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Coluna do Sarney
José Sarney é ex-presidente da República.
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A fome vem de longe

A história do alimento é a história do próprio homem. A primeira demanda que o homem tem para viver é justamente a de comer.

José Sarney

Atualizada em 01/05/2024 às 10h13

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A história do alimento é a história do próprio homem. A primeira demanda que o homem tem para viver é justamente a de comer. A segunda é a de manter-se em segurança. Sem ela, ele não come, como também não tem direito à habitação, à vestimenta, que são os dados fundamentais do princípio da vida. 

Agora vejo na mídia que o problema da fome voltou a ser alvo de preocupações muito grandes. O Presidente Lula, desde que assumiu a Presidência pela primeira vez, se preocupou com esse problema e já falava na obrigatoriedade de que as pessoas tivessem asseguradas três refeições por dia, café, almoço e jantar. Para isso criou vários mecanismos para ajudar a diminuir e eliminar a mais terrível das ameaças à vida, que é justamente a fome.

Eu também sempre me preocupei com o problema. Nas Nações Unidas, em 1985, logo que assumi a Presidência da República, ocupei aquela tribuna, em que o Brasil abre a Assembleia Geral, para dizer o seguinte: 

“— Para que haja paz, tem de haver democracia e liberdade. Liberdade contra a fome. O mundo não pode ter paz enquanto existir uma boca faminta em qualquer lugar da terra, uma criança morrendo sem leite, um ser humano agonizando pela falta de pão. Os alimentos não podem continuar sendo apenas mercadorias especulativas das Bolsas. A ciência e a técnica estão aí, através da engenharia genética, anunciando uma nova era de abundância. A humanidade, que foi capaz de romper as barreiras da Terra e partir para as estrelas longínquas, não pode ser incapaz de extirpar a fome. O que se necessita é de uma vontade mundial, é de uma decisão sem vetos. É urgente um plano de paz pela extinção da fome. 

O Brasil, que vive o paradoxo de ser grande produtor de alimentos, enquanto luta para eliminar do seu território os bolsões de fome, está disposto a participar com entusiasmo de um grande esforço de mobilização da comunidade internacional para eliminar esse flagelo antes do fim do século.” (Eu falava em 1985, quando estávamos perto da mudança para o século 21.)

“Este desafio poderá ser a oportunidade para que a ONU e suas agências superem o descrédito do multilaterismo, demonstrando sua eficácia e validade.”

Os que trataram do assunto depois de mim, naquele cenário, não me creditaram essas palavras.

Na Presidência da República, criei o Programa do Leite: oito milhões de crianças recebiam um litro por dia. E a UNESCO concedeu um prêmio ao nosso País dizendo que se tratava do maior programa de fome e crianças no mundo inteiro.

Agora o IBGE publica uma pesquisa PNAD, dia 26/04, mostrando queda nos níveis de insegurança alimentar no Brasil. Segundo essa pesquisa, 4,1% dos domicílios brasileiros têm insegurança grave, e esse percentual representa 8.671 milhões de brasileiros. É ainda um número assustador, mas, sem dúvida, é o maior trunfo do Governo Lula até agora, quando esse grupo de pessoas caiu cerca de 76%, passando de 15,5% para 4% da população brasileira, o que representa um dado muito positivo. Em número de pessoas, 24,4 milhões de brasileiros. É um feito extraordinário, que, não sei por quê, não tem sido explorado.

O que temos a lamentar é que, segundo o IBGE, 4,1% dos brasileiros vivem em insegurança alimentar grave. No Norte, 7,7% dos domicílios; no Nordeste, 6,2%; no Sudeste, 2,9%; e 2%, no Sul do País. Assim a desigualdade interna é gigantesca.

O Governo Lula tem o grande trunfo de ter, no seu primeiro Governo, tirado o Brasil do Mapa da Fome. Agora o desafio do Governo deve ser o de enfrentar essa desigualdade, que, aliás, vem de longo tempo, contrariando o art. 3º, inciso III, da Constituição, que preconiza entre os objetivos fundamentais da República: “reduzir as desigualdades sociais e regionais”.

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