Onde foram parar os despojos de Silvério dos Reis?
Essa é uma pergunta que me vinha fazendo faz tempo. Porém parecia de difícil resolução, pois não havia vestígios dos seus restos mortais, mas acredito que agora surgiu uma luz.
Essa é uma pergunta que me vinha fazendo faz tempo. Porém parecia de difícil resolução, pois não havia vestígios dos seus restos mortais, mas acredito que agora surgiu uma luz.
Na última quinta-feira, estava nas imediações da Igreja de São João Batista, onde o delator foi sepultado originalmente, aos 63 anos, depois de dez anos morando na capital do Maranhão - para onde veio fugindo de sua má reputação de traidor - conforme seu assento de óbito: “aos dezessete dias do mês de fevereiro do ano de mil oitocentos e dezenove, nesta cidade do Maranhão, Freguesia de Nossa Sr.ª da Vitória da Catedral, faleceu com todos os sacramentos o coronel de milícias Joaquim Silvério dos Reis Montenegro, natural da Freguesia da Sé da cidade de Leiria, Patriarcado de Lisboa [...], Cavaleiro professo na Ordem de Cristo [...], filho legítimo do Capitão José Antônio dos Reis Montenegro, e D. Teresa Jerônima Figueiredo Vidal, era casado com D. Bernardina Quitéria dos Reis Montenegro, foi armado cavaleiro envolto em o manto de sua mesma Ordem, e sepultado na Igreja de São João Batista (APEM, 1819, p. 292)”.
Aqui viveu com sua família como Coronel de Milícias do Regimento da Capitania (foi comandante de 1812/1816) e ainda teve dois filhos ludovicenses com sua esposa. O Luiz, em 1811 e o José, em 1814.
Sabia que o seu corpo foi sepultado na primeira coluna do lado esquerdo, em frente à sacristia, lá ficava seu ossuário. Localizei a coluna, embora depois das várias reformas pelas quais a igreja passou, acredito que o local ainda seja o mesmo. Parei em frente a ela e refleti se seria possível os seus restos mortais de alguma forma ainda estarem por lá, embutidos naquela coluna, mesmo depois da reforma de 1934 - período em que possivelmente a identificação (lápide) do seu túmulo desapareceu - Isso me fez retornar ao tema e a esse verdadeiro enigma da nossa história.
Então, fui (re) ler alguns velhos poucos livros e alfarrábios raros que citam a estada de Silvério dos Reis em São Luís. Até já tinha lido essas passagens, mas não tinha dado tanta importância como agora. Dessa vez, o entendimento foi outro, até porque encontrei duas citações de dois autores, renomados historiadores maranhenses, que convergem para o mesmo local.
Pois bem, chega de suspense. Há uma possibilidade plausível de os remanescentes mortais de Joaquim Silvério dos Reis, terem sido removidos após a referida reforma acima para outro templo. Podem estar em algum lugar na Igreja de São José do Desterro, no bairro de mesmo nome.
Em artigo “O traidor da Inconfidência mineira", na coluna "Quadros da vida maranhense", publicado no Jornal O Imparcial (1954), diz Jerônimo de Viveiros a respeito do local do sepultamento: "Afirma Assis Garrido ter-lhe visto o jazigo na igreja de São José do Desterro. Por lá andamos um domingo, e nada encontramos. Não temos, porém, o direito de duvidar do poder visual do poeta, por isso dizemos com ele: o traidor jaz na igrejinha do nosso amigo cônego Artur Gonçalves (Viveiros, 2019, p. 189)."
Ruben Almeida, em outro artigo, de 1949, no Diário de São Luís, sob o título de "Arruamentos de São Luís...” Se referindo à igreja do Desterro, afirma o seguinte: a "[...] ermida de São José, em honra ao seu reedificador, o preto velho José Lé, guardando os despojos do coronel Silvério dos Reis, aqui refugiado, até findar os amargurados dias, a 17-2-1819[...](Almeida, 1955, p. 64)."
Ainda segundo Jomar Moraes no seu “Guia de São Luís do Maranhão”, embora destacando a reforma de 1934, “entre as reformas por que passou a Igreja de São João Batista [...], que resultou em sua completa reconstrução”, não obstante, para ele, foi na reforma de 1958 que fizeram “a remoção do ossuário, no qual se incluíam os restos mortais de Silvério dos Reis. (Moraes, 1995, p.51)”. Porém, é mais provável que a transferência dos remanescentes mortais de Silvério, tenham se dado mesmo durante a reforma de 1934, já que os respectivos artigos de Ruben Almeida e Viveiros são anteriores a 58 - e já falam em sepultamento na Igreja do Desterro - enfraquecendo assim essa tese.
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