A centralidade da biotecnologia
Recordamos um pouco a história da criação da primeira rede de doutorado do Brasil, a Rede Nordeste de Biotecnologia.
A biotecnologia desempenha um papel crucial no que estamos vivendo hoje, a chamada Quarta Revolução Industrial, que se caracteriza pela integração de tecnologias digitais, físicas e biológicas. Ela é fundamental para o desenvolvimento de terapias avançadas, como a medicina personalizada, terapias genéticas e celulares, e para a criação de vacinas e diagnósticos rápidos e precisos, contribuindo para uma abordagem mais eficaz e personalizada no tratamento de doenças.
A biotecnologia também permite o desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas que são mais resistentes a pragas e doenças, adaptadas a condições climáticas adversas e com maior produtividade. Isso, combinado com tecnologias de monitoramento e automação, resulta em uma agricultura mais sustentável e eficiente.
Uma das iniciativas mais ousadas para garantir que o Brasil se apropriasse, de forma científica, tecnológica e técnica de seus conhecimentos ancestrais foi a criação da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio). Aqui nessa região, utilizamos chá de erva cidreira, da casca de caju e inúmeros outros conhecimentos de nossos avós. A consequência de trazê-los para as universidades é que ele requalifica as tecnologias ancestrais quando, por exemplo, um gel cicatrizante é desenvolvido à base de sementes de fruta-pão e da flor-de-pavão, por pesquisadores da Rede, no Ceará.
A Renorbio foi oficialmente criada em 2004, com o objetivo de promover a cooperação entre universidades, instituições de pesquisa, empresas e governos locais para o desenvolvimento da biotecnologia na região. A rede busca fomentar a pesquisa e a formação de recursos humanos qualificados, bem como estimular a transferência de tecnologia e a inovação no setor.
Lembro da luta para fazer essa articulação naquele ano! Tínhamos poucos professores, em cada Estado do Nordeste que tinham vínculos com a biotecnologia em seus trabalhos. Ou seja, um Estado, individualmente, não conseguiria criar um programa de pós graduação. Então surgiu a ideia da Rede. Creio que tenha sido o primeiro programa de doutorado do Brasil nesse formato.
Já foram mais de 1500 teses de doutorado! Trabalhos mostraram, por exemplo, que tanto a mirindiba, o ipê-roxo e o sacambu podem ser eficazes no tratamento do câncer. Uma de minhas alunas, Analucia Terças, estudou a nossa conhecida amendoeira, que encontramos Maranhão afora. A pesquisa investigou o potencial da planta no tratamento da candidíase, utilizando diferentes metodologias.
A biotecnologia é um pilar fundamental da bioeconomia, que visa o uso sustentável de recursos biológicos para a produção de alimentos, energia e materiais. Isso inclui o desenvolvimento de biocombustíveis, bioplásticos e outros produtos biodegradáveis e eco-friendly, como os trabalhos que fizemos com o grupo da professora Audirene Amorim e Lourival Paixão, no uso do babaçu na fabricação de filmes cicatrizantes.
Ao longo dos anos, a Renorbio tem se consolidado como uma importante plataforma para a articulação de esforços em biotecnologia no Nordeste. Ela apoia projetos de pesquisa colaborativa, organiza eventos científicos, promove cursos de capacitação e contribui para a formação de uma massa crítica de pesquisadores e profissionais na área.
A Renorbio também desempenha um papel relevante na promoção do empreendedorismo e na criação de empresas de base tecnológica, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social da região. O sistema em rede é um exemplo de como a colaboração e a integração regional podem impulsionar o avanço científico e tecnológico em áreas estratégicas para o país, utilizando a infraestrutura existente nas universidades.
*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.
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