta, meus amigos! Que reviravolta!

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