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COLUNA
Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

O Japão

Falamos um pouco sobre nossa experiência na cultura japonesa.

Allan Kardec

 
 

O embaixador do Japão, Teiji Hayashi, visitou o Maranhão na semana passada. Um filme passou em minha mente recordando a quase uma década que lá estivemos. Pensei que seria interessante pincelar, nesta crônica semanal, algumas notas dessa experiência, alguns aspectos do que testemunhei.

A história do Japão é uma rica tapeçaria de eventos que moldaram a nação insular que conhecemos hoje. Desde suas origens pré-históricas até a potência econômica global que é hoje, o Japão passou por diversas fases de desenvolvimento, cada uma com suas características e desafios únicos, que teceram aspectos interessantes de seu povo. 

Por exemplo, o primeiro programa de combate ao analfabetismo ocorreu em 1610, época em que a capital do Japão era Kyoto e Tóquio se chamava Edo. A propósito, o nome "Tóquio" em japonês é escrito com dois kanji: 東 (tō) e 京 (kyō). O primeiro kanji, 東, significa "leste", e o segundo, 京, foi importado de Kyoto, ou seja, 京 (kyō) e 都 (to). Portanto, "Tóquio" literalmente significa "Capital a Leste de Kyoto".

Se é admirável que já há 400 anos o imperador do Japão já se preocupava com a educação de seu povo, creio que o que destacaria seria a generosidade. De fato, a generosidade do povo japonês é um aspecto cultural profundamente enraizado e manifesta-se de várias maneiras. Em particular, o “omotenashi” é sobre oferecer um serviço atencioso e de alta qualidade sem esperar nada em troca. É um reflexo da importância dada à harmonia e ao respeito nas interações sociais.

Ajuda mútua e cooperação comunitária: A sociedade japonesa é conhecida pela sua ênfase na coletividade e no bem-estar comum. Em tempos de crise, como desastres naturais, o povo japonês frequentemente se une para ajudar uns aos outros, demonstrando um forte senso de comunidade e solidariedade.

No laboratório do Professor Ohnishi, meu orientador de doutorado e também do pós doutorado, era comum as viagens de final de ano. No meu ano inicial, lá pelos idos de 1998, os estudantes estavam organizando para irem para Nagano esquiar. Eu informei que tinha intenção de “comprar um som”, para o qual vinha economizando dinheiro. O organizador me questionou “você prefere comprar um som do que estar conosco?”. Fui esquiar e comprei o tal som alguns anos depois. Aprendi aí a não trocar coisas materiais por convívio e presença. Ou seja, coisas do espírito.

Os japoneses geralmente demonstram respeito e consideração pelos outros nas pequenas ações do dia a dia. Isso pode ser observado em práticas como ceder lugar para idosos no transporte público e em atitudes cuidadosas no serviço ao cliente. E se ofendem ou se assustam quando um “gaijin”, estrangeiro, tenta dar gorjetas. Afinal, servir bem é uma obrigação. 

A generosidade e o cuidado com os outros são valores frequentemente ensinados nas escolas japonesas. As crianças aprendem desde cedo a importância da colaboração, respeito mútuo e responsabilidade social. Limpar a escola é uma delas. Recolher lixo, varrer, enfim, algo que em outras culturas é entendido historicamente como para “empregados”. Lá há um provérbio que diz “endireite o galho enquanto a árvore é nova.”

O Japão possui uma forte tradição de trabalho voluntário. Muitas pessoas dedicam seu tempo livre para ajudar em causas sociais, como cuidar de idosos, limpar parques ou ajudar em desastres naturais. Existem diversas fundações e organizações filantrópicas no Japão que apoiam causas como educação, saúde e pesquisa científica. 

Quando fui selecionado para estudar lá, fui por um dos programas do Ministério da Educação, Mombusho. Para um menino que nasceu em Imperatriz e saiu de Grajaú, foi uma grande oportunidade!

Após grandes desastres naturais, como o terremoto e tsunami de 2011, milhares de pessoas se voluntariaram para ajudar na recuperação das áreas afetadas. Dar presentes é outra parte importante da etiqueta social no Japão. Os “omiyaguê” são frequentemente dados para expressar gratidão, pedir desculpas ou manter boas relações, refletindo um espírito de generosidade e consideração.

O Bushido, que se traduz literalmente como "o caminho do guerreiro", é um código de conduta e um modo de vida associado aos samurais, a classe guerreira do Japão feudal. Embora não seja um código formalmente escrito, o Bushido é uma coleção de princípios éticos que foram transmitidos ao longo dos séculos através de tradições, ensinamentos e exemplos.

O Bushido foi influenciado por várias filosofias e religiões, incluindo o xintoísmo, o budismo Zen e o confucionismo. Cada uma dessas tradições contribuiu para o desenvolvimento de seus valores fundamentais. Embora seus conceitos existissem desde o início do Japão feudal, eles se tornaram mais definidos e sistematizados durante o período Edo (1603–1868), época também do surgimento do famoso samurai Miyamoto Musashi, reverenciado também no Brasil, com vários livros escritos sobre ele.

Há muito o que falar sobre a rica cultura do Japão, mas devo parar por aqui, para não abarrotar você com minha admiração àquele povo. Encerrar com um provérbio que acho importante para a luta diária “as dificuldades são como as montanhas. Elas só se aplainam quando avançamos sobre elas.”

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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